
O Concurso e a Coroa
O Concurso e a Coroa
Uma Sombra de Soberania – Parte 3
Ester 2.1–20
Introdução
Uma revista evangélica trouxe alguns artigos bem engraçados sobre amor e romance. A minha história favorita foi a de uma mulher que havia se cansado de esperar pelo homem perfeito. Por muito tempo ela havia tentado encontrar um bom rapaz que lhe compraria rosas vermelhas e seria um cavalheiro, mas nada parecia dar certo. Finalmente, ela então decidiu colocar um anúncio nos classificados do jornal. O anúncio dizia: “Procura-se um marido.”
No dia seguinte, ela recebeu dezenas de ligações. Todas elas, contudo, eram de mulheres que diziam: “Você quer um marido? Pode ficar com o meu!”
Quando minha filha mais nova estava com uns doze anos, eu perguntei a ela: “Querida, você já beijou alguma vez?”
Ela disse: “Não.”
E eu disse: “Minha filha, que coisa boa!”
Ela respondeu: “Bom, uma vez quando eu estava na primeira série, um menino na escola dominical tentou me beijar na sala.”
“O que? Lá na sala da escola dominical?” eu perguntei.
“Sim,” ela respondeu, “lá na sala.”
“O que você fez?”
“Eu dei um murro na barriga dele!” ela disse.
“Você deu um murro na barriga dele?!”
“Dei sim.”
Eu sorri. “Minha filha, muito bem!”
Minha filha tem 18 anos agora, mas tenho certeza que ela responderia a minha pergunta da mesma forma!
Crianças dizem coisas muito engraçadas, não é verdade? E, às vezes, as observações que elas fazem até fornecem a nós adultos um entendimento mais complexo do mundo no qual vivemos. Veja o que outras crianças disseram a respeito do amor e romance.
Quando perguntada sobre como o amor acontece, uma menina de terceira série respondeu: “Ninguém sabe como ele acontece, mas acho que tem alguma coisa a ver com o seu cheiro.”
Um menino de nove anos de idade disse o seguinte sobre o significado de se apaixonar: “Apaixonar-se é como uma avalanche; e é melhor você correr para salvar sua vida.” Acho que esse menino teve algumas experiências ruins com a paixão!
Quando um menino foi perguntado sobre como fazer um casamento dar certo, ele disse: “Diga a sua esposa que ela está linda, mesmo quando ela está um desastre!” Acho que esse aí já foi casado!
Outro menino disse: “Bom, você precisa encontrar alguém que goste das mesmas coisas que você. Se você gosta de esportes, ela também precisa gostar.”
Quando perguntada sobre como decidir com qual pessoa deve se casar, uma garotinha disse: “Bom, sabe, ninguém decide com quem vai se casar até crescer e virar adulto. Deus na verdade decide tudo antes e você só precisa descobrir com quem você vai acabar empacado pelo resto da vida.”
Acho interessante que, quase em toda a história de romance, quer seja em filmes, livros ou vida real, certas coisas são universalmente aceitas como naturalmente “românticas:” flores, cartões, chocolates, cavalheirismo, bondade e, claro, um pouco de perfume. Contos de fada são feitos de romance. E é por isso que o livro de Ester possui todos os elementos de um conto de fadas. Existe uma bela donzela, um rei solitário, um camponês do reino e um lugar maravilhoso. Essa é uma história de Cinderela da vida real. Mas ao mergulharmos mais a fundo em nosso estudo sobre Ester, descobriremos que essa não é uma história de amor – pelo menos não existe nada de amor entre o príncipe e a princesa. A única história de amor nesse livro é entre Deus e sua nação pródiga.
Quando as cortinas se fecham no final do capítulo 1 de Ester, vários anos se passam até que a história recomeça. Durante esse tempo, Assuero lidera o maior exército persa da história para realizar aquilo que seu pai nunca havia conseguido: conquistar a Grécia. Uma inscrição revela que o desejo dele era conquistar a Europa inteira.
A civilização ocidental agradece o fato de ele não ter tido sucesso. Os gregos enxotaram o grande exército de Assuero e demoliram grande parte de seus navios. Assuero finalmente embarcou em um de seus navios e navegou de volta para casa calado e desconsolado.
- O Rei Derrotado Retorna.
As cortinas se erguem no capítulo 2 com os holofotes focalizando nesse rei derrotado. Os versos 1 e 2 dizem:
Passadas estas coisas (ou seja, a guerra persa contra a Grécia), e apaziguado já o furor do rei Assuero, lembrou-se de Vasti, e do que ela fizera, e do que se tinha decretado contra ela. Então, disseram os jovens do rei, que lhe serviam: Tragam-se moças para o rei, virgens de boa aparência e formosura.
Pela história, sabemos que reis tinham concubinas, as quais serviam como esposas inferiores. Eles também possuíam esposas de posição mais elevada que poderiam usar a coroa a qualquer hora dependendo dos caprichos e desejos do rei.
A história nos informa que uma das espoas mais nobres de Assuero, Amenstris, deu à luz um filho, o qual ele escolheu como herdeiro de seu trono. A essa altura, ou Amenstris morreu, ou já não mais possui o favor do rei. Não sabemos qual o motivos, mas temos a informação de que Vasti tomou o seu lugar.
Agora que Vasti se foi, existe um vazio no palácio real, bem como no coração do rei. Entendemos então porque Assuero agora começa a se arrepender por ter banido a rainha Vasti. A construção hebraica em Ester 2.1 indica fortemente que Assuero agora culpa seus sete conselheiros por o terem persuadido a banir a rainha.
Assuero não está de bom humor. Suas tropas haviam sido exauridas, bem como seu tesouro de guerra; sua credibilidade por todo o império diminuiu; seu título de “rei dos reis” foi perdido; e, agora, ele volta para casa para ter que encarar a sombria recordação de que sua esposa predileta não está mais com ele.
Daí, seus sete conselheiros se chegam até ele com uma proposta intrigante: “Ouça-nos, ó grande rei, por que não realizamos um concurso de beleza abrangendo todo o império para encontrarmos oura esposa para você? O que você tem a dizer?”
Para nós hoje essa sugestão talvez não soe tão estranho, mas era algo sem precedentes na história persa. De acordo com Heródoto, o costume persa exigia que a rainha fosse parente de sangue de uma das sete famílias nobres. Então, o que esses conselheiros estavam pensando?
Alguns estudiosos acreditam que Memucã, o líder dos líderes que inicialmente verbalizara a ideia de se livrar de Vasti, tinha uma parente solteira em sua própria família e ele tinha a esperança de que ela ganhasse a coroa. Independente disso, ele e seus seis amigos sabem que estarão em sérios problemas se eles não saírem como alguma solução interessante; e rápido! O rei precisava de uma bela moça para substituir Vasti ou eles estariam em apuros. E é por isso que esses sete conselheiros vão contra todos os costumes e tradições persas – os quais eles defendiam fervorosamente – e sugerem que a rainha seja escolhida dentre as plebeias do império. Esse tipo de coisa nunca havia sido feita antes na história persa.
Na verdade, vemos aqui o processo de uma verdadeira história de Cinderela; e somente um Deus grande como o nosso poderia usar todas as intrigas, manipulações e corrupções políticas para realizar isso.
O plano dos conselheiros é revelado para nós nos versos 3 e 4:
Ponha o rei comissários em todas as províncias do seu reino (lembre-se: o reino se estende desde a África até a Índia), que reúnam todas as moças virgens, de boa aparência e formosura, na cidadela de Susã, na casa das mulheres, sob as vistas de Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres, e dêem-se-lhes os seus ungüentos. A moça que cair no agrado do rei, essa reine em lugar de Vasti.
Para os habitantes da Pérsia, essa era uma oportunidade única na vida. Qualquer moça virgem poderia deixar lá seu currículo! Qualquer uma poderia se tornar uma princesa! A conversa em todas as aldeias e vilas do império era: “Quem irá ganhar a coroa?” As ruas devem ter se enchido de frenesi ao ouvirem essa notícia. Milhares de moças devem ter ficado em pé na fila ansiosamente aguardando a chegada do assistente do rei.
As academias devem ter ficado lotadas! Moças mentiram sobre sua idade mais do que em qualquer outra época da história. E por que não? O prêmio era a coroa e a riqueza e a mordomia e as servas e o dinheiro e a comida e o lazer e as roupas belíssimas. A vencedora ganharia tudo isso. O “felizes para sempre” estava ali do outro lado, aguardando a ganhadora.
Mas antes que você fique muito animado com o que parece ser um conto de fadas comum e qualquer, não se esqueça qual o verdadeiro motivo para esse concurso de beleza. Não existe uma maneira de amenizar o que acontecerá na próxima cena dessa história. Haverá apenas um juiz. E as apresentações serão em particular.
Não se engane; por trás dessa pomposa máscara imperial e das circunstâncias em torno desse cenário existe um olhar de devassidão, egoísmo e tudo, menos amor.
No palácio, os eunucos eram os que administravam o harém do rei. Eles observavam de perto as mulheres por causa de todo o drama e competição e intrigas que ocorreriam todos os dias. A maioria dessas moças não terá nada mais que uma noite com o rei. Elas viverão vidas esquecidas, abandonadas no Palácio de Susã. Um comentarista chamou o harém dos reis de “desolação luxuosa.”
- Os Personagens Principais Aparecem.
Veja os versos 5 e 6:
Ora, na cidadela de Susã havia certo homem judeu, benjamita, chamado Mordecai, filho de Jair, filho de Simei, filho de Quis, que fora transportado de Jerusalém com os exilados que foram deportados com Jeconias, rei de Judá, a quem Nabucodonosor, rei da Babilônia, havia transportado.
Assim que somos apresentados a Mordecai no verso 5, descobrimos que ele pertencia à família real. A linhagem de Mordecai voltava a anos anteriores ao rei Saul. Na verdade, ele e seus primos são descendentes da tribo que costumava ser a tribo real de Israel. Mas independente disso, o nome de Mordecai não possui ligação alguma com sua linhagem judaica. Seu nome é apenas uma transliteração de Marduque, o nome do principal deus da Babilônia.
Então, isso já levanta alguns questionamentos. Primeiro, o que um bom homem judeu da tribo de Benjamim está fazendo em Susã? Segundo, por que ele não voltou para Jerusalém após o término do cativeiro persa? E, por último, por que ele recebeu o nome de um deus pagão? As respostas a todas essas perguntas podem ser encontradas no histórico familiar de Mordecai.
Séculos antes, quando o rei Davi estava fugindo de seu filho Absalão, um dos antepassados de Mordecai, Simei, lançou pedras contra Davi e o amaldiçoou por ter roubado o trono de Saul. Salomão, o filho de Davi, posteriormente sentenciou Simei à morte. Se Mordecai tinha conhecimento disso, então Jerusalém representava um local de derrota para ele; aquele era o lugar onde sua família havia perdido o poder. Não é nenhuma surpresa, então, que ele decide permanecer na Pérsia.
Da mesma forma como o seu pai se adaptou à cultura persa, o que fica evidente pelo nome que ele deu ao seu filho em honra a um deus pagão, Mordecai também se adaptou à cultura local.
A essa altura na história ele está tão “persianizado” que ele faz de tudo para manter sua herança judaica um segredo profundo. Ninguém sabe que ele é judeu; e ele quer que as coisas continuem desse jeito.
Este é um momento bom para fazermos uma pausa e considerar uma aplicação para nossas vidas. Em meio à Pérsia que cerca você – seu trabalho, universidade, lar – você tem mantido seu relacionamento com Jesus Cristo um segredo? Será que alguém sabe que você é crente?
É impossível enumerar para você a quantidade de pessoas que vieram até mim nos últimos anos, dizendo: “Eu não sou bom em falar sobre Jesus Cristo; então, eu evangelizo com a minha vida.” Mas você já parou para pensar que ninguém será salvo por apenas ter observado sua vida? Claro, é importantíssimo viver uma vida coerente à mensagem do evangelho. Mas se as pessoas não souberem por que você vive dessa forma, provavelmente elas darão o crédito a você. A única maneira de ver suas boas obras glorificando ao Pai que está nos céus é dando glória ao Pai que está nos céus.
Em Romanos 10.17, Paulo disse que a fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo. Fé não vem por meio de observação, mas pelo ouvir. É necessário um mensageiro disposto a transmitir essa revelação especial a alguém para que a pessoa seja salva. Não seja como Mordecai na Pérsia. As pessoas precisam ouvir o evangelho; e você pode ser o mensageiro.
Vamos voltar à nossa história agora.
Pela primeira vez em nosso estudo, finalmente somos apresentados à personagem de quem esse livro herda o nome. Ester está prestes a subir ao palco. Ester 2.7 diz:
Ele criara a Hadassa, que é Ester, filha de seu tio, a qual não tinha pai nem mãe; e era jovem bela, de boa aparência e formosura. Tendo-lhe morrido o pai e a mãe, Mordecai a tomara por filha.
Dessa vez, lemos tanto o nome hebreu, Hadassa, que se refere à flor da murta, bem como seu nome pagão, Ester, que provavelmente é uma transliteração de Ishtar, a deusa babilônia do amor.
Evidentemente, Ester ficou órfã quando ainda criança após a morte de seus pais; então Mordecai, que era 15 anos mais velho que ela, a adotou como sua filha.
- O Concurso Devasso Inicia.
Mordecai ouve falar sobre o concurso de beleza. Ele vê a fila na rua. Ele escuta a fofoca dos transeuntes. Ele sabe que Ester é muito bonita e é muito provável que, nos últimos anos, ele espantou muitos candidatos que queriam se casar com ela. Agora, ele finalmente tem a chance de lucrar com a beleza de Ester. Ele pode usar a beleza dela para conseguir seu próprio sucesso. Note o verso 8:
Em se divulgando, pois, o mandado do rei e a sua lei, ao serem ajuntadas muitas moças na cidadela de Susã, sob as vistas de Hegai, levaram também Ester à casa do rei, sob os cuidados de Hegai, guarda das mulheres.
Posso pensar em pelo menos três razões boas o suficiente para Ester não vencer esse concurso.
Primeiro, ela é órfã. Ela não possui uma família para servir de contato com os oficiais do rei. Ela não passa de uma plebeia comum: uma ninguém que ninguém conhecia.
Segundo, a competição é grande. De acordo com Josefo, um historiador judeu do primeiro século, esse concurso havia atraído mais de 1000 moças. O palácio estava transbordando de mulher bonita. Ester não era a única levando os homens à loucura.
Por último, ela era judia. Os judeus eram membros de uma nação derrotada. Eles eram intrusos que haviam adotado os costumes persas, mas que ainda não eram considerados como persas. Se a notícia de que ela é judia se espalhar, qualquer pequena chance que ela porventura tenha desaparecerá. É por isso que lemos no verso 10:
Ester não havia declarado o seu povo nem a sua linhagem, pois Mordecai lhe ordenara que o não declarasse.
Mordecai está dizendo a Ester: “Ester, Israel é passado. Deus pode ter criado você judia, mas isso não ajudará você aqui. Aqui você tem que viver do seu jeito, se virar.”
Mordecai está sugerindo que, uma vez que Ester entrar no palácio do rei, ela estará sozinha. Mas ele não poderia estar mais distante da verdade.
Acabamos de falar sobre três razões por que Ester está entrando nessa competição com pouquíssimas chances de vencer, mas estamos prestes a ver como Deus trabalhará nos bastidores para assegurar que Ester não tenha nenhuma chance de perder.
A primeira coisa que Deus faz é dar a ela o favor de todos no palácio. O verso 9 nos informa que Ester agradou “Hegai,” o qual, se você se lembra, era quem estava administrando o concurso. O verso diz que Ester alcançou favor perante ele.
Não existe outra explicação para isso, a não ser o fato de que Deus está inclinando o coração de todos na direção de Ester. O que deveríamos estar lendo aqui é que Ester alcançou inveja aos olhos de todos que a viram; ou ira. Afinal, isso aqui é um concurso. Todas as moças entraram para ganhar. Contudo, ao invés disso, lemos que ela alcançou o favor perante todos. Como isso é possível?
Não ignore isso, amigo. Deus pode ser invisível, mas Ele está envolvido. Sua mão é invisível, mas Seu plano é invencível. Veja o que ocorre no verso 9:
…pelo que se apressou em dar-lhe os ungüentos e os devidos alimentos, como também sete jovens escolhidas da casa do rei; e a fez passar com as suas jovens para os melhores aposentos da casa das mulheres.
Dentro de poucas horas, Ester recebe sua suíte particular, sete servas e bastante comida e bebida. O mesmo não pode ser dito a respeito do pobre Mordecai. O verso 11 diz:
Passeava Mordecai todos os dias diante do átrio da casa das mulheres, para se informar de como passava Ester e do que lhe sucederia.
Mordecai está roendo as unhas de tão nervoso. Ele provavelmente está pensando: “O que eu fiz? Ela está lá dentro com mais de 1400 competidoras. Tão inocente ela. Jamais conseguirá manter o segredo dela. Ela não tem chance alguma! Deve existir algo que eu possa fazer para fazer com que isso dê certo para ela.”
O que ele não sabe é que Deus já está orquestrando para que as coisas sejam favoráveis a Ester – e sem a ajuda de Mordecai. Mordecai precisa entender que ele não é soberano sobre a vida de Ester; Deus é.
E enquanto ele impacientemente caminha ao redor da casa das mulheres, ele não faz ideia de que Ester está sendo mimada lá dentro. Ela ainda não é a rainha, mas já está sendo tratada como rainha. Veja o verso 12:
Em chegando o prazo de cada moça vir ao rei Assuero, depois de tratada segundo as prescrições para as mulheres, por doze meses (porque assim se cumpriam os dias de seu embelezamento, seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias e com os perfumes e ungüentos em uso entre as mulheres),
E você achava que sua esposa demorava muito para se arrumar, não é?! Tente ter que esperar 12 meses!
Mas, afinal, por que esse tempo todo?
O óleo de mirra era utilizado para amaciar e clarear a pele. Já que a maioria dessas moças trabalhava debaixo do sol, a pele delas era escurecida e castigada pelo sol. Para os persas, uma pele mais clara era sinal de beleza. Então, demorava cerca de 12 meses de terapia e ausência da luz do sol para amaciar e clarear a pele dessas mulheres.
Quanto à mirra e outros cosméticos, eles eram tipos desenvolvidos de maquiagem. Mas os persas não utilizavam maquiagem apenas por questão de beleza; eles utilizavam maquiagem por uma questão de santificação.
Nessa região, os sacerdotes eram aqueles que desenvolviam e protegiam a ciência dos cosméticos. Pelo fato de eles verem o físico apenas como um portal para o espiritual, eles realmente acreditavam que limpeza era sinônimo de piedade.
As mulheres se banhavam em piscinas com sais de banho e perfume, já que o cheiro estava ligado à aceitação divina. As mulheres usavam maquiagem ao redor dos olhos e braceletes, colares e tornozeleiras para espantar espíritos malignos. Elas recebiam o blush para as bochechas, batons de várias tonalidades, lápis para os olhos, e cuidavam bem das unhas, pois a beleza as aproximava dos deuses. E, em questão de alguns meses, elas seriam colocadas na presença de um descendente dos deuses – o rei.
Juntamente com esse processo de embelezamento, as mulheres recebiam instruções de costumes e etiqueta da realeza. Como um estudioso colocou, elas estavam aprendendo o que dizer e como dizer.
Essas mulheres tinham vindo direto dos campos e muitas não tinham recebido nenhuma espécie de educação, eram iletradas e sem qualquer treinamento. Mas eram bonitas; e em 12 meses uma delas se sentaria no trono como rainha.
Portanto, esse processo de 12 meses era um curso sobre como ter a aparência de rainha, falar como rainha, comer como uma rainha, cheirar como rainha e agir como rainha. E a essa altura na história, Ester não parece protestar contra nada disso. Diferente de Daniel que veio antes dela, ela não se recusa comer carne nem beber vinho que haviam sido oferecidos aos ídolos.
Ela é uma personagem sem muito caráter; e ela manterá seu segredo a todo custo.
- A Rainha Humilde é Coroada.
Apesar de pastores e teólogos desejarem amenizar a próxima cena, é impossível. Como um autor disse, esse concurso se tornaria nada mais que um sórdido mercado de carne.
Ester perderá sua virgindade para um gentio pagão juntamente com outras mil jovens moças. Apenas uma será escolhida.
Rabinos judeus tentaram a todo custo melhorar esse capítulo ao adicionar mais de cem versos ao texto original, os quais são encontrados na Septuaginta.
Algumas dessas adições buscaram reconciliar o caráter de Ester ao dizer que ela nunca violou as leis de dieta dos judeus. Em um dos versos, eles inventam uma suposta oração que ela fez, dizendo a Deus: “Tu sabes de todas as coisas; e tu sabes que odeio a pompa dos ímpios e a cama do incircunciso e de qualquer estrangeiro.”
Essas são tentativas óbvias de santificar as atitudes de Ester a mantê-la com caráter de uma heroína.
Alguns escritores evangélicos seguem um caminho diferente e exoneram Ester de sua culpa. Eles argumentam que, quando o verso 16 diz que foi levada Ester ao rei Assuero o verbo “levar” sugere que foi contra a vontade dela.
O problema com essa interpretação é que o mesmo verbo é encontrado no verso 15, onde lemos que Mordecai...a tomara como filha. Essa interpretação simplesmente não é verdadeira. Por pior que soe, infelizmente, Ester não foi conduzida à força. Ela foi sem resistência alguma.
Ela está vestida com a melhor roupa. Seu rosto coberto em maquiagem. Seu corpo encharcado de perfume. Sua mente está cheia dos segredos passados a ela pelo chefe dos eunucos que deseja vê-la com a coroa na cabeça. Note os versos 16 e 17:
Assim, foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no sétimo ano do seu reinado. O rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que todas as virgens; o rei pôs-lhe na cabeça a coroa real e a fez rainha em lugar de Vasti.
Interessante que a narrativa de Ester conquistando a coroa é sem expressão, é algo oco, vazio. Na verdade, esse é um momento bastante anticlimático na história. Ester é agora a rainha da Pérsia. Mas será que isso é motivo de se alegrar? Será que valeu a pena perder a virgindade para ganhar a coroa? Será que valeu a pena perder sua integridade? Espero que não.
Fico pensando quantas jovens moças sacrificaram sua virgindade para não perder aquele namorado que diz: “Se você me ama, você não terá problemas com isso.”
Pergunto-me quantos profissionais não mantiveram em segredo sua identidade de crente para que isso não atrapalhasse seu avanço na carreira profissional.
Pergunto-me quantos crentes mantêm seu relacionamento com Deus escondido porque querem conviver bem com os persas.
Ester pode até ter ganhado a posição de rainha, mas não ganhou um marido. O verso 17 diz que o rei amou Ester mais do que todas as outras mulheres, mas ele ainda amava as outras. O texto nunca diz: “E após ter coroado Ester, o rei deu ordens para que o harém fosse despachado, bem como suas concubinas.” Longe disso. Veja o verso 19:
Quando, pela segunda vez, se reuniram as virgens, Mordecai estava assentado à porta do rei.
Por que segunda vez? Ester já está com a coroa. Esse concurso não deveria ter terminado então? Terminou. Isso aqui não tem nada a ver com o concurso; mas tem tudo a ver com o harém do rei que está sempre em crescimento.
Ester ocupará a posição de rainha, mas ela não será a única a ocupar a cama do rei. Na verdade, sua posição nem lhe permitirá livre acesso ao quarto do rei. Ester conquistou a coroa, mas ela não ganhou um relacionamento íntimo e honesto.
Mas, por pior que isso pareça, as coisas teriam sido ainda mais complicadas se ela tivesse perdido. Os versos 13 e 14 nos dizem o que aconteceu com as perdedoras:
então, é que vinha a jovem ao rei; a ela se dava o que desejasse para levar consigo da casa das mulheres para a casa do rei. À tarde, entrava e, pela manhã, tornava à segunda casa das mulheres, sob as vistas de Saasgaz, eunuco do rei, guarda das concubinas; não tornava mais ao rei, salvo se o rei a desejasse, e ela fosse chamada pelo nome.
Você percebeu isso? Essas moças entravam como virgens e voltavam como concubinas. Elas são relegadas a uma vida de abandono luxuoso para nunca mais serem chamadas novamente, a não ser que o rei lembrasse de seu nome. O rei, contudo, não tem o hábito de lembrar nomes. Seu hábito é o de adicionar nomes.
Portanto Deus, em sua graça, coloca Ester na frente da fila. De todas as milhares de mulheres que entrariam no palácio, Ester seria a única da qual o rei se lembraria.
Isso nos revela a verdade maravilhosa do caráter de Deus que trabalha através de pessoas fiéis e apesar de pessoas infiéis. Sua providência é implacável. Ele derrama sua graça sobre nós mesmo quando não merecemos.
Isso não significa que podemos pecar o quanto desejarmos para que a graça seja ainda mais abundante. Quando o apóstolo Paulo disse em Romanos 5, verso 20: onde abundou o pecado, superabundou a graça, ele não estava nos dando licença para pecar, como algumas pessoas na época estavam pensando. Ele estava simplesmente mostrando como o amor de Deus é profundo. A verdade maravilhosa é que, mesmo quando desobedecemos a Deus – ou seja, diariamente – ele nunca nos deixa, nem nos abandona.
É exatamente isso que Ester descobrirá no decorrer da sua história. Ela está sendo encharcada em muito mais que mirra e especiarias persas. Ela está sendo mergulhada na graça de Deus. O aroma da bondade de Deus para com ela permeia as páginas de sua história de capa a capa.
A despeito de sua desobediência, a despeito de ela manter sua herança em segredo, a despeito de sua imoralidade, Deus moveu o coração daquele homem imundo para que ele a escolhesse para ser sua rainha.
Foi Deus quem colocou Ester no trono, não foi Assuero. Deus não a escolheu porque ela era mais bela que as demais ou porque ela era especial aos seus olhos. Ele a escolheu porque ele a usaria para trazer salvação ao seu povo.
E pense nisto: em primeiro lugar, foi Deus quem deu a beleza de Ester; foi Deus quem lhe deu uma rica herança judaica; foi Deus quem a colocou na Pérsia em momento tão oportuno.
Por quê? Porque ele havia feito uma promessa aos antepassados do povo de Israel que ele faria deles uma grande nação e que, dessa nação, ele levantaria o Salvador do mundo. Portanto, nada – nem mesmo o chamado “rei do mundo” – poderia atrapalhar Deus em seus planos.
O que Ester aprenderá – juntamente comigo e com você – é que, quando Deus promete algo, ele cumpre.
Meu amigo, você deseja viver uma vida satisfeita? Confie em Deus. Você deseja ver Deus trabalhando? Trabalhe com ele. Você deseja fazer a diferença neste mundo? Submeta-se à vontade de Deus e anuncie ao mundo que você pertence a ele.
Não se perca em sua busca para vencer algum concurso e alguma coroa a ponto de ignorar o que Deus tem feito em sua vida e nas vidas das pessoas ao seu redor. Deus está trabalhando, até mesmo neste exato momento enquanto você lê estas palavras. E você, é parte do trabalho de Deus?
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 01/10/2011
© Copyright 2011 Stephen Davey
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