
Uma Virtude Rara
Uma Virtude Rara
Humildade—Parte 1
Filipenses 2.1–2
Introdução
Um pastor de meia-idade escreveu:
Estávamos num parque um tempo atrás e vimos um touro mecânico; as pessoas pagavam para montar no touro e tentar vencê-lo. Aproximei-me e disse ao rapaz que operava a máquina que queria montar no touro. Ele olhou meu corpo de meia-idade de cima a baixo e disse: “Tem certeza?” Isso me estimulou ainda mais! “Vou mostrar para ele que eu consigo fazer isso ainda!” O rapaz explicou que o touro tinha 12 níveis de dificuldade. Ele disse: “Pode até não ser fácil, mas o segredo é se posicionar no centro do touro; apenas siga os movimentos do bicho; você não pode ficar tenso, mas mude seu centro de gravidade conforme o touro se mexer.”
Então, subi no touro e ele começou devagar, mas depois ficou mais rápido, cada vez mais rápido. Mas eu estava determinado e me agarrei no bicho. Então, me lembrei do conselho e tentei liberar toda tensão, mas o touro estava se mexendo cada vez mais rápido, pulava e sacudia demais. Teve horas que estava me segurando de lado, determinado a vencer; algumas vezes, meus braços estavam levantados; outras vezes estavam agarrando a máquina.
Finalmente, o touro acalmou-se e parou; eu ainda estava na sela. Não foi bonito, mas consegui. Fiquei imaginando como o operador da máquina ficaria surpreso ao ver que eu havia triunfado. Então, eu desci da máquina, olhei para ele com um sorriso no rosto; ele sacudiu a cabeça, sorriu de volta e disse: “Muito bem! Esse foi o nível 1.”
O pastor continuou e escreveu como aquilo tinha sido um golpe mortal no seu sentimento de autoconfiança; de jeito nenhum ele iria para o nível 2. O que ele precisava, conforme admitiu, era de uma pequena dose de humildade sobre si mesmo.
Um colunista de um jornal secular colocou o dedo na ferida do ser humano quando escreveu: “Somos uma espécie confiante demais e entregue à exaltação do eu.” A fim de dar suporte à sua declaração, ele citou algumas estatísticas e estudos sobre como o ser humano é orgulhoso; e esse orgulho apenas cresce.
Pesquisadores entrevistaram pessoas de vários lugares do mundo pedindo que se avaliassem em várias questões diferentes. Uma pesquisa realizada em 1950 perguntou a estudantes do nível de ensino médio: “Você é uma pessoa muito importante?” Apenas 12% concordaram. Já em 1990, o resultado subiu para 80%. Hoje, 7 de cada 10 alunos de ensino médio entrevistados acreditam possuir habilidade para liderar acima da média.
Numa outra pesquisa, que incluiu universitários, alunos foram perguntados se conviviam bem com outras pessoas; 80% disseram estar acima da média em sua capacidade de se relacionar com outras pessoas; nem sequer um aluno disse ter dificuldades nessa área.
Entretanto, professores de universidade lideraram o caminho com suas visões distorcidas sobre si mesmos. Quando perguntados a mesma coisa, 88% disseram estar ou acima da média, ou numa posição excepcional quanto à sua capacidade de se relacionar com outros. Na verdade, 94% de professores de faculdade disseram possuir uma habilidade para ensinar que é acima da média.
O artigo do jornal afirmou o seguinte: “Uma das conclusões mais claras de pesquisas de ciências sociais é a de que somos orgulhosos.” O artigo concluiu: “Em suma, existe evidência abundante de que deixamos de ser uma cultura que subestimava o eu e passamos a ser uma cultura que se gloria no eu.”
Essa é outra forma de dizer que, no passado, a humildade era uma virtude; hoje, essa virtude se tornou rara.
Quando a pessoa pensa só em si mesma, promove a si mesma e foca em si mesma, ela fica propensa a ser enganada em todas as áreas da vida e numa situação perigosa. Por que? Simplesmente, como disse C. S. Lewis, o orgulho é a galinha sob a qual todos os demais pecados são chocados.
O orgulho foi o primeiro pecado—chocado no coração de Lúcifer, o ser angelical mais elevado de todos, agora caído e conhecido como Satanás. Podemos ver seu orgulho registrado em Isaías 14.13–14:
Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
Lúcifer diz 5 vezes: “Eu, eu, eu, eu, eu!”
Todo pecado pode ser traçado de volta ao orgulho, independente de qual seja o pecado. Pecado é a humanidade dizendo: “Farei o que eu quiser, independente do que Deus diz. Serei meu próprio mestre e governarei minha própria vida.” E esse é um problema que aflige a humanidade inteira.
O problema mais grave ainda é que o orgulho bate à porta de cada igreja e cada crente, e ele pode desviar muitos do caminho. Isso pode ser ilustrado de forma até cômica por um pastor que escreveu com transparência:
Eu estava realizando um funeral e, quando terminei, pediram que eu conduzisse a procissão em direção ao cemitério. Então, entrei em meu carro e comecei a dirigir para o cemitério, conduzindo muitos outros que vinham atrás de mim. Eu liguei o rádio e comecei a fazer algumas coisas dentro do carro. Vagando em meus pensamentos, acabei esquecendo para onde estava indo e entrei no estacionamento de um mercado para pegar algo que precisava. Pouco depois, olhei no meu retrovisor e vi uma fila de carros entrando no estacionamento atrás de mim com faróis acesos. Eu me ocupei comigo mesmo, com as minhas coisas e me esqueci para onde ia. Logo em seguida, acabei me humilhando.
É nessa direção que Paulo deseja que a igreja de Filipos dirija; não para um estacionamento num supermercado, mas em direção à humildade profunda. Apenas reconhecer que todos nós batalhamos com o problema do orgulho e do eu não é o suficiente; precisamos de um texto divinamente inspirado para fornecer direção a uma vida, espírito, mentalidade e atitude humildes. Não podemos esquecer para onde estamos indo, nem quem nós somos. Com isso, chegamos a Filipenses 2.
Hoje, começamos uma minissérie de mensagens que pode ser intitulada Humildade. Agora, antes de qualquer coisa, precisamos entender logo no início que humildade bíblica não é pensar pouco ou de forma deplorável sobre si mesmo. Isso, na verdade, pode até ser uma forma de orgulho e de querer chamar atenção.
Andrew Murray escreveu que a verdadeira humildade não é pensar sobre si de forma inferior; humildade é quando nem sequer pensamos em nós mesmos.
Agora, nesse capítulo, o Espírito de Deus através de Paulo irá:
- Exigir humildade sem qualquer justificação;
- Ilustrar a humildade na pessoa de Cristo Jesus de forma belíssima; e
- Aplica-la claramente não somente à igreja, mas a cada crente individualmente.
E ele começa com uma série de declarações. Veja Filipenses 2.1:
Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias,
Note a repetição, quer de forma explícita ou implícita, da construção se há. Essas são orações condicionais. Talvez você pense que Paulo está se perguntando se essas coisas são verdade: “Será que existe alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, comunhão do Espírito? Será?”
Contudo, a partícula condicional se pode ser entendida no grego como “já que.” Em outras palavras, poderíamos ler: “Já que existe exortação em Cristo, consolação de amor, comunhão do Espírito....”
Agora, isso, obviamente, suscita a pergunta: “Então por que Paulo não escreveu ‘já que’ ao invés de ‘se’?” O que Paulo faz é usar uma abordagem que nos conduz logicamente à conclusão correta. Ele escreve como um advogado, levando as testemunhas a concordar sobre determinadas coisas de maneira a provocar apenas uma reação.
Um autor escreve que o que Paulo faz aqui se assemelha ao que pais fazem com seus filhos quando desejam provar alguma coisa: fazemos perguntas que precisam ser respondidas com um “sim” de maneira a levar à conclusão adequada. Isso funciona da seguinte forma:
Você pergunta a seu filho: “Você se preocupa com os sentimentos de sua irmã?” “Sim.”
“Certo, então, você acha que ela gostaria que você parasse de mexer e estragar a boneca favorita dela?” “Sim.”
“Você quer que ela goste de você como o irmão mais velho?” “Sim.”
“Bom, então, se tudo isso é verdade, por que você não começa a ser um bom exemplo para ela lá no quintal enquanto brincam?”
Se... então; se essas coisas são verdade, então essas outras devem acontecer! Portanto, essas quatro frases não são possibilidades, mas certezas. Poderíamos reestruturar o que Paulo diz da seguinte forma:
“Existe alguma exortação em Cristo? Sim, existe. Existe alguma consolação de amor? Sim, eu sei que isso é verdade. E o que dizer de comunhão do Espírito, existe alguma? Claro que sim. Existe algum entranhado afeto e misericórdia? Sem dúvidas.”
Bom, então, se todas essas coisas são verdade—e elas são—já que são verdade, completem a minha alegria demonstrando humildade em unidade.
Em outras palavras, se isso, e isso e aquilo é verdade—então... faça alguma coisa com isso. Dwight Pentecost parafraseia esse verso da seguinte forma: “Se há qualquer exortação em Cristo—e sem dúvida existe; se há alguma consolação de amor—e sem dúvida existe; se há alguma comunhão do Espírito—e sem dúvida existe; se há afetos e misericórdias—e sem dúvida existem; então, é o seguinte: completem minha alegria [sendo unidos em humildade].”
Portanto, essas quatro frases são não somente quatro realidades sobrenaturais, mas devem ser quatro experiências de todo crente. Vamos observar cada uma individualmente.
- Primeiro, Paulo se refere a exortação em Cristo.
A palavra exortação é o grego paraklesis, o qual pode ser traduzido como “encorajamento, consolo.”
Paulo pergunta à congregação filipense: “Algum de vocês experimentou o consolo e o encorajamento de Jesus Cristo?”
Sem dúvidas, todos responderiam: “Claro que sim!” Essas coisas começaram com a salvação e mudaram tudo.
Nesses dias, morreu um homem que recebeu a Cristo 10 meses atrás na mesa de sua cozinha; lágrimas desceram em seu rosto. Ele era um judeu que, no decorrer dos anos, eu vi com bastante frequência na concessionária da Ford perto da minha casa. Ele era gerente de vendas e tinha visitado nossa igreja algumas vezes quando seus filhos ainda eram pequenos—uns 20 anos atrás. Eu conversava com ele sobre o Evangelho e o convidava para nossa igreja, mas ele sempre dizia: “Ah não... domingo é um dia perfeito para jogar golfe.”
Com o passar dos anos, perdi contato com ele, até que, 10 meses atrás, sua filha, já adulta e casada, me escreveu e disse: “Não sei se você ainda se lembra do meu pai, mas ele está com câncer estágio 4 e acho que deseja conversar com você.”
Então, eu fui, abri o Antigo Testamento e lhe expliquei o Evangelho; perguntei se ele havia entendido e se gostaria que Jesus Cristo—o Salvador sofredor que morreu—fosse seu Messias. Com lágrimas descendo em seu rosto, ele disse “sim.”
Como ele mudou depois dessa decisão! Ele se sentou do lado direito na igreja durante os cultos, até que não conseguiu mais ir para a igreja. Antes da minha viagem para Israel, sua família me disse que o lar onde ele estava recebendo tratamento havia ligado; então, fui visita-lo e disse: “Ei, estou viajando para a terra de seus antepassados, um lugar no qual viveremos para sempre um dia com Cristo.”
Li para ele a descrição que João fornece da Nova Jerusalém—da Cidade Santa—em Apocalipse 21 e 22. E ele absorveu tudo; esse homem tinha encontrado profundo encorajamento em Cristo.
Mais adiante nessa passagem, Paulo dirá que o crente não deve guardar essa notícia para si mesmo. E esta é a ideia aqui: essas são não somente declarações de realidades espirituais encontradas no Senhor, mas precisam ser proclamadas, anunciadas e manifestadas na prática com o próximo.
Paulo trata do mesmo assunto ao empregar a mesma palavra para exortação ou “consolo” quando escreveu para os crentes de Corinto:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus (2 Coríntios 1.3–4).
E o que isso exigirá? Humildade e sacrifício pessoal. Por que? Simplesmente porque a pessoa orgulhosa e que pensa somente em si mesma ficará muito feliz em ser consolada por Deus em todas as suas aflições. Mas, para ver os problemas, tristezas e sofrimentos na vida de outra pessoa e consolá-la exige que tiremos os olhos de nós mesmos e observemos as pessoas ao nosso redor!
O orgulho nos cega para não vermos as pessoas à nossa volta; o orgulho tapa nossos ouvidos e ata nossas mãos. Por outro lado, a humildade nos permite enxergar a dor e sofrimento do próximo; e a humildade nos compele a não somente observar, mas a fazer alguma coisa!
- Segundo, Paulo fala no verso 1 sobre consolação de amor.
Essa é uma referência ao amor de Jesus Cristo por nós e pode ser traduzida como “falar de forma amistosa com a outra pessoa.” A palavra consolação transmite e ideia de falar de forma próxima com outra pessoa a fim de oferecer conforto.
Dois dias atrás, entrei num quarto de hospital; ali estava uma senhora próxima da morte—uma crente cujo legado de fé e alegria foram transferidos à sua filha que é parte de nossa igreja juntamente com seu marido e filhos. Eu entrei no quarto e lá estava a filha lendo para ela várias passagens bíblicas, lendo consolação para o coração de sua mãe. Quando entrei, ela estava lendo a letra de um hino. Eu reconheci a letra e disse que era um dos hinos favoritos de minha esposa. A filha então disse: “Você sabe o hino?” Respondi, “Sim.” “Você quer cantar?” Então eu cantei, apesar de ter desafinado bastante.
Aquele momento, ali no quarto de hospital, foi nada mais do que um momento de consolação de amor de Cristo. E que grande amor! Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Romanos 5.8).
Que humildade foi essa... como Deus agiu de forma profundamente humilde! Mais adiante nesse capítulo, Paulo descreverá a atitude de Deus como a maior expressão de humildade do Rei dos reis que se tornou servo da humanidade.
Como é consolador saber que Deus correu atrás da humanidade para nos salvar; que Deus nos escolheu para ser a noiva de Seu Filho; que Deus teria prazer em nos oferecer vida eterna, um trono real e alegria perpétua.
Que humildade infinita é essa que Deus tem a ponto de nos oferecer esse tipo de consolo? Paulo ligará esses pontos depois—amor desse tipo é impossível sem humildade.
- Terceiro, Paulo destaca no verso 1 a comunhão do Espírito.
Essa é a koinonia do Espírito. Já nos deparamos com essa palavra antes, traduzida como cooperação—koinonia. No capítulo 1, Paulo falou da koinonia com ele no Evangelho. Lembre-se, koinonia é muito mais do que um “junta de panelas” ou pequenos grupos. Koinonia se referia, na verdade, a um empreendimento em parceria.
Achei interessante descobrir que, na cultura grega secular, a palavra se referia a herdar um bem em comum. Nos dias de Paulo, se herdeiros herdassem uma propriedade, a herança comum não significava que cada herdeiro herdaria uma parte da propriedade, mas que ambos se tornavam donos juntos da propriedade por completo.
Isso tem uma aplicação profunda na realidade espiritual. O apóstolo Paulo nos diz que os crentes em Cristo são herdeiros do Espírito Santo—temos uma herança em comum, a posse comum do Espírito de Deus. Não recebemos cada um uma fração do Espírito, mas o Espírito por completo.
Todo crente possui essa posse comum; pela fé em Cristo, a todos nós foi dado beber de um só Espírito (1 Coríntios 12.13) e somos todos santuário do Espírito Santo (1 Coríntios 6.19). Em outras palavras, todos nós herdamos de Deus a propriedade por completo; nesse caso, a Pessoa completa do Espírito Santo. Nossa comunhão com o Espírito é total.
Agora, mais uma vez, essa é uma realidade espiritual que precisa ser demonstrada na realidade prática. Se o Espírito se rebaixou em profunda humildade para ter comunhão conosco, será que estamos dispostos a ter comunhão com o próximo? Você se incomoda com o fato de cultuar junto com pessoas que você não escolheu a dedo? Ou seja, se o Espírito de Deus nos reconhece como coerdeiros com Cristo, será que nós reconhecemos o irmão como nosso coerdeiro? Como enxergamos o próximo?
Gosto do que C. S. Lewis escreveu décadas atrás: “Lembre-se que a pessoa mais simplória com a qual você conversa poderá, um dia, ser uma criatura que, se visse agora, seria tentado a adorar. É à luz disso que deveríamos nos conduzir em nossos relacionamentos com o próximo. Não existem pessoas comuns; você jamais conversou com um mero mortal.”
- Quarto, Paulo destaca a realidade de entranhados afetos e misericórdias.
Afetos é uma palavra que se refere à pessoa interior, uma ideia que fica ainda mais clara por causa do adjetivo entranhados. Esse adjetivo deriva da palavra “entranhas,” que se refere às vísceras. Essa tradução, apesar de meio grosseira, reflete a ideia original.
Na cultura de Paulo, as pessoas consideravam as vísceras—órgãos internos como intestinos—como a fonte e origem dos sentimentos e emoções. Esse é o termo grego splagchna—sentimentos e emoções profundos.
Se Paulo fosse até uma papelaria e comprasse um cartão do Dia dos Namorados, os dizeres do cartão seriam algo semelhante ao seguinte:
- “Te amo de todas as minhas vísceras.”
- “Sempre te amarei de todo o meu intestino.”
- “Tenho uma saudade por você no fundo dos meus rins.”
Com o passar do tempo, como sabemos ser o caso em nossos dias, o coração passou a ser associado à sede e fonte das emoções; e isso é algo bom, porque é muito melhor dizer “Te amo de todo meu coração” do que “Te amo de todo meu fígado.”
A próxima palavra que Paulo menciona como uma demonstração de humildade é misericórdias ou “compaixão.” O termo se refere especificamente à atitude de se preocupar com a desgraça alheia. Em outros contextos, Paulo emprega o termo para falar da compaixão ou misericórdia de Deus. Em 2 Coríntios 1.3, por exemplo, ele descreve Deus como o Pai de misericórdias.
A coisa mais importante a destacarmos aqui é que as ideias de entranhados afetos e misericórdias são interdependentes; ou seja, não podemos ter um sem o outro.
Entranhados afetos é a fonte interna do sentimento e misericórdia é a manifestação prática e visível desse sentimento. Um autor chamou os afetos de a raiz e misericórdias de fruto.
Já que todas as quatro declarações são realidades, Paulo, agora, faz a aplicação que deseja no início do verso 2: completai a minha alegria. O que temos aqui é um imperativo: completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa.
Agora, parece até ser algo contraditório ver Paulo mandando a igreja completar sua alegria enquanto escreve sobre humildade e sobre não pensar em si mesmo, mas nos outros. E você está certo; isso soa como arrogância mesmo.
Contudo, nesse contexto, Paulo revela a verdade de que existe uma alegria muito mais rica, profunda e doce do que o desejo egoísta; é a graça de Cristo que transforma um coração para que essa alegria pessoal esteja no fato de ver irmão crentes crescendo mais e mais conforme a imagem de Jesus Cristo.
Paulo diz: “Este é o tipo de coisa que vai disparar o meu nível de alegria: ver vocês demonstrando a humildade de Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito na versão de amor, exortação, comunhão e cuidado em toda humildade.”
Agora, não ignore o seguinte: Paulo está preso em prisão domiciliar; ele está algemado sob constante guarda, sem qualquer tipo de liberdade para se mexer, isolado de seus amigos e mal entendido pela igreja de Roma—e ele diz aqui: “Sabe o que me deixaria alegre demais? Seria ver que vocês estão manifestando unidade na humildade.”
Fiquei pensando: como nós responderíamos essa pergunta? “Sabe o que me deixaria alegre demais? __________.” “O que me deixa incrivelmente alegre na vida é ________.”
Qual seria a sua resposta? O que você escreveria nessas lacunas?
Paulo diz: “O que encheria o tanque da minha alegria não seria sair dessa prisão domiciliar, reconquistar meus amigos, ser vindicado diante dos líderes da igreja de Roma que me condenam, nem receber um galardão por servir a Cristo. O que encheria o tanque da minha alegria seria ver a igreja demonstrando humildade uns para com os outros.”
Esse é o coração de um verdadeiro pastor; esse é o fervor de um crente genuíno.
Esse é o coração de Cristo.
Esse é o coração do Cristianismo.
Quando pediram que Agostinho, o grande teólogo do século quarto, listasse três elementos fundamentais da vida cristã, ele respondeu: “Primeiro, humildade; segundo, humildade; e terceiro, humildade.”
Essa é uma virtude distintiva que está cada dia mais rara; está na hora de trazê-la de volta à nossa realidade; está na hora de demonstrá-la em nossos relacionamentos. E a igreja é o primeiro lugar onde a humildade deve ser contemplada.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado dia 15/02/2015
© Copyright 2015 Stephen Davey
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