
Dever, Honra e Pátria
Dever, Honra e Pátria
As Últimas Palavras—Parte 1
Apocalipse 22.6–9
Introdução
Eu tenho um livro de mais de mil páginas dedicadas a alguns dos grandes discursos e tributos feitos na história, incluindo de personalidades como Sócrates e de outros homens da modernidade.
Esse livro inclui a defesa de Martinho Lutero na Dieta de Worms com suas famosas palavras: “Aqui estou. Não posso renunciar,” bem como a famosa pregação de Jonathan Edwards: “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado.”
Além desses, o livro também contém o discurso de despedida de George Washington, o desafio de Napoleão aos seus soldados e uma mensagem de Winston Churchill ao povo da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. O livro também traz o famoso discurso de Martin Luther King Junior feito exatamente cem anos após a abolição da escravatura nos Estados Unidos.
Um dos meus discursos prediletos nesse livro é o do General Douglas MacArthur. Esse foi, na verdade, o seu último discurso. Esse general começou sua carreira militar quando foi para a academia em 1899. Com o passar dos anos, ele subiu de patente, finalmente tornando-se o comandante das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial. Dois anos antes de sua morte aos 82 anos, ele foi convidado para discursar em uma academia militar fazendo um desafio em torno de três palavras: dever, honrar e país. Deixe-me ler um parágrafo desse discurso. O general disse:
Dever, honra e país: essas três... palavras... ensinam... que você não deve substituir ação por palavras... que devemos perseverar em meio às tempestades, mas ter compaixão daqueles que caem; a ter domínio sobre si mesmo antes de querer dominar outros; a nutrir um coração puro e um objetivo nobre; a aprender a sorrir, mas nunca esquecer de como chorar; a ter uma perspectiva no futuro, mas jamais se esquecer do passado; a ser uma pessoa séria, mas nunca levar a si mesmo de forma séria demais... [Essas palavras] ensinam como ser um oficial e um cavalheiro.
O discurso desse general se torna ainda mais profundo à luz do fato de que essas palavras saíram da boca de um ex-soldado e um homem com pouco tempo restante de vida.
Já faz algum tempo que temos visto um soldado apresentando uma mensagem após outra. Temos estudado o discurso do apóstolo João—um homem com mais de 90 anos de idade e com pouco tempo restante de vida.
A diferença entre os discursos de famosos e heróis como esse que acabei de ler e a mensagem do apóstolo João é que a mensagem de João é não somente inspiradora, mas também é inspirada. Suas palavras não são meras palavras de um herói veterano da fé—essas são palavras de Deus comunicadas através dele.
Quando João começa a concluir o registro inspirado de Apocalipse no capítulo 22, os versos 6–21 formam um epílogo, ou seja, os últimos pensamentos inspirados do Espírito. João irá nos desafiar, convidar, lembrar e advertir com essas palavras poderosas de Deus.
Lembre-se que estas são as últimas palavras da revelação inspirada de Deus. Essas são as últimas palavras de Deus agora, mas nós O veremos um dia face-a-face e O ouviremos mais uma vez.
Abra sua Bíblia em Apocalipse 22. Você perceberá imediatamente que tudo o que João viu e tudo o que aprendemos até aqui nesse registro das Escrituras tem como objetivo estimular algumas reações.
Expectativa
A primeira reação é a de expectativa. Veja o verso 6, que é o princípio do epílogo:
Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer.
Em outras palavras: “João, você não estava delirando! Você não inventou essas coisas. Assim como o Espírito de Deus controlou os espíritos de Seus profetas para proclamar mensagens no passado, você também esteve sob a direção do Espírito Santo para proclamar uma mensagem sobre o futuro.”
O apóstolo Pedro colocou isso da seguinte forma em 2 Pedro 1.21:
porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.
João, entretanto, possui uma vantagem nesse processo de inspiração: ele é uma testemunha ocular do panorama profético. Pule para o verso 8 onde João escreve:
Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas...
O Criador eterno abriu a cortina do tempo e conduziu João ao futuro onde ele ouviu e viu o drama da história profética revelado. João volta do futuro para registrar aquilo que viu e ouviu.
O que aprendemos na revelação de João?
Os primeiros capítulos revelaram o desafio de Cristo para a igreja na era presente. Sete cartas às sete igrejas não somente se aplicam à história da igreja, mas definem o potencial de cada igreja local em cada geração. A igreja é advertida, encorajada, motivada e instruída nessa encomenda especial de sete cartas.
Daí, o cenário muda drasticamente de uma visão da igreja na Terra para uma visão da igreja no céu cantando um novo cântico ao seu Redentor.
Mas como a igreja sai da Terra para o céu? Paulo respondeu essa pergunta quando escreveu aos Tessalonicenses sobre o arrebatamento da igreja para estar com Cristo. Esse evento acontece logo antes daquilo que Cristo descreveu em Mateus 24 como um tempo de “tribulação.”
Portanto, nessa cronologia, a revelação de João muda novamente, saindo da igreja no céu e passando para a Tribulação que começa na Terra.
A maioria do livro de Apocalipse cobre esse período de sete anos—um tempo de sofrimento humano, atividade demoníaca, perturbações cósmicas, pregação do Evangelho e crises globais sem iguais. Os capítulos 6–19 cobrem esse período intenso quando o Anticristo forma uma coalizão e uma religião mundiais.
O anticristo é o primeiro cavaleiro que cavalga no palco da história—um pacificador que consegue, pela primeira vez na história moderna, estabelecer um período de paz na terra; armas são deixadas de lado; parece que os homens conseguirão conviver juntos.
No decorrer da história, as pessoas têm buscado conviver bem, mas de repente alguém inventa um canhão maior. Como conviver com alguém que busca mata-lo?
O cavaleiro no cavalo branco—que é o Anticristo—trará a paz por pouco tempo.
Contudo, essa paz termina quando Deus derrama Sua ira sobre terra. Desde os quatro cavaleiros até os julgamentos das taças, a ira e o julgamento de Deus atingem a Terra.
Existem cinco propósitos principais que Deus realiza através desse período de Tribulação:
- Israel será reavivado e preparado para a segunda vinda de seu verdadeiro Messias e para o Seu reino milenar sobre a terra.
- A soberania de Deus será revelada por toda criação. Ficará evidente que este planeta não nos pertence—ele pertence a Deus. A natureza nunca foi controlada pela mãe-natureza, mas pelo Deus Pai que governa todas as coisas.
- O plano falsificado de Satanás será revelado após um curto tempo de sucesso e depois se desfará. A máscara de Satanás cairá e as pessoas virão quem ele realmente é—um anjo caído mentiroso, enganador, que odeia Deus, desprezou o crente, sanguinário e orgulhoso. Satanás será exposto.
- A rebelião do coração humano contra o Evangelho da graça será manifestada completamente, mesmo quando terríveis coisas estiverem acontecendo na terra—o que inclui estrelas caindo de suas órbitas, terremotos, água sendo transformada em sangue, fome mundial, demônios atormentando a raça humana, e uma escuridão mundial que envolverá todos, menos os que seguem a Cristo. Apesar de a humanidade saber que as catástrofes são resultado da ira de Deus contra sua descrença, os homens recusam se arrepender, de maneira que o seu coração rebelde contra Deus fica manifesto.
João ainda revela que existe mais um propósito com a Tribulação.
- Milhões de pessoas de toda língua, tribo e nação serão salvas pela pregação do Evangelho. Esse será o maior avivamento espiritual na história da humanidade.
Será que João foi o primeiro a profetizar esses acontecimentos? De maneira alguma—ele foi o último.
- Amós profetizou sobre a ira de Deus e um governo mundial gentio futuro;
- Isaías profetizou sobre a conversão de Israel e as perturbações cósmicas;
- Zacarias profetizou sobre a salvação de gentios e o aparecimento do Cristo;
- Daniel profetizou sobre o tempo de duração da Tribulação, a vinda do Anticristo como o príncipe de Satanás, a profanação do templo, um império mundial vindouro e o aparecimento do Filho do Homem—o Messias.
A Tribulação termina com a segunda vinda de Cristo. Esse não será o arrebatamento de Sua igreja. João vê Cristo em Sua segunda vinda (capítulo 19) com Seus redimidos—montando cavalos brancos e vestindo mantos para celebração do casamento. Nós, os crentes, descemos com Cristo para estabelecer Seu glorioso reino que durará 1000 anos.
Aqueles que tiverem se convertido durante a Tribulação e sobrevivido passam a povoar a terra, sobre a qual os redimidos glorificados em corpos imortais reinam. A terra será restaurada e povoada no decorrer de 1000 anos quando Cristo se senta no trono de Davi.
Em seguida, João vê e ouve algo difícil de imaginarmos. Após 1000 anos de um governo benevolente quando a terra e sua população estiverem desfrutando de sucesso e saúde incríveis—mortais vivendo centenas de anos e o reino animal revertido às condições do Jardim do Éden quando o leão se deitará com o carneiro—Satanás consegue um exército tão numeroso quanto as areias do mar. Eles marcham contra Jerusalém para tentar derrotar o Rei Cristo e Seus amados.
Com apenas uma palavra, todos eles são destruídos, Satanás é lançado para sempre no lago de fogo e começa o julgamento do Grande Trono Branco. Nesse julgamento, todos os descrentes do mundo de todas as eras serão julgados e sentenciados à eternidade no lago de fogo.
No capítulo 21, João descreve a casa do Pai. Que casa será essa! Com quilômetros de altura e de extensão, a casa dourada do Pai se tornará a capital dessa nova terra e de um universo novinho em folha.
João nos apresenta ao céu.
A casa do Pai tem como alicerce pedras preciosas enormes e portões feitos de pérolas gigantescas. Do trono de Deus flui um rio em torno do qual árvores frutíferas dão seu fruto no decorrer do ano todo.
João descreve para nós o céu ao dizer o que não haverá lá—não haverá mais morte, tristeza e dor.
A eternidade começou.
Ao terminarmos a nossa revisão agora, você poderá pensar: “Isso tudo é ficção. Não acredito que tudo isso acontecerá! Na verdade, isso é bom demais para ser verdade.”
Um anjo comissionado para ser companheiro e guia de João nesse passeio pelo céu prevê esse tipo de pergunta. É por isso que o Espírito de Deus insere no verso 6 a declaração:
...Estas palavras são fiéis e verdadeiras...
Em outras palavras, “João, você não está sonhando! Essas cenas e promessas maravilhosas são verdadeiras. Elas se cumprirão.”
“João, você pode aguardar com expectativa tudo o que viu e ouviu. O Senhor é o Deus que direcionou os profetas do passado e agora direciona você, João. Essas profecias são igualmente verdadeiras.”
O fim não é bom demais para ser verdade! Essas coisas acontecerão.
Que expectativa! Admito que, no decorrer de nossos estudos, passei a ansiar ainda mais pelo futuro que nos aguarda, pelo momento quando voltaremos com Cristo para estabelecer o Seu reino milenar na terra e governar com Ele. Os povos da terra crescerão em comércio, educação, artes e no ministério do Evangelho sob a presença direta de Cristo como nunca antes.
Pela primeira vez em nossas vidas serviremos a Cristo como co-regentes em lugares e posições que Ele tiver determinado para nós. A parte mais animadora é que O serviremos sem pecado, com consistência, estabilidade, perspectiva, equilíbrio, sabedoria e alegria perfeita.
Em nossos corpos glorificados, nossa velha carne nunca mais nos atrapalhará. Conseguiremos servir de tal maneira que cada redimido ouvirá Cristo dizer: “Muito bem, servo bom e fiel.”
Isso é apenas o começo.
Contudo, expectativa não é o suficiente. Tem que haver outra reação por causa de tudo o que aprendemos com o relato de João.
Aplicação
A próxima reação é aplicação. Veja o verso 7:
Eis que venho sem demora…
A expressão sem demora significa que todas as coisas relacionadas à vinda de Cristo—incluindo tudo o que João nos revelou—acontecerão num curto espaço de tempo. Para nós parece estar demorando, mas, da perspectiva da eternidade, todo o livro de Apocalipse acontecerá rapidamente. Essa é a ideia desse verso.
Veja o que o João escreve no verso 7 à luz dessa verdade:
...Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro.
Podemos entender isso da seguinte forma: “Considere essas palavras seriamente.”
Ou seja, “Viva conforme o que você aprendeu!”
Deus não nos deu a profecia do final dos tempos apenas para sermos mais inteligentes, mas para que nos submetamos a Ele. João escreveu em uma de suas outras cartas:
…quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança… (1 João 3.2–3).
A verdade da profecia serve não somente para fazermos uma cronologia, mas para nos ajudar a desenvolver caráter e buscar o prazer de Cristo.
Esse é o encorajamento contínuo das Escrituras. Paulo concluiu seu ensino sobre a futura ressurreição do crente no arrebatamento da igreja em 1 Coríntios 15 exortando os crentes a permanecerem firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão (1 Coríntios 15.58).
Paulo escreveu ainda em 2 Coríntios 5.8 que preferia deixar o corpo e habitar com o Senhor. Como resultado da expectativa de seu futuro lar, ele escreveu no verso 9:
É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis.
Um autor colocou isso muito bem quando disse que escatologia—ou seja, a doutrina das últimas coisas—conduz a ética.
Em outras palavras, devemos não somente esperar nosso futuro com Cristo em expectativa, mas devemos viver à luz desse futuro.
Expectativa deve conduzir a aplicação.
O que acontecerá conosco no futuro esclarece como devemos viver no presente. Até mesmo nosso ajuntamento no dia do Senhor é uma aplicação de nossa expectativa. O autor de Hebreus escreveu o seguinte para igreja:
Não deixemos de congregar-nos... (Hebreus 10.25).
Mas por que devemos nos congregar?
...para nos estimularmos ao amor e às boas obras... tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima (Hebreus 10.24–25).
Em outras palavras, devemos encorajar uns aos outros a aplicar as verdades das Escrituras enquanto aguardamos em expectativa a chegada daquele dia.
O dia final está chegando. Se o escritor de Hebreus já achava que estava perto quando ele viveu 1900 anos atrás, quanto mais nós hoje devemos viver como expectativa e desejo de encorajar os outros à aplicação das verdades bíblicas!
O apóstolo João começa suas observações finais. Ele quer que vivamos com expectativa pelo que acontecerá e que vivamos à luz do nosso futuro.
Adoração
João fica maravilhado diante das revelações que ele até se prostra aos pés do anjo para adorá-lo. Veja os versos 8–9:
...E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro...
Você sabe que o anjo acabou de fazer? Ele acabou de juntar os santos do Antigo Testamento, os profetas e todos os que lhes deram ouvidos, as hostes angelicais do céu e os crentes do Novo Testamento. Em seguida, a ordem e o privilégio que saem de seus lábios para todos nós é o seguinte:
...Adora a Deus.
Expectativa conduz a aplicação, a qual por fim leva a adoração.
Existe apenas Um que é digno de adoração. Na cultura grega antiga, as pessoas adoravam os seus deuses jogando beijos para eles. Com o passar do tempo, elas começaram a se prostrar diante de seu deus e até mesmo de um superior. Enquanto prostrado, o adorador fazia um movimento circular com a mão diante da boca, simbolizando estar lançando beijos para o seu superior.
O rei Nabucodonosor fez isso diante de Daniel depois que o profeta interpretou o sonho corretamente—ele se prostrou e beijou Daniel.
No decorrer dos séculos, o verbo grego “adorar” (proskyneo) passou a significar “tremer diante de um superior, servir ou prostrar-se diante de um superior.”
É exatamente isso o que João faz no verso 8. Ele beija o anjo; ele declara que o anjo é superior a ele.
Ele não adora um anjo porque de repente se tornou um idólatra e pensa que o anjo é digno de adoração. Ele se prostra porque o anjo lhe explicou todas as coisas; então João pensa que o anjo é superior a ele.
Isso explica a reação do anjo no verso 9:
Vê, não faças isso; eu sou conservo teu...
Em outras palavras, “Não sou superior; sou apenas um escravo de Deus. Não sou melhor do que você.”
O anjo, com efeito, ensina João que na hierarquia do céu ninguém se prostra diante de outro que não Deus somente. Portanto, se prostre diante de Deus; somente Ele é digno de adoração.
Conclusão
Quando João começa seu epílogo, ele deixa claro que tudo o que viu e tudo o que aprendeu e relatou a nós no texto inspirado deve estimular três resultados em nós; eles são:
- Uma crescente expectativa da alegria no dia vindouro;
- Um compromisso de viver nossas vidas conforme esse dia vindouro;
- Uma adoração diária ao Único que prometeu esse dia vindouro e ao Único capaz de cumprir Sua promessa.
A única coisa que podemos fazer é amá-lO e viver nossas vidas para Ele, sabendo que um dia viveremos com Ele para sempre.
Viva em expectativa por aquele dia e à luz daquele dia, e adore a Deus enquanto aguarda aquele dia. Agradeça a Deus antecipadamente por esse futuro eterno de graça e glória.
Que grande glória será—incrível e eterna glória!
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 06/06/2010
© Copyright 2010 Stephen Davey
Todos os direitos reservados
添加評論