
Um Tributo ao Cordeiro: Traído!
Um Tributo ao Cordeiro: Traído!
João 18.1–11
Introdução
Quero convidá-lo ao capítulo 18 do evangelho de João. A hora chegou sobre a qual Jesus vinha há muito falando – é a hora da traição, do julgamento e da crucificação.
O Senhor está perto de passar pelos momentos mais difíceis que um ser humano pode experimentar. Ele está prestes a beber um cálice trágico, pré-ordenado pelo conselho do Deus Todo-Poderoso antes da fundação do mundo.
Os próximos dois capítulos à nossa frente registram as últimas horas da vida de nosso Senhor Jesus aqui na terra. E, apesar de serem cheios de dor, abandono e choro pela separação da morte, esses capítulos não são nada mais que um tributo ao Cordeiro de Deus. São um tributo de Seu amor e sacrifício pelos pecadores. Ao estudar esse tributo escrito, meu desejo é que fiquemos mais parecidos com Ele, para que nossas vidas se tornem tributos vivos ao Cordeiro.
João, capítulo 18, verso 1, diz:
Tendo Jesus dito estas palavras, saiu juntamente com seus discípulos para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim; e aí entrou com eles.
Muitos séculos antes, o rei Davi atravessou o vale de Cedrom e passou pelo ribeiro. Seu próprio filho, Absalão, o havia traído e a nação o havia rejeitado.
Agora, séculos depois, o Filho de Davi atravessa o ribeiro de Cedrom, rejeitado pela nação e prestes a ser traído por um de Seus seguidores. O traidor deveria ter aprendido pelo exemplo de Absalão que, assim como Absalão morreria pendurado numa árvore e pelas lanças dos servos leais, também Judas ficaria pendurado numa árvore, vindo a morrer.
Existe um outro fato que achei bastante interessante nisso. A época desses eventos é a Páscoa. Milhares de cordeiros já haviam sido sacrificados na cerimônia que durava uma semana. O sangue dos cordeiros era derramado sobre o altar como oferta a Deus. Trinta anos após a morte de Jesus, um censo foi feito e contou como 256 mil o número de cordeiros sacrificados.
Agora, o interessante é que, do altar, corria um canal que drenava o sangue derramado dos cordeiros para o ribeiro de Cedrom. O sangue manchava as águas do ribeiro e, quando Jesus passou por ali, aquele riacho já estava escuro com o sangue dos sacrifícios. Sem dúvidas, em Sua mente, Ele sabia, com certeza, que, em breve, o Seu próprio sangue seria derramado como o Cordeiro de Deus que tinha vindo para tirar os pecados do mundo.
A Ridícula Traição por Judas
O primeiro personagem a entrar no jardim é Judas – e sabemos que ele está possuído pelo próprio Satanás agora.
Veja o verso 2:
E Judas, o traidor, também conhecia aquele lugar, porque Jesus ali estivera muitas vezes com seus discípulos.
A motivação de Judas já havia sido claramente dada. Foi pura avareza. Quando seu coração avarento percebeu que os planos de Jesus para o reino não envolveriam a queda do império Romano e que os tronos prometidos por Jesus para cada um dos discípulos não se materializariam neste mundo e agora, Judas decidiu conseguir o que pudesse enquanto ainda tinha a oportunidade.
Ele já tinha vendido sua lealdade por trinta moedas de prata. Registros antigos revelam que esse era o preço mais baixo dado por um escravo. Em um dos registros, trinta moedas de prata foi o preço pago por um escravo que havia sido ferido pelos chifres de um boi. Então, Judas vende o Salvador pelo preço de um escravo defeituoso.
Francamente, Judas é, para mim, um homem difícil de entender. Max Lucado instigou o meu pensamento em um de seus livros. Enquanto lia, o capítulo sobre Judas me ajudou a entender que parte do meu problema é que me encaixo na mesma categoria de pensamento que o próprio Max Lucado confessou. Ele escreve:
Sempre imaginei Judas como um homem repugnante, de olhos arredondados e sério, com semblante fechado e barba comprida. Pensava nele como alguém afastado dos demais discípulos. Sem amigos, distante, é claro que era um traidor... entretanto, não existe nenhuma evidência de que ele era alguém isolado. Na última ceia, quando Jesus disse que o traidor estava sentado à mesa, não vemos os discípulos imediatamente se virando para Judas como a opção lógica. Acho que o rotulamos de maneira errada. Ao invés de astuto e malicioso, talvez ele fosse forte e jovem. Ao invés de alguém calado, talvez tenha sido espontâneo e bem intencionado.
A pergunta, todavia, permanece: Como pôde Judas trair o Cordeiro de Deus? Sabemos com certeza que ele havia andado com Jesus, conversado com Jesus, comido com Jesus e estado junto com Jesus nas casas e caminho à fora. Ele tinha seguido o Cordeiro por anos; ouviu o Cordeiro ensinando e viu Seus milagres se revelando. Mas, a verdade é que, Judas não conhecia o coração de Jesus.
Max Lucado escreveu:
Ele sabia das ações de Jesus mas não notou a missão de Jesus... ele vestiu as roupas da religião, mas não tinha nenhum relacionamento com Jesus.
Agora veja o verso 3. Sempre foi um verso muito interessante para mim.
Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas.
Veja que eles estão preparados para tudo, menos para o que vai acontecer. Creio que eles se prepararam para três coisas.
Eles se prepararam para o engano
- Primeiro, eles se prepararam para o engano – isso explica o plano para Judas identificar Jesus com um beijo.
Talvez eles pensaram que um dos discípulos fosse dizer: “Eu sou Jesus! Levem-me!”
Então, a quadrilha se preparou para esse tipo de lealdade.
Marcos 14, verso 45, nos diz que, quando a corja entrou no jardim, Judas se aproximou de Jesus e disse: “Mestre!” – como que dizendo: “Amado Professor!”
Daí, ele beijou Jesus. A palavra grega usada nesse verso para “beijar” é “kataphileo”. É uma palavra com sentido intensificado que indica um abraço e, provavelmente, beijos no rosto.
O beijo era algo comum naquele tempo. Um beijo entre um estudante e seu professor era sinônimo de reverência e respeito. Os inferiores beijavam as costas das mãos de seus mestres superiores, mas, se fossem acima do nível de servo, poderiam beijar a palma da mão. Os que buscavam o perdão de um monarca irado beijavam os pés do monarca. Os escravos geralmente beijavam os pés de seus donos. Mas, um beijo no rosto era um sinal de afeição e relacionamento próximo.
Portanto, o beijo dado por Judas foi algo desprezível; foi a pior de todas as falsas afeições.
Pense também na verdade espiritual aqui. Satanás está identificando o Salvador; vemos a serpente abraçando o Filho; o leão abraçando o Cordeiro. O bafo quente do velho dragão estava face a face com o libertador da humanidade. E Jesus sabia disso!
Traição sempre é algo terrível; e se torna ainda pior quando vem de alguém supostamente próximo – um amigo ou parente. Entretanto, Jesus nunca rejeitou Judas. Ele nunca disse: “Judas, você me dá desgosto! Saia da minha frente!
Mateus 26, verso 50, nos diz que Jesus apenas disse: “Amigo, faça o que você veio fazer.”
Kent Hughes faz uma aplicação dizendo que Jesus não disse somente: “...amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem...”, como registrado em Mateus 5, verso 44, mas Ele também viveu essa verdade! Ele praticou tudo o que pregou. E que mensagem tremenda Ele estava vivendo naquele momento!
Somos chamados para fazer a mesma coisa. Lemos em Filipenses 2, verso 5:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.
Você já foi traído, mal entendido, rejeitado, abandonado? Foi com um beijo? Se sim, talvez você sentiu que tinha a autoridade de excluir essa pessoa de sua vida e odiá-la. Jesus diz: “Não, você não tem esse direito.”
E, daqui a pouco, veremos como Jesus pôde lidar com a traição de forma tão tranquila.
Eles esperavam covardia
- Mas, primeiro, a corja estava pronta não só para o engano, como também esperava covardia.
Veja novamente João 18, verso 3b:
...chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas.
Barclay conjectura que talvez eles esperavam que Jesus se escondesse.
A lua da Páscoa era lua cheia e o verso 18 nos informa que a noite era fria, o que indica que o céu estava provavelmente limpo, sem nuvens. Havia claridade suficiente para eles enxergarem o caminho sob a luz da lua. Por que não apenas uma ou duas tochas nas mãos dos líderes; por que todos os guardas carregaram essas tochas e lanternas? Eles devem ter pensado que Jesus fosse se esconder! Pensaram que talvez tivessem que fazer uma varredura nas árvores, cantos e brechas para encontrar Jesus. Para isso, precisariam de muitas lanternas e tochas!
Mas, ao invés de se esconder, o verso 4 nos diz que Jesus se apresentou e se identificou como o Homem a quem eles estavam procurando!
Eles previam resistência
- Finalmente, os líderes dessa captura noturna previram certa resistência!
O verso 3 nos informa que Judas trouxe com ele uma “escolta” romana ou um batalhão – o que era seiscentos soldados romanos armados. Havia também oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, ou o Sinédrio.
O templo tinha um tipo de polícia particular a fim de manter a boa ordem e o Sinédrio tinha à sua disposição oficiais de polícia para executarem os vereditos e decretos.
Por que centenas de soldados romanos e muitos policiais da parte dos judeus vieram nessa captura? Qual a necessidade de um exército para prender um carpinteiro galileu desarmado?
Porque eles sabiam que Ele não era um homem comum. Eles tinham visto Seus milagres e, em muitas ocasiões, eles tentaram prendê-lo, mas Jesus, de alguma forma, acabava escapando.
Então, desta vez, eles estavam prontos para um pouco de poder sobrenatural. Eles estavam prontos para lidar não só com doze homens, mas, talvez, um pouco de show extra de poder desse homem de milagres – então, eles mandaram um exército.
Mas, eles não estavam preparados para o que vai acontecer!
O Anúncio de Jesus – Revelador!
Veja os versos 4 a 6:
Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou eu. Ora, Judas, o traidor, estava também com eles. Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra.
Precisamos entender que isso é muito mais do que Jesus simplesmente se identificando como aquele a quem estavam procurando. Pelo menos três coisas ocorreram simultaneamente aqui.
Ele anuncia Sua divindade
- Primeiro, Jesus anuncia Sua divindade.
Veja nos versos 5 e 6 que Jesus se identificou usando a expressão com a qual talvez você já esteja familiar agora: “ego eimi,” ou “EU SOU”.
Esse é o nome de Deus primeiramente revelado a Moisés na sarça ardente, em Êxodo 3, verso 14. Moisés perguntou: “Senhor, qual é o seu nome? Que direi ao povo?” E Deus respondeu: “Diga a eles que o meu nome é EU SOU.” Na Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento, a expressão é “ego eimi.”
Já ouvimos várias vezes no evangelho de João as ocasiões em que Jesus se referiu a si mesmo como “ego eimi,” causando certa confusão. Ele declarou ser Deus! E nesta ocasião no jardim, mais uma vez Jesus reivindica para si o nome do Deus Todo-Poderoso – “EU SOU.”
E veja o verso 6b:
...recuaram e caíram por terra.
Uma respiração da onipotência derrubou todo aquele exército! É como se Cristo tivesse aberto a cortina da Sua divindade por um rápido segundo e eles fizeram o que todos farão na presença de Deus – prostraram-se diante Dele.
Ele revela a Sua autoridade
- Em segundo lugar, Jesus Cristo revela a Sua autoridade.
Não se engane, Jesus está no comando de tudo aqui! Ninguém irá tirar a Sua vida – Ele mesmo escolheu entregá-la. Ele não está se escondendo – Ele está se revelando; Ele não está se acovardando – Ele está no comando. Então, Ele até ajuda os seus inimigos medrosos e intimidados a prendê-lO.
Essa decisão não pertence ao Sinédrio, aos líderes religiosos, à nação de Israel ou aos imperadores romanos – essa decisão é do Cordeiro, do “EU SOU”. Ele não é uma vítima. Por que? Porque Ele já escolheu morrer!
Ele cumpre a Sua palavra
- Em terceiro, Jesus cumpre a Sua palavra.
Veja os versos 7 a 9:
Jesus, de novo, lhes perguntou: A quem buscais? Responderam: A Jesus, o Nazareno. Então, lhes disse Jesus: Já vos declarei que sou eu; se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes; para se cumprir a palavra que dissera: Não perdi nenhum dos que me deste.
Em outras palavras, Jesus está assegurando que haverá apenas um na cruz, não doze, sem contar os dois criminosos. Nenhum dos discípulos iria morrer com Jesus. A Palavra já havia sido declarada e Jesus estava garantindo que essa Palavra seria cumprida.
A Coragem de Pedro – Descuidada!
Daí Pedro, que esteve observando tudo o que estava acontecendo, decidiu que era hora para um pouco de ação. Então, no verso 10, é-nos dito:
Então, Simão Pedro puxou da espada que trazia e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita; e o nome do servo era Malco.
Agora, ou Pedro tinha uma péssima mira ou Malco foi ágil o suficiente para desviar-se do golpe. Então, a pequena “machaira” ou espada de Pedro errou a cabeça de Malco; contudo, ele ainda feriu a orelha do servo.
Paremos aqui por um instante. Geralmente falamos sobre a fraqueza, infidelidade e covardia de Pedro quando ele nega ao Senhor. Falaremos mais sobre isso em breve. Mas, agora, quero que você tome nota da coragem de Pedro!
Nesse momento, ele, um homem, puxa da espada contra centenas de homens. Ele está descuidadamente preparado para enfrentar centenas de soldados, sozinho, por causa de Jesus. Deus te bendiga, Pedro! Como seria bom se houvesse mais “Pedros” em nosso meio com essa coragem!
A grande maioria de nós calcula os riscos; muitos advertem acerca dos perigos; muitos outros hesitam diante da possibilidade do fracasso; pouquíssimos de nós, todavia, estão dispostos a arriscar tudo para defender a honra de Cristo.
Pedro arriscou! Não sei de onde ele tirou toda essa coragem. Talvez ele pensou que, se ele entrasse num problema sério, Jesus iria derrubar todo mundo de novo no chão.
Então, ele dá o golpe, o servo grita e os soldados apontam suas lanças contra o peito de Pedro.
Imagine essa cena. Um autor escreveu sobre isso com vários detalhes:
Imagine a tensão naquele jardim quando Malco estava lá em pé, com olhos arregalados, sangue derramando em seus dedos enquanto centenas de lâminas de ferro soam agudamente saindo de suas bainhas numa sinfonia terrível.
E agora, o que acontece?
Mateus registra as palavras de Jesus, no capítulo 26, versos 52 e 53:
...Embainha a tua espada... Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?
Em outras palavras: “Pedro, não estamos lutando essa batalha com armas de ferro. Se estivéssemos, Eu poderia ter, neste instante, aqui ao meu lado, setenta e dois mil anjos! Mas esse não é o tipo de batalha que estamos lutando.”
Paulo falou sobre o mesmo tema, quando escreveu em 2 Coríntios 10, verso 4:
Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas...
Também em Efésios 6, verso 12:
Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
Você sabe o que Jesus disse para essa quadrilha? Lucas registra as palavras de Jesus no capítulo 22, verso 53, logo antes de O levarem do jardim:
...Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas.
Em outras palavras, como Warren Wiersbe escreveu:
Pedro estava lutando contra o inimigo errado, usando a arma errada, tendo o motivo errado e conseguindo o resultado errado!
Mas, e o que aconteceu com o servo ferido? Abra no evangelho de Lucas, capítulo 22, versos 50 e 51:
Um deles feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha direita. Mas Jesus acudiu, dizendo: Deixai, basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou.
Você quer ver misericórdia em meio à loucura e confusão? Você quer ver o amor de Deus derramado sobre o inimigo de Deus? Aqui está!
Agora, Mateus, Marcos, Lucas e João nos dizem claramente que a espada de Pedro cortou fora a orelha de Malco. A palavra grega pode ser traduzida como “cortar fora.” Contudo, Lucas é o único evangelista que nos informa que Jesus curou o servo. Talvez porque Lucas, sendo médico, foi o único que achou isso interessante!
O que eu acho interessante é que Lucas não diz que Jesus pegou a orelha decepada do chão e a recolocou no lugar; Lucas, o médico, observou cada detalhe dessa cirurgia e simplesmente disse: “[Jesus] tocou a sua orelha e ele foi curado.”
A palavra utilizada no verso 51 para se referir a orelha é diferente da usada no servo 50. No verso 51, a referência é, na verdade, ao lugar da orelha; poderíamos traduzir: “Jesus tocou ‘no lugar onde a orelha ficava’.” O motivo por que estou falando isso é porque podemos, facilmente, ignorar um ato maravilhoso de Jesus. Ele disse: “EU SOU” e somente Deus tem o poder de criar coisas do nada. Esse não foi um procedimento médico de reatar a orelha em seu lugar, mas um milagre de recriação!
Imagine! Lá está no chão a orelha de Malco ferida – mas ele tem uma outra orelha direita novinha em folha! Nenhuma carne sangrando, caindo aos pedaços, mas uma orelha totalmente nova. Além disso, não existe mais sangramento ou gritos de dor – por um instante, talvez, aqueles homens se calaram e maravilharam diante do homem a quem vieram prender.
Qual seria o futuro de Malco – o homem com a “orelha milagrosa”?! Será que o seu patrão, o sumo sacerdote, o proibiu de falar do assunto? Será que seus superiores o repreenderam por ter deixado o Nazareno tocar a sua orelha? Será que ele foi pressionado a negar o acontecido? Eu não sei; a única coisa que sei foi que Malco nunca se esqueceu daquela noite. Quem sabe, um dia, ele tenha colocado sua fé no Cordeiro.
A Perspectiva de Jesus – Submisso!
Agora, quero que você veja a perspectiva de Jesus em relação a tudo isso. Vamos voltar ao evangelho de João, capítulo 18, verso 11.
Vemos, aqui, a perspectiva de Jesus que serve de modelo para lidarmos com a traição – tranquilidade. Isso foi o que o possibilitou a enfrentar aquela corja de bandidos com calma, autoridade e também misericórdia. Veja o verso 11:
Mas Jesus disse a Pedro: Mete a espada na bainha; não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?
Beber um cálice é frequentemente usado nas Escrituras como um símbolo de passar por sofrimento e tristeza. Quando a Babilônia capturou Jerusalém, a cidade bebeu do “cálice da sua ira,” conforme Isaías 51. Jeremias, no capítulo 51, retrata a ira de Deus contra as nações como o derramar de um cálice. Beber um cálice significa passar por alguma experiência difícil.
Um exemplo atual é que muitos troféus são em formato de um cálice ou uma taça, sugerindo que os atletas perseveraram diante de situações adversas.
Jesus, agora, se refere ao sofrimento que está prestes a experimentar como cálice que Ele deve beber.
Como foi possível Jesus aceitar beber esse cálice? O verso 11 nos diz – Sua perspectiva correta e perfeita é vista no fato que Ele entendia que o cálice vinha do Pai.
Jesus viu o Pai por trás de tudo. Ele não viu Judas, mas o Pai. Ele não viu aquela corja furiosa somente; Ele viu o Pai.
No nosso calendário que fica no balcão da cozinha existe uma frase que diz: “Os olhos da fé são simplesmente olhos capazes de enxergar a mão de Deus por trás de todas as coisas!”
Jesus pôde lidar com a traição, dor e sofrimento porque Ele via a mão do Pai Lhe dando aquele cálice.
C. S. Lewis escreveu:
No coração de uma vida obediente está a submissão à soberania de Deus...
(uma outra forma de dizer: “...ver a mão de Deus por trás de todas as coisas.”)
...mesmo quando passando pelo vale da sombra da morte, mesmo quando a escuridão da floresta nos oprime, mesmo quando nos vemos passando por um deserto com o diabo bem diante de nossa face. Mesmo no escuro, buscamos confiar na soberania de Deus.
Que exemplo Jesus foi para nós. Você está num vale? Foi traído? Rejeitado? Está sofrendo? Não temas! O cálice foi misturado e dado a você pelo próprio Pai! Você não vai beber?
Existe uma frase que diz: “Se você tem paz quando todos ao seu redor estão em pânico, talvez você não tenha entendido o problema.”
Bom, dê uma olhada no jardim do Gestêmani. Com a quadrilha – um bando de demônios; para os discípulos – pânico; para Jesus – paz.
O legado deixado pelo Cordeiro dentro do jardim é que Ele viveu o que Ele mesmo prometeu em João 14, verso 27.
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
Onde você está nesse cenário do Jardim do Getsêmani?
Onde você está nesse cenário do Jardim do Getsêmani?
- Você se identifica com aquela corja de amotinadores que rejeitaram Jesus?
Em Mateus 12, verso 30, Jesus disse:
Quem não é por mim é contra mim...
Quando o assunto é Jesus Cristo, não existe neutralidade.
- Você se identifica com o traidor?
Você é alguém que finge amar a Deus e a Cristo, mas, na verdade, você está em busca de conseguir o que quer – e, caso não consiga, você vende Jesus porque simplesmente achou algo melhor?
- Você é como Pedro?
Você está convencido de que o Senhor precisa de sua ajuda e, pela sua própria força, está tentando servi-lO?
- Ou você é como o Senhor Jesus?
Talvez você diga: “Ah, isso não é justo; ninguém pode ser igual a Ele.”
Sei disso, mas o princípio permanece, de acordo com Filipenses 2, versos 5 e 8:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... [porque Jesus] se tornou a si mesmo obediente até a morte, e morte de cruz.
Que cálice o Pai deu a você? Creio que a sua habilidade de beber desse cálice é diretamente proporcional a sua habilidade em ver o Pai por trás de todas as coisas. Você somente irá beber desse cálice se entender que ele veio, de fato, das mãos do Pai. E isso envolve grande fé. Você vai confiar no Pai e beber o seu cálice, assim como Jesus fez?
E pense no cálice de Cristo! Como Spurgeon disse certa vez: “Sabendo plenamente o conteúdo daquele cálice, Ele pegou o cálice, o levou à boca e engoliu seco a maldição!”
Que Salvador! Pagamos tributo a Ti, Cordeiro de Deus!
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 20/11/1994
© Copyright 1994 Stephen Davey
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