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Avançando em Marcha Ré

Avançando em Marcha Ré

參考: Philippians 1–4

Avançando em Marcha Ré

Avançando—Parte 1

Filipenses 1.12–14

Introdução

Nos cultos de domingo à noite em nossa igreja, estamos realizando uma série de estudos sobre a guerra contra pecados que parecem jamais nos deixar em paz. Mencionei um pastor do século dezessete chamado John Bunyan.

John Bunyan era um pastor batista independente, o que significa que ele não estava filiado à liturgia e teologia da Igreja da Inglaterra. Sua pregação, contudo, era tão frutífera que a Igreja da Inglaterra não sabia como conseguiria silenciá-lo. Por fim, os políticos conseguiram aprovar leis que proibiam ministros não licenciados de realizar cultos privados nos quais houvesse mais de 5 pessoas. O rei estava, na verdade, tentando acabar com os cultos evangélicos da época.

John Bunyan acabou sendo preso e passando grande parte de sua vida adulta dentro de uma cela. Em certa ocasião, um magistrado se simpatizou com a situação e quis liberar John para voltar à sua esposa e filhos; foi nesse momento, dentro do tribunal, que John Bunyan fez a famosa declaração: “Se você me soltar hoje, pregarei amanhã.”

Até mesmo preso, ele começou a pregar no pátio da prisão. Bunyan não somente atraía muitos presidiários, mas também centenas de pessoas de uma cidade vizinha apareciam na prisão aos domingos e ficavam de pé do lado de fora da prisão para ouvi-lo expondo as Escrituras. Finalmente, os oficiais o silenciaram ao colocarem-no numa solitária.

Mesmo ali dentro em solidão e silêncio, a voz de John Bunyan teria um volume e um alcance maior do que as pessoas jamais imaginariam. No recôndito daquela prisão, John escreveu uma alegoria sobre como o Evangelho de Cristo e Sua obra na cruz convenceram um homem, pai de família, chamado Cristão. Cristão creu no Evangelho e, como resultado, passou a ser marginalizado em sua cidade. John Bunyan registra a jornada de Cristão por meio de uma batalha espiritual e uma provação de adversidade após outra enquanto viaja a caminho da Cidade Celestial—ou Céu. Seu livro dessa alegoria se espalharia como incêndio numa floresta.

Se você lhe perguntasse quais eram seus planos, John Bunyan diria que era pastorear e pregar, não escrever um livro de dentro de uma prisão. Todavia, sua obra ultrapassou qualquer pregação e esse livro, intitulado O Peregrino, alcançaria corações de dezenas de milhões de pessoas. De fato, por vários séculos, o livro O Peregrino foi o mais lido e traduzido do mundo, ultrapassado apenas pela Bíblia.

Tenho certeza que, se perguntássemos a John Bunyan como as coisas estavam indo em momentos diferentes de sua vida, ele provavelmente diria que não estavam indo nada bem. Na verdade, parecia haver pouquíssimo progresso e avanço.

Durante uma de suas prisões, sua primeira esposa morreu, deixando 4 filhos, e um deles havia nascido cego. Ele se casaria novamente e sua segunda esposa escreveria numa carta a uma amiga dizendo que não tinham “nem uma botija, nem uma colher diante deles.”

Foi somente próximo do fim de sua vida que John Bunyan começou a perceber que sua maior contribuição ao Evangelho veio por meio de isolamento, dificuldade e reveses em seus planos e sonhos. Seu livro foi publicado em duas partes—a segunda apenas 4 anos antes de sua morte.

A mesma lição sobre vida cristã permanece verdade ainda hoje. Precisamos da perspectiva correta para chegar a um entendimento positivo sobre os reveses que Deus coloca em nossas vidas—aqueles momentos quando parecemos recuar ao invés de avançar e não entendemos exatamente por que. Precisamos aprender a confiar no Senhor—que mesmo que os reveses nem sempre venham acompanhados de uma explicação, existe sempre um motivo para a sua existência.

E isso significa que o Cristianismo envolve um dos maiores desafios para nós: a renovação de nossas mentes para aprendermos a enxergar as mudanças em nossas circunstâncias como parte do currículo de Deus. E, se você já viveu o suficiente na fé, já descobriu que Deus, com bastante frequência, nos faz avançar em marcha ré. Somente depois percebemos que, aquilo que pensávamos ser um retrocesso—distanciamento do alvo—era, na verdade, um avanço, um progresso em direção ao objetivo mais sublime de Deus, algo que produziu mais glória para Deus e mais maturidade e confiança em nós.

Deus frequentemente nos faz avançar em marcha ré. Isso significa—e isso vai soar meio estranho—que nós, os crentes, precisamos aprender a inverter nosso pensamento a fim de interpretarmos corretamente as circunstâncias da vida que Deus ordena para nos fazer avançar. Deus frequentemente nos faz avançar em marcha ré.

Essa é exatamente a lição que Paulo busca comunicar aos crentes morando em Filipos. E o apóstolo inverterá a maneira de pensar desses crentes para que pensem corretamente sobre a obra de Deus na situação em que se encontram.

Em Filipenses 1, vemos a perspectiva que Paulo tem da vida. Enquanto exploramos o parágrafo que começa no verso 12, você entenderá por que estamos falando sobre avanço em marcha ré. Leia os versos 12–14:

Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus.

Que perspectiva da vida. Paulo inverte tudo ao interpretar de forma singular três questões que teriam produzido desespero em nós. Permita-me repetir o que Paulo escreveu aqui com três declarações sobre como ele interpretou os eventos catastróficos em sua vida.

  • A primeira declaração é a seguinte: “Eu sofro reveses e o Evangelho avança.”

Essas duas orações coordenadas parecem ser contraditórias. Essa é, contudo, a maneira como Deus muitas vezes avança—contrário à lógica humana. E Paulo sabe que isso soaria meio estranho aos nossos ouvidos.

Ele disse algo parecido em 1 Coríntios 16.9:

porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários.

Mas qual dos dois é verdade: trata-se de uma oportunidade ou de adversidades? Geralmente é um ou outro. Paulo sabe muito bem que está invertendo a maneira normal de interpretar as circunstâncias da vida.

Então, aqui em Filipenses, ele faz a mesma coisa. Ele começa dizendo no verso 12: Quero ainda, irmãos, cientificar-vos. Essa frase imediatamente chama a atenção do leitor.

Essa era uma expressão comum dos dias de Paulo empregada para chamar a atenção das pessoas para algo que poderia ser facilmente interpretado de maneira errada ou algo difícil de aceitar.

Em nosso linguajar de hoje, Paulo diz: “É o seguinte: vou dizer algo que vocês acharão difícil de acreditar. Não vai ser fácil; então, prestem atenção.”

E ele diz logo em seguida: as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho.

Ou seja: sofro reveses e o Evangelho avança.

Agora, Paulo poderia ter feito uma pausa aqui e escrito livros e mais livros sobre as coisas que tinham lhe acontecido. Mais provavelmente, ele não precisou porque essa igreja mantenedora sabia muito bem. Contudo, para o nosso benefício, podemos lembrar de algumas tragédias em sua vida.

Em Atos 21, Paulo viaja para Jerusalém sob risco de perder a vida. Como imaginado, ocorre uma amotinação no templo e ele é preso.

Em Atos 23, Paulo finalmente recebe o direito a um julgamento. Somos informados que 40 homens judeus fizeram um juramento entre si de que não comeriam, nem beberiam coisa alguma, até que matassem Paulo.

Mais adiante no mesmo capítulo, lemos que um sobrinho de Paulo descobre o estratagema e o conta a Paulo. Na mesma noite, 200 soldados, 70 cavaleiros e 200 homens com lança escoltam Paulo à noite, depois das 9 horas, para outra cidade.

Em Atos 24, Paulo finalmente comparece diante de um oficial que tem o poder de soltá-lo, mas, ao invés disso, exige de Paulo suborno para que o solte. Já que Paulo não o suborna, ele passa dois anos numa prisão em Cesareia.

Dois anos depois, Paulo comparece a outro julgamento diante de outro oficial e, poucos dias depois, se encontra diante de Agripa; nessa ocasião, Paulo apela ao imperador César. O tribunal concorda e assim começa a viagem de Paulo a Roma.

Em Atos 28, uma tempestade se forma no mar e o navio no qual Paulo está naufraga. Todos os passageiros nadam para salvar suas vidas e conseguem encontrar abrigo numa ilha próxima chamada Malta.

Enquanto esses náufragos encharcados se aglomeram em torno de uma fogueira feita pelos nativos, o próprio Paulo vai pegar lenha para o fogo; quando pega alguns galhos, uma cobra que estava escondida pica Paulo e fica agarrada à sua mão.

Todos pensam que Paulo morrerá, mas ele não morre. Contudo, ele sem dúvida sobrevive com a dor e o desconforto de haver sido picado por uma serpente.

Em Atos 28, Paulo finalmente chega a Roma e é colocado em prisão domiciliar. Depois de todo esse tempo e de todos esses acontecimentos, imaginaríamos que Paulo fosse escrever algo como: “Quero que vocês saibam, irmãos, que o que me aconteceu me desanimou bastante... tudo isso me levou à conclusão de que ou Deus não se preocupa comigo, ou não sabe edificar Sua igreja. Estamos apenas retrocedendo; esses têm sido anos de um revés após outro.”

Ao invés disso, Paulo diz: “as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho. Os oficiais de posições mais altas ouviram o plano de salvação; líderes do governo foram informados sobre o Evangelho.”

Eu sofro reveses e o Evangelho avança.

Deixe-me fazer mais um comentário aqui: precisamos lembrar que Paulo não fala com um pietismo falso aqui. Ele não está dizendo: “Que vida maravilhosa é essa do Cristianismo?! A picada daquela cobra nem me fez piscar e eu me adapto à vida de preso com muita facilidade.”

Apesar de aludir rapidamente às coisas que lhe haviam acontecido, Paulo escolhe uma palavra interessante que nos foi traduzida como progresso. Veja a última parte do verso 12: as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho. O termo grego para progresso é proskope, que significa “desmatar, desbravar adiante.”

Esse é o verbo usado para falar daquele que derruba árvores e capim para fazer uma trilha, ou daquele que remove obstáculos que podem impedir que um exército avance.

Em outras palavras, é trabalho pesado! Enquanto Paulo diz que tudo que tem acontecido tem contribuído para o progresso do evangelho, ele enxuga o suor de sua testa.

Fico imaginando Hudson Taylor no segundo andar de seu apartamento no litoral da China, sentado à uma escrivaninha traduzindo as Escrituras sob uma temperatura de 40º C, escrevendo com uma mão e com a outra mão enxugando o suor que desce em seu rosto e pinga de seu queixo.

O Evangelho está avançando.

Veja que Paulo ainda escreve no verso 13:

de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana...

Paulo escreve: “A guarda imperial por completo ouviu o Evangelho de Jesus Cristo de minha boca.”

Vou destacar a perspectiva de Paulo sobre as circunstâncias da vida com uma segunda declaração. Paulo não somente diz: “Sofro reveses e o Evangelho avança,” mas ele agora diz:

  • “Estou sob uma guarda militar e ela é minha plateia prisioneira.”

“Estou em prisão domiciliar e esses soldados são minha plateia prisioneira.” E Paulo não está exagerando aqui quando diz que toda a guarda pretoriana tinha ouvido a mensagem do Evangelho. Vou dizer o que isso significa; é algo incrível.

O nome dessa guarda no latim era “Pretoriana.” Essa guarda é colocada em pontos estratégicos do império para inibir possíveis rebeliões. Essa é a única força permitida dentro da capital e os que compõem essa guarda têm apenas um objetivo: proteger pessoalmente o imperador e a família imperial.

César Augusto foi o primeiro a implementar essas tropas. Ele escolheu a dedo cada soldado até que chegou a 10 mil homens que formariam sua guarda imperial.

Eles serviam no máximo por 16 anos e, quando se aposentavam, eram honrados com cidadania romana e todos os privilégios decorrentes, além de uma pensão que totalizava 1 milhão de dólares na economia de hoje.

Esse grupo passou a ser chamado de “os fazedores do rei,” já que apenas o candidato que esses homens aprovavam poderiam ascender ao trono. Eles haviam conquistado o respeito de seus compatriotas; eram solados leais, trabalhadores, bem treinados e habilidosos. Na estratégia de estimular o progresso do Evangelho, Deus sabia que os soldados pretorianos seriam excelentes embaixadores.

Atos 28 nos conta que, quando Paulo chegou a Roma, ele foi entregue ao comandante da guarda pretoriana. Com base em outras passagens, sabemos que Paulo teve o direito de possuir sua própria câmara onde membros dessa guarda especial revezavam em sua escolta.

Mas entenda bem o seguinte: 24 horas por dia e 7 dias por semana, Paulo estava algemado e preso a um guarda pretoriano com uma corrente de 45 cm de comprimento. O turno trocava a cada 6 horas, dando a Paulo a oportunidade de pregar a 4 soldados todos os dias nos 7 dias da semana.

Paulo não reclamou das suas algemas; ele consagrou suas algemas a Deus.

É assim que você avança em marcha ré. Para os que observam de fora, você vai na direção errada; mas por causa de sua confiança no caráter de Deus e no currículo de Deus para sua vida, você acaba progredindo e avançando.

Paulo entendeu isso; ele interpreta sua prisão domiciliar como uma situação da qual aqueles soldados não poderiam escapar. Isso não era um obstáculo, mas uma oportunidade incrível.

Meu pai, que até hoje é um missionário entre os militares, me lembrou de que esse foi o primeiro movimento missionário com os militares na história da igreja. Esse era um campo missionário extremamente frutífero no qual Paulo pôde pregar o Evangelho de Cristo a essa tropa de elite que entrava em sua casa a cada 6 horas. Meu querido, isso significa que Paulo teve a oportunidade de pregar o Evangelho para mais de 3000 soldados. Soldados da elite que tinham intimidade com os oficiais mais poderosos do império.

Paulo ainda adiciona no verso 13 que não somente a guarda pretoriana ouviu o Evangelho, mas também todos os demais. Quem são esses? Esses são oficiais do governo, advogados e, mais provavelmente, eruditos judeus que trabalhavam para o Império Romano a fim de determinar se essa era ou não uma nova seita do Judaísmo, e se Paulo e seu Evangelho eram ou não uma ameaça ao governo romano.

Em outras palavras, pagos pelo Império Romano, todos esses oficiais foram praticamente forçados a estudar as alegações do Evangelho que Paulo lhes revelava.

  • Estou sob guarda militar e todos os soldados são minha plateia prisioneira!
  • Sofro adversidade e o Evangelho avança!
  • A terceira declaração é a seguinte: “Estou aprisionado para que outros crentes possam experimentar liberdade!”

Paulo escreve no verso 14:

e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus.

A propósito, a palavra falar em ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus não é um termo aplicado para alguma espécie de sermão ou pregação. O termo se refere a conversas comuns e cotidianas.

A implicação é que esses crentes—e é fácil de entender isso—estavam com medo e relutantes de compartilhar sua fé. A hostilidade apenas aumentava; líderes judeus intensificavam a oposição e perseguição, e os pagãos estavam começando a enxergar o Cristianismo como uma ameaça aos planos do império.

Então, a disposição de Paulo em escrever com alegria aos seus mantenedores, mesmo que soubessem que seu líder estava numa prisão domiciliar; sua perspectiva e espírito, bem como ousadia em pregar o Evangelho para os oficiais das posições mais altas na terra serviram de encorajamento para os crentes, de forma que ele diz: “Vejam bem, até mesmo meus irmãos e irmãs em Cristo encontraram uma nova liberdade para falar a verdade sem medo, mas com ousadia.”

Medo é contagiante, mas coragem também é contagiante.

A disposição de Paulo em interpretar os reveses da vida e as adversidades de suas circunstâncias com alegria e confiança em Cristo acabaram, na verdade, infundindo nos outros crentes o desejo de se juntar a ele para falar a verdade com ousadia.

Deixe-me adicionar o seguinte: vida infiel é contagiante, mas vida fiel para Cristo também é contagiante. Qual dos dois você ajudará a espalhar?

Estou preso e meus irmãos e irmãs experimentam, agora, uma nova liberdade. Que maneira tremenda de reinterpretar os eventos da vida de forma a confiar em Deus, proclamar o Evangelho e glorificar o Senhor Jesus.

Ao revisar as circunstâncias na vida de Paulo nos últimos capítulos do livro de Atos, lembrei de uma série de acontecimentos em minha vida uma década atrás—foi um revés após outro e tudo parecia estar retrocedendo em marcha ré. A única diferença foi que minha atitude não foi boa; minha perspectiva mudou apenas quando tudo terminou. Talvez você se identifique mais comigo do que com o apóstolo Paulo e poderemos aprender juntos

Numa certa ocasião, eu, minha esposa e nossa filha mais velha de 11 anos estávamos voltando da praia de carro—uma viagem de pouco mais de 2 horas e estava chovendo um pouco. Não me lembro bem do que aconteceu, mas começamos a aquaplanar sem controle. Nosso carro deslizou sobre a pista como se fosse gelo a uma velocidade de 90 km/h. Batemos em uma das barreiras e fomos derrubando várias coisas pelo caminho. Finalmente, paramos. Ninguém se machucou, as janelas não estavam quebradas, mas a lateral do carro estava destruída—o carro deu perda total.

Ligamos para um amigo nosso, membro de nossa igreja que é policial rodoviário naquela região. Dentro de alguns minutos, ele chegou lá para nos acalmar, nos ajudar e lidar com o trânsito. Ele até nos levou para casa.

Naquela época, estávamos exatamente no meio de uma série de estudos em nossa igreja falando sobre adversidades. Não mencionei isso na época porque achei que esse acontecido não se qualificava como adversidade à luz do que nossos irmãos e irmãs em Cristo estavam passando. Contudo, aquela foi uma adversidade para nós.

Lembro-me de ter lido o que um homem escreveu: “Apesar de nem sempre sabermos o motivo para a adversidade, sempre existe um motivo para a adversidade.”

Fiquei me perguntando qual seria o motivo para aquela adversidade.

Um tempo depois, fui a uma agência de veículos em busca de um carro como aquele que tinha sofrido perda total. Não consegui acreditar como o preço de carros estava alto. Então, fui em busca de um carro na internet e achei um carro usado como o nosso. Fiz uma pesquisa com o número do chassi e o carro tinha uma quilometragem baixa, nunca tinha passado por um acidente e ainda estava na garantia. Liguei para a agência e fizemos um negócio pelo telefone. Daí, viajei até lá para comprar o carro.

Meu plano era fechar o negócio naquele dia mesmo. Então eu fui e comprei o carro. Contudo, eu ainda não sabia o porquê de tudo aquilo. No caminho de volta dirigido o meu carro, parei para comer alguma coisa. Depois que terminei de comer e de tomar meu café forte, fui continuar a viagem, mas o carro não ligava mais! Não ligava. Estava somente fazendo aquele barulho estranho—não sou mecânico, mas sei reconhecer um barulho estranho no carro. O barulho não era o de bateria arriada; também não era o motor de partida. O barulho era como o de mil pessoas rindo da minha cara por ter viajado para comprar aquele carro.

Então, liguei para o cara que tinha me vendido o carro e perguntei: “Ei, o que é isso que você me vendeu?”

Ele disse: “Olha, como você sabe, os únicos serviços feitos nesse carro foram uma lâmpada nova e a trava de uma das portas. Esse carro nunca deu problemas.”

E isso era verdade—o carro estava muito bom.

Ele disse: “O carro ainda está na garantia. Então, você tem assistência.”

De repente, fiquei feliz! Depois de várias horas esperando, o guincho veio e me levou para uma cidade pequena. Durante o tempo todo, fiquei pensando: “Existe um motivo para essa adversidade.”

Quando chegamos à concessionária, ela já estava fechando. Eles deram uma olhada no carro e o mecânico me disse: “Olha, já passou das cinco horas. Amanhã, logo cedo, dou uma olhada melhor nele.”

Então, perguntei: “Tem hotel aqui perto?”

Ele disse: “Tem sim, logo ali mais adiante.”

Então, fui para o hotel e peguei um quarto. Daí, lembrei que poderia ter pedido para o meu irmão me reservar um quarto com seus pontos. Então, cancelei minha reserva e liguei para o meu irmão. Ele disse: “Sem problemas.”

Contudo, esse hotel onde eu estava não fazia parte da rede credenciada para que meu irmão fizesse a reserva com seus pontos. Ele me disse: “Olha, o pessoal do hotel está dizendo que não existe nenhum hotel credenciado na cidade onde você está. O mais próximo daí fica a uns 10 minutos.

Então, pedi um taxi. Meia-hora depois, o taxista veio e me disse que o hotel ficava, na verdade, a 35 km dali e que ficaria meio caro. Daí, eu saí do carro achando que ele estava me enganado.

Entrei de novo no hotel e falei com a recepcionista. Ela disse: “O taxista está certo.”

Agora, o que vou fazer? Eu tinha mandado o táxi embora e estava preso naquele hotel sem ter como ir para o outro hotel onde meu irmão já tinha me reservado um quarto com seus pontos. Então, liguei para a concessionária e falei com um vendedor. Expliquei a ele a minha situação e pedi que ele me levasse ao hotel, se ele pudesse.

Ele disse: “Olha, é uma viagem de uma hora ida e volta. Ainda tenho que finalizar meu horário de trabalho aqui… desculpa.”

Eu disse: “Certo. Obrigado. Não se preocupe.”

O que eu faço? Não tenho muito dinheiro comigo, estou com fome, não tenho como chegar ao meu hotel, meu carro é um abacaxi e estou preso em uma cidadezinha que não conheço.

“Qual é o motivo par tudo isso, Senhor?”

Vinte minutos depois, quando já estava prestes a ligar para o taxista de novo, a recepcionista do hotel me disse: “Tem uma ligação para o senhor.”

Era aquele vendedor. Ele já era um senhor aposentado, mas que estava trabalhando meio-expediente para conseguir um dinheiro extra. Ele disse: “Estava pensando em você. Sinto muito por você estar nessa enrascada. Olha, se você me ajudar com a gasolina, posso passar aí após o trabalho e levar você até seu hotel.”

Eu disse: “Muito obrigado.”

Um pouco depois das 8 ele apareceu. Estava claro que ele já estava cansado. Daí, saímos. A última coisa que eu queria fazer era conversar, mas ele começou a me contar a história da vida dele. Ele havia sido um prisioneiro de guerra e era divorciado; tinha filhos já adultos que dificilmente via. Um ano antes, ele havia sido diagnosticado com câncer, mas tinha sobrevivido. Ele tinha se mudado para essa cidadezinha no interior para ficar perto de sua namorada ainda da época de escola, que hoje era já uma viúva. Eles estavam se vendo, mas não sabiam o que lhes aconteceria. Daí, ele disse, sem saber que eu era pastor, que ele tinha tido várias transfusões de sangue por causa dos efeitos do câncer. Como resultado, foi informado de que havia contraído HIV. O vírus tinha se desenvolvido rapidamente e os médicos lhe haviam dito que ele tinha apenas seis meses restantes de vida. Ele me disse: “Sabe, nunca disse a ninguém antes que eu tenho AIDS. Você sabe o que eu decidi fazer? Vou para a praia e morrer no sol.”

Por duas semanas, eu fiquei me perguntando: “Por que? Qual o motivo desse acidente e dessa minha viagem e desse carro quebrado? Será que um dia saberei o porquê de tudo isso?”

Quando esse homem me disse: “Vou para a praia para morrer no sol,” eu então soube o motivo de tudo aquilo. Deus me tinha feito passar por todas aquelas coisas, me levado para aquela cidadezinha do interior para servir de mensageiro ao Rei, a fim de apresentar uma mensagem a esse homem, o qual Deus já havia preparado, em meio a toda aquela adversidade, para ouvir o Evangelho que produz o fruto da luz e da verdade e da esperança.

Nós nos sentamos no estacionamento do hotel e não demorou muito para que ele orasse e entregasse sua vida a Cristo Jesus somente.

Esse homem morreu pouco tempo depois. Eu demorei para identificar a verdade exemplificada pelo apóstolo Paulo: uma mudança nas circunstâncias para pior é frequentemente a maneira de Deus, no fim, nos conduzir na direção certa.

O crente maduro é aquele que aprende a identificar e interpretar os reveses da vida como parte do currículo de Deus, tanto para crescimento como para nossa confiança e influência para que outros também caminhem com Cristo. O crente maduro é aquele que descobre que Deus, com bastante frequência, avança em marcha ré.

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Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado dia 02/11/2014

© Copyright 2014 Stephen Davey

Todos os direitos reservados

 

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