
Em Defesa do Cristianismo
Em Defesa do Cristianismo
Sem Dúvidas—Parte 1
1 João 5.1–3
Introdução
Vários anos após a morte do apóstolo João, Aristides tentou explicar o Cristianismo ao imperador romano Adriano quando visitou Atenas por volta do ano de 125 d.C. Seu discurso foi registrado e a carta ficou conhecida como Uma Defesa ao Cristianismo. Ela dizia:
Os cristãos convencem outros a se converterem ao Cristianismo pela forma como os amam; quando ganham outros para Cristo, eles os chamam, sem distinção alguma, de irmãos. E se existe entre eles alguém que é pobre e necessitado, os cristãos jejuam por dois ou três dias para conseguirem suprir essa carência com a comida necessária. Eles obedecem ao mandamento de seu Messias e vivem de forma honesta e sóbria, louvam a Deus por sua comida e bebida e lhe rendem graças. Tal é a lei dos cristãos e tal é a sua maneira de viver.
Da última vez que nos encontramos para estudar os últimos parágrafos em 1 João 4, vimos que o apóstolo João empregou a palavra “amor” 27 vezes. Não é surpresa alguma que esse homem, que antes tivera o apelido de “Filho do Trovão,” passou a ser conhecido como o “Apóstolo do Amor.” Ele amava o Senhor, a igreja, seus filhos na fé e também queria que os crentes amassem uns aos outros.
Todavia, João também poderia ser chamado de o “Apóstolo da Certeza,” já que ele empregará o verbo “saber” pelo menos 7 vezes em seus comentários finais em 1 João 5. Nós nos deparamos com frases do tipo: “conhecemos, sabemos, a fim de saberdes.”
O idioma grego era bem mais específico do que o português. Existem verbos diferentes traduzidos como “conhecer” ou “saber” que carregam nuanças distintas em significado. Às vezes, João usa o verbo ginosko, que significa “conhecer por meio da descoberta e da experiência.” Por exemplo, você sabe que o forno está quente porque tocou nele e descobriu a verdade dolorosa.
Outras vezes, João usará o verbo grego oida, que significa “saber com base no que foi revelado ou informado.” Sua mãe disse que não deveria tocar no forno porque estava quente. Você poderia ter adquirido conhecimento por meio dessa revelação de sua mãe; mas você decidiu tocar no forno mesmo assim. Dessa forma, aprendeu, não por revelação, mas por experiência própria. Em 1 João 5, o apóstolo usará hora um verbo, hora outro, dependendo do contexto.
Agora, independente de você ser ou não um estudante de grego, uma coisa é certa aqui em 1 João 5: o apóstolo deseja remover todas as dúvidas dos corações e mentes desses cristãos primitivos—e dos nossos também.
Ele deseja que tenhamos certeza de determinadas verdades, algumas aprendidas por meio da experiência, outras aprendidas simplesmente porque Deus diz. Se quiser dar um título ao capítulo 5, “Sem Dúvidas” seria um bastante apropriado.
A primeira verdade que João deseja nos ver agarrando com certeza é a verdade do que significa ser um crente—quem somos de fato.
Confesso que foi impossível não rir de um incidente que aconteceu recentemente num aeroporto. Um voo superlotado precisou ser cancelado; o funcionário da empresa aérea fazia o que podia para remarcar o voo dos passageiros que formavam uma longa fila naquela situação inconveniente. De repente, um passageiro furioso e irado foi até à frente da fila, bateu no balcão com seu bilhete e disse ao funcionário: “Eu preciso entrar neste avião e tem que ser primeira classe!” O funcionário respondeu: “Desculpe-me, senhor. Em breve poderei ajuda-lo, logo depois que tiver atendido esses demais passageiros.” O homem continuou com arrogância e falando alto o suficiente para todos no portão de embarque o ouvirem: “Você faz ideia de quem eu sou?” Sem hesitar, o funcionário sorriu, pegou o microfone e disse: “Atenção senhores passageiros, por favor. Temos um senhor aqui no balcão que não sabe quem ele é. Ele me perguntou se eu faço ideia de quem ele é; eu não sei. Se você por acaso, souber, por favor, aproxime-se do balcão para nos informar qual é a identidade dele.” O homem saiu dali de mansinho enquanto todos aplaudiam o funcionário.
Francamente, todos nós fazemos essa mesma pergunta, mas o mundo fica frustrado porque não possui respostas—quem somos e a quem pertencemos?
O apóstolo João não quer ver o crente com dúvidas ou apreensivo por conta daquilo que é e a quem pertence. Então, ele passa a falar de nosso “Parentesco Familiar.”
- Nosso Parentesco Familiar.
Veja 1 João 5.1: Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus. A pessoa que crê que Jesus é o Cristo revela que é regenerada. Ela pertence à família de Deus, é nascida de Deus espiritualmente. A evidência de que possui vida espiritual é que ela crê que Jesus é o Cristo.
“Crer” significa “colocar confiança em.” “Crer que Jesus é o Cristo” significa crer que Jesus é mais do que um mero homem, mas que é Deus, o Messias ungido.
É o seguinte: você jamais entenderá quem é sem antes entender quem Jesus é. Um artigo intitulado “As Convicções Assustadoras de Nossos Futuros Ministros” incluiu os resultados de uma pesquisa realizada em seminários das principais denominações dos Estados Unidos.
- Você acredita na ressurreição física? 54% disseram que “não.”
- Você crê no nascimento virginal de Cristo? 56% responderam “não.”
- Você acredita na divindade de Cristo? 89% disseram “não.”
- Você crê na segunda vinda de Cristo? 99% responderam “não.”
O problema maior em tudo isso é que essa pesquisa foi feita em 1961.
Nessa passagem, João vai além de credo com um balão ao lado para você marcar o que crê; João aponta para uma Pessoa viva!
Veja que ele usa o tempo presente na frase Jesus é o Cristo. Não que Ele era, mas que é hoje. Essa é uma implicação de Sua ressurreição—Ele é. Circule esse verbo poderoso no tempo presente: Jesus é o Cristo.
É o seguinte: sua identidade eterna e imutável em Cristo é possível somente por causa da identidade dEle como o Messias eterno e imutável.
João diz, com efeito: “Não quero ver nenhuma dúvida quanto ao seu parentesco familiar.”
- Em seguida, João continua e fala de nossa Comunhão Familiar.
Lemos ainda no verso 1: e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. João é bem claro, não é? Se você ama a Deus, então, amará Seus filhos também. Se tem comunhão com o Pai, Ele desejará que você tenha comunhão com a família inteira.
Jesus Cristo havia dito anteriormente que o mundo saberá que somos discípulos, não por causa da frequência com que oramos, quantos versos memorizamos, quantas vezes vamos à igreja. O mundo nem verá essas coisas; na verdade, existem outras religiões no mundo que se reúnem com maior frequência do que nós. Jesus disse: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros (João 13.35). Essa era a característica notável à qual Aristides se referiu quando escreveu ao imperador romano.
O zombador descrente Júlio, imperador romano, escreveu no século quarto sobre os crentes: “Seu mestre implantou neles a crença de que são todos parentes.” Eles realmente se consideram todos membros da mesma família.
E não é uma questão de compatibilidade, mas de genealogia: acontecemos de ser irmãos e irmãs nascidos de novo na família de Deus. E pense como somos todos diferentes! Como conseguiremos conviver bem juntos?
É incrível observar em Atos 11 a igreja primitiva de Antioquia, o local onde os crentes foram chamados de “cristãos” pela primeira vez. A igreja na cidade de Antioquia foi fundada e era liderada por homens de históricos étnicos, educacionais, sociais e raciais variados. E lemos em Atos 11.21: A mão do Senhor estava com eles. O pessoal de Jerusalém envia Barnabé para investigar essa igreja nova e o verso 23 nos diz que ele chega e vê a graça de Deus.
O apóstolo Paulo escreveria posteriormente aos efésios: ...também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos (Efésios 1.15).
- Uma igreja verdadeira não abre suas portas somente para membros de uma classe social.
- Uma igreja verdadeira não foca em somente uma faixa etária.
- Uma igreja verdadeira não busca uma demografia específica.
- Uma igreja verdadeira não recebe somente pessoas de uma raça ou etnia.
Isso não é igreja, mas uma vergonha à graça de Deus! E esse também não é o Evangelho. O Evangelho da graça de Deus produz harmonia em meio à diversidade. Não é uma questão de uniformidade, mas é o princípio da unidade na sã doutrina (Tito 1.9).
Na verdade, a igreja nem é considerada uma mistura de raças, mas a criação de uma nova raça. Trata-se de um grupo que se tornou raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9). Somos todos igualmente unidos pela fé, feitos irmãos e irmãs em Cristo.
Não somente compartilhamos um parentesco familiar, precisamos, também, demonstrar uma comunhão familiar. E, se você realmente ama o Pai, então, amará Seus filhos também, não importa quem são ou de onde vêm.
No decorrer de sua carta, o apóstolo João já enfatizou essa característica do amor dentro da família de Deus. Ele escreveu em 2.10: Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. Em 3.10, João adicionou: Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão. Em 4.20, lemos: Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; e somos exortados em 4.7: Amados, amemo-nos uns aos outros.
Minucius Felix, um advogado romano que viveu no século segundo, escreveu o seguinte sobre os cristãos com um tom de admiração: “Eles amam uns aos outros sem se conhecerem realmente.”
Você já descobriu essa verdade na prática? Você conhece alguém no avião, ônibus, trabalho ou faculdade e descobre que a outra pessoa é crente também. Existe uma identificação imediata, um parentesco familiar, mesmo sem vocês se conhecerem bem ainda.
Agora, no verso 2, ainda falando sobre nossa comunhão familiar, João adiciona algo interessante: Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus.
Pensamos que ele escreveria: “Nisto conhecemos que amamos a Deus: quando amamos os filhos de Deus.” Mas, ao invés disso, ele escreve o contrário: Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus.
João não tropeçou em sua pena aqui. Ele diz que a comunhão de família é um círculo: amamos o Pai e demonstramos isso quando amamos o irmão; e amamos o irmão e demonstramos isso quando amamos Deus.
João também traz à tona algo interessante aqui. Ele diz, com efeito: “Assim como não se pode amar a Deus sem amar o irmão, é impossível amar o irmão sem que você realmente ame a Deus.”
Esse é o círculo completo do amor de Deus e do amor ao próximo, e é justamente assim que conseguiremos conviver bem juntos.
Esse é o nosso parentesco de família; essa é a nossa comunhão de família.
- Terceiro, João nos lembra de nossa Responsabilidade Familiar.
Veja os versos 2–3:
Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos.
A palavra mandamentos não se refere aos Dez Mandamentos ou a alguma lista de mandamentos do Antigo Testamento fornecida ao povo de Israel. O termo é usado aqui com um sentido mais genérico para falar da Palavra de Deus. De fato, o próprio Jesus Cristo caracterizou Seu ensino como um novo mandamento (João 15.10).
Quero que você note o que João nos manda fazer com os mandamentos de Deus, aqueles que se aplicam ao crente do Novo Testamento. Ele diz no verso 2 que os praticamos; no verso 3, ele diz que a vontade de Deus é que guardemos esses mandamentos. O verbo traduzido como guardemos significa “proteger como um bem precioso.”
Um autor disse que o primeiro verbo—praticamos—tem a ver com ações; o segundo verbo—guardemos—tem a ver com atitudes do coração.
Portanto, cuidamos desse tesouro que é a Palavra de Deus. E entendemos que Deus o Pai nos dá ordens, diretivos, proibições e orientações porque Ele nos ama. Seus mandamentos, conforme escreveu um autor, não são pesos que nos deixam prostrados, mas asas que nos ajudam a voar.
Esse é o veredito de João; veja a última parte do verso 3: ora, os seus mandamentos não são penosos. A palavra penosos (barus) carrega a ideia de um fardo opressor. Ela é traduzida como “vorazes” em Atos 20.29, quando Paulo alerta os presbíteros de Éfeso, dizendo que, após sua saída, virão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. Em Mateus 23.4, Jesus fala dos “fardos pesados,” que são os fardos legalistas pesados que os fariseus colocavam sobre os ombros do povo judeu. Se quiser agradar a Deus, carregue esse peso.
E não é essa a perspectiva de nossos dias ainda? Você é crente, segue o Cristianismo? Que fardo! Mas o contrário é a verdade. Não existe um fardo mais pesado do que uma consciência culpada; não existe miséria maior do que ser regido pela tirania do pecado.
Jesus prometeu: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8.32), não servirá de peso. O Senhor também pregou: Tomai sobre vós o meu jugo... porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mateus 11.28–30).
O meu jugo é suave—o que isso significa? Na região em que Jesus morou, os bois aravam o solo usando uma parelha feita de madeira. Primeiramente, os bois eram levados a um carpinteiro, o qual tirava as medidas dos ombros e do pescoço dos bois. Após a parelha ter sido cortada e lixada, o fazendeiro levava seu boi novamente ao carpinteiro para fazer os ajustes necessários, caso a parelha estivesse ferindo o pescoço do boi ou com peso desigual sobre os ombros.
Conforme diz uma lenda, Jesus fabricava o melhor jugo ou parelha em toda a Galileia. Não sabemos disso ao certo. O que sabemos é que Justino Mártir, o pai da igreja do século segundo, escreveu que fazendeiros ainda usavam os jugos que Jesus havia feito 75 anos antes.
William Barclay disse que as carpintarias da época provavelmente tinham uma placa à entrada que dizia: “Meus jugos cabem corretamente.” Essa era a ideia—feitos sob medida, projetados pelo Senhor, não para ser um peso, mas para nos edificar na fé enquanto aramos o solo dos desafios da vida.
Jesus também afirmou: o meu fardo é leve. Isso só é verdade quando confiamos que o nosso Deus Pai colocou sobre nós apenas aquilo que conseguimos carregar.
E quando amamos a Deus em retribuição, cercado por aqueles que amam uns aos outros e amam a Deus também, até o fardo mais pesado fica leve.
A vida cristã não é um peso a se arrastar; as demandas do Senhor se tornam nosso maior prazer por causa de nosso parentesco com o Pai e nossa comunhão com a família. Isso não significa que é fácil, mas que é possível. Mudanças são necessárias e a fé precisa ser desenvolvida, mas, sob tudo isso, está o constante amor de Cristo.
Um homem chamado Craig Barnes, pastor e escritor há muitos anos, escreveu:
Quando eu era um garoto, meu pai, também pastor, trouxe para nossa casa um menino de 12 anos chamado Roger, cujos pais tinham acabado de morrer de overdose com drogas. Não havia parente algum para tomar conta de Roger; então, meus pais decidiram adotá-lo e cria-lo como se fosse um filho deles.
De início, foi difícil para Roger adaptar-se ao novo lar—um ambiente livre de adultos viciados em heroína. Todos os dias, várias vezes ao dia, eu ouvia meus pais dizendo a Roger: “Não, não é assim que nos comportamos nesta família. Não, você não precisa gritar ou brigar para conseguir algo que quer. Não, Roger, você precisa mostrar respeito nesta família.” E Roger começou a mudar.
Craig fez a seguinte aplicação:
Agora, será que Roger precisou efetuar todas aquelas mudanças a fim de se tornar parte de nossa família? Não, ele passou a fazer parte da família pela pura graça de meus pais. Mas será que ele teve que mudar muitas coisas pelo fato de ser parte de nossa família? Sem dúvidas. E mudar não foi fácil para ele; a luta era constante. Mas ele era motivado pela gratidão por causa de um amor e graça incríveis que tinha recebido.
Será que você tem que trabalhar duro agora que o Espírito o introduziu na família de Deus? É claro que sim, mas não a fim de que você se torne filho ou filha; isso aconteceu pela graça através da fé em Cristo. Mas você tem muito trabalho a fazer, e o Espírito Santo mostrará seu erro quando cair novamente nos vícios de seus velhos caminhos pecaminosos—“Não, não é assim que nos comportamos nesta família.”
Conclusão
Permita-me concluir nosso estudo lendo novamente a defesa de Aristides ao Cristianismo. Enquanto eu leio, pense como as palavras do apóstolo João se tornaram uma realidade na igreja primitiva, e oramos para que se tornem parte de nossa igreja hoje também. Aristides escreveu:
Os cristãos convencem outros a se converterem ao Cristianismo pela forma como os amam; quando ganham outros para Cristo, eles os chamam, sem distinção alguma, de irmãos. E se existe entre eles alguém que é pobre e necessitado, os cristãos jejuam por dois ou três dias para conseguirem suprir essa carência com a comida necessária. Eles obedecem ao mandamento de seu Messias e vivem de forma honesta e sóbria, louvam a Deus por sua comida e bebida e lhe rendem graças. Tal é a lei dos cristãos e tal é a sua maneira de viver.
Isso resume muito bem 1 João 5.1–3, não é verdade? A evidência inegável na defesa do Cristianismo é a seguinte:
- A maneira como os crentes respondem a Cristo com fé.
- A maneira como se amam.
- E a maneira como praticam e guardam os mandamentos de Cristo com louvor e gratidão.
Que isso também seja dito a nosso respeito; essa é a lei dos crentes e essa é a nossa maneira de viver hoje.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 15/09/2013
© Copyright 2013 Stephen Davey
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