
Nas Garras da Graça
Nas Garras da Graça
Santa Obsessão—Parte 2
Romanos 15.15–16
Introdução
Temos lido alguns dos comentários mais pessoais de Paulo sobre sua própria vida e coração. Ele era um homem com santa obsessão.
Uma das obsessões que descobrimos no nosso estudo anterior foi a obsessão por uma vida santa. Vimos que, em nossa busca por um viver santo, devemos fazer três recusas radicais:
- Recusar a mediocridade—não nos contentar com serviço inferior;
- Recusar a indolência—não somente aprender a Palavra, mas também viver a Palavra;
- Recusar a apatia—desafiar um ao outro na jornada da fé.
E essas coisas, a propósito, não são esplêndidas, grandiosas ou animadoras. É por isso que facilmente nos rendemos à mediocridade, à indolência e à apatia.
Quer trocando fraldas, corrigindo provas, vendendo tinta, limpando valetas, fazendo uma prova, realizando uma cirurgia ou de pé em um tribunal apresentando evidências, nossa obsessão deve ser fazer tudo da melhor maneira possível para que a causa e o nome de Cristo sejam glorificados, e que vejamos o prazer de Deus até mesmo nas tarefas mais triviais.
É como o próprio Jesus Cristo que trabalhou em uma carpintaria fazendo arados que ainda estavam sendo usados quase cem anos depois.
Por que devemos nos preocupar com isso? Porque Jesus Cristo foi o nosso exemplo de ser obcecado com uma vida santa.
Hoje, descobriremos, embutida em seu currículo pessoal, a obsessão de Paulo com a graça de Deus. Antes de destrincharmos essa verdade, vamos ler o currículo de Paulo em Romanos 15.15–16:
Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus, para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo.
Nesse currículo breve, Paulo sugere ou se refere diretamente a três posições diferentes ou papeis que fez na vida. Esses papeis são o de mestre, pregador e sacerdote.
Todas essas funções são resultados diretos da graça. Na verdade, circule as palavras por causa da graça no meio do verso 15.
Essa é a frase-chave para cada aspecto na vida de Paulo. Se você topasse com Paulo, ele transbordaria graça; se você conversasse com ele, ele falaria da graça; se orasse com ele, ele apelaria à graça de Deus.
Concordo com um escritor que disse que Paulo nunca conseguiu se recuperar completamente de sua conversão. Paulo estava preso Às garras da graça de Deus.
Vários anos atrás, Max Lucado publicou um livro de devocional intitulado Nas Garras da Graça. Ele começou o livro contando uma história que tinha inventado para declarar as verdades da graça; a história tem por título, “A Parábola do Rio.”
Era uma vez cinco filhos que moravam em um castelo na montanha com seu pai. O mais velho era um filho obediente, mas os quatro mais novos eram rebeldes. O pai os havia advertido próximo ao rio, mas os filhos mais novos não lhe deram ouvidos.
O pai tinha implorado que os quatro filhos rebeldes ficassem longe das margens do rio para que não caíssem e fossem carregados pela correnteza, mas a fascinação pelo rio era forte demais. A cada dia, eles chegavam mais e mais próximo, até que, um dia, um deles aventurou-se e tocou na água.
“Segure minha mão para que eu não caia,” disse ele; e seus irmãos o seguraram.
Porém, quando ele tocou na água, a correnteza arrancou os quatro da margem e eles caíram na correnteza rio abaixo. Eles bateram com violência contra as pedras, desceram pelos canais, navegando por sobre os montões de água. Seus gritos por socorro foram abafados pelo violento barulho do rio. Após horas de luta, eles se renderam à força do rio e, finalmente, foram expelidos pelas águas às margens de uma terra estranha, em um país distante, em terra árida.
Após um tempo, eles tomaram coragem e entraram na água novamente. Os irmãos estavam na esperança de subir o rio, mas a correnteza era muito forte. Eles tentaram caminhar à beirada do rio, mas o terreno era acidentado demais. Eles consideraram subir as montanhas, mas eram muito elevadas. Além disso, eles nem sequer conheciam o caminho.
Max Lucado continua e fala que um dos irmãos começou a morar com os bárbaros em um vale próximo, construindo sua própria cabana de lama e palha. Ele decidiu que vida entre os pagãos era melhor do que vida com seu pai.
Outro irmão tornou-se amargurado e decidiu simplesmente observar o outro irmão e relatar as maldades que praticava.
Um terceiro irmão decidiu que a única maneira de voltar ao pai era fazendo uma trilha ao longo do rio e caminhar de volta. Ele disse:
“Essa é a única opção. Pedra sobre pedra empilharei até que tenha pedras suficientes para viajar rio acima de volta ao castelo de meu pai. Quando ele vir todo o meu trabalho e diligência, não terá outra escolha além de abrir a porta e me deixar entrar em sua casa.”
Após vários dias, apareceu alguém para os resgatar. Era o filho primogênito. Mas, tragicamente, cada um dos irmãos rejeita sua oferta de ajuda.
O irmão morando entre os bárbaros passou a preferir sua vida com eles.
O irmão amargurado que queria apenas observar o fracasso e pecado dos bárbaros e de seu outro irmão também estava preocupado demais para ser resgatado.
O irmão disposto a fazer sua trilha rio acima conseguiu dar cinco passos de volta ao lar, dos quais ele tem bastante orgulho, mas quando o resgatador o informa de que ainda restam mais cinco milhões de passos, ele se enfurece e começa a lançar pedras contra seu irmão. Apesar da possibilidade de resgate, ele prefere trabalhar para fazer seu caminho de volta e merecer o perdão do seu pai e, então, rejeita o primogênito.
As analogias são óbvias, não é verdade?
Olhe a história de Paulo como um hebreu fiel, um patriota destemido da Lei e um observador meticuloso de todas as regulamentações e cerimônias de seu povo judeu. Ele teria sido o irmão ao longo do rio, trabalhando incessantemente em uma tarefa fútil de construir uma trilha ao céu usando pedras de justiça humana. Ele tinha avançado cinco passos, mas ainda tinha cinco milhões pela frente.
No caminho, Paulo experimentou a graça salvífica enquanto ia a Damasco para prender crentes que ousavam afirmar que o carpinteiro crucificado era o Filho de Deus. Em um brilho de luz celestial, a aparição do Cristo a Paulo trouxe um brilho de luz divina. Apesar de ter permanecido cego por vários dias, ele tinha recebido luz espiritual; ele foi conduzido à vida pela fé em seu recém-encontrado Senhor, Jesus Cristo.
Posteriormente, Paulo escreveu seu testemunho em Filipenses 3.5–7:
circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.
Após sua conversão, Paulo deu início a um ministério tremendo que continuou a impactar a igreja por quase duzentos anos.
Quais funções Paulo ocupou ao revelar o seu resgate pela graça? Em 2 Timóteo 1.11, ele escreve que, por Deus, eu fui designado pregador, apóstolo e mestre.
Em Romanos 15, existem três funções que Paulo realiza. São os papeis de mestre, pregador e sacerdote.
O trabalho de Paulo era ser um mestre; sua jurisdição era a de um pregador aos gentios; e a alegria de Paulo era ser um sacerdote a Deus.
Paulo, O Mestre
Vamos observar a primeira função de Paulo como mestre. Veja Romanos 15.15 novamente:
Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória...
A ferramenta mais poderosa de um mestre pode ser a revisão—antes de uma prova. Quando a prova final se aproxima, os alunos prestam grande atenção.
Não sei você, mas eu tinha o hábito terrível de ignorar as aulas no decorrer do semestre e simplesmente aguardar pelas aulas de revisão.
Um militar me disse que soldados dão mais atenção à revisão de seus equipamentos no local da missão do que na base.
Já aconselhei vários casais que planejavam se casar. A forma como eles me ouviram nos aconselhamentos foi bastante diferente da maneira como me ouviram durante a cerimônia. Na verdade, todos estão ouvindo.
Eu poderia pregar hoje sobre a morte, céu e inferno, mas o nível de atenção não seria o mesmo que em um funeral. Pergunte ao seu pastor e você verá que a plateia em um funeral é a que mais presta atenção.
Existe algo diferente em ser lembrado quando você realmente precisa saber que alguma coisa.
- Aquele aluno precisa muito passar na prova!
- Aquele soldado está prestes a ir à batalha!
- Aquele casal está prestes a se tornar marido e mulher!
- Os ouvintes estão face a face a um caixão e querem saber sobre a vida eterna!
Os crentes romanos estavam cercados de desafios da vida e de dificuldades edificando não somente suas vidas, mas uma igreja também. Eles precisavam saber! Então, como um excelente professor e mestre, Paulo fornece a eles, e a nós, uma revisão que nos ajuda a passar nas provas da vida.
Com esses e outros crentes, Paulo geralmente passava tempo lembrando-lhes das verdades da graça.
Paulo havia passado três anos ensinando os crentes efésios, instituindo presbíteros como pastores e, então, em sua despedida, ele os exortou em Atos 20.35:
Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber.
Quando Timóteo lutava no ministério como um pastor jovem e inexperiente, Paulo o encorajou em 2 Timóteo 2.8–9:
Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu evangelho; pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada.
Além disso, na mesma carta, Paulo lembrou Timóteo do seguinte:
- Usar no ministério o dom que Deus o havia dado: Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação (2 Timóteo 1.7).
- A verdade de que Deus nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos (2 Timóteo 1.9).
- O fato de que, aos que creem, o nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho (2 Timóteo 1.10).
- O memorial de que não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia (2 Timóteo 1.12).
- Em relação à pregação do Evangelho, Mantém o padrão das sãs palavras (2 Timóteo 1.13).
Meu amigo, uma das melhores coisas que você pode fazer às vezes para reanimar sua santa obsessão a Deus é lembrar.
É como o profeta Isaías, que afirmou em Isaías 51.1:
Ouvi-me vós, os que procurais a justiça, os que buscais o SENHOR; olhai para a rocha de que fostes cortados e para a caverna do poço de que fostes cavados.
É também como o salmista Davi, o qual cantou no Salmo 40.2:
Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos.
Por que você acha que o Senhor repassou à igreja apenas uma ordenança para repetir várias e várias vezes? É uma que observamos com a frequência que desejamos quando nos reunimos. Nós a chamamos de um memorial, a Ceia do Senhor, a qual fazemos em memória de Jesus!
Agora, perceba que Paulo, o mestre, fala ousadamente aos romanos. Ele escreve em Romanos 15.15a: Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente.
Por que a necessidade de ousadia?
Uma coisa é certa, uma pessoa que já sabe aquilo que você diz pode ficar frustrada ou até chateada com o fato de você a lembrar daquilo que ela já sabe.
Isso é como o jovem que não gosta quando seu pai lhe diz, “Cuidado ao dirigir!”
A resposta que os pais recebem é, “Eu sei, pai!”
Semana passada, tive a alegria de receber em meu escritório todas as crianças de três e quatro anos de nossa igreja. Uma das professoras perguntou se eu gostaria de conhece-las, bem como as professoras, e talvez falar alguma coisa na capela.
Eu disse, “É claro! Mas o que acha de outra ideia? Pensei de elas virem ao meu escritório. Posso conversar com elas e lhes mostrar meus livros. O que acha? Tenho uns mil livros nas minhas prateleiras que posso mostrar a elas. Posso dizer o que um pastor faz e mostrar os tesouros que colecionei de minhas viagens missionárias ao redor do mundo.”
A professora disse, “Gostei da ideia!”
Então, semana passada, quatro turmas de três e quatro anos visitaram meu escritório. Cada turma veio e ficou uns dez minutos. Os professores e as crianças ficaram todos ao redor da minha escrivaninha e da minha cadeira.
Cada turma tinha um conversador, um líder nato que fazia todas as perguntas e dava informação de graça—informação que eu não precisava saber!
Mostrei a eles meus livros, “Vocês estão vendo esses livros? Todos eles são sobre o livro de Romanos—é o único livro na Bíblia sobre o qual sei alguma coisa!”
Enfim, depois de mostrar a eles o ovo de ema esculpido que comprei na Índia, uma menina que ficou encantada com tudo o que estava vendo levantou a mão.
Eu disse, “Ok. Qual é a sua pergunta?”
Ela respondeu, “Hum... posso ir embora daqui já?”
Como você vê, a visita foi um sucesso e tanto!
Um mestre e professor corre o risco de entediar seus alunos com coisas que eles já sabem ou com coisas que eles não têm tanto interesse em saber.
Obviamente, os crentes romanos receberam a revisão de Paulo e, como nós hoje, gostariam de ter recebido mais informação na revisão.
Paulo era um mestre excelente.
Paulo, O Pregador
Agora, vamos observar o segundo papel de Paulo como o pregador. Veja, novamente, Romanos 15.15b–16a:
...por causa da graça que me foi outorgada por Deus, para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios...
O trabalho de Paulo era ser um mestre. A jurisdição de Paulo era a de um pregador aos gentios.
Ele recebeu a responsabilidade especial de ir aos gentios. Em Gálatas 2.1–10, lemos que ele disse que Pedro pregava primariamente aos judeus e que ele pregava primariamente aos gentios. A influência mais forte da igreja—esse novíssimo organismo, o corpo de Cristo—não foi Pedro, mas Paulo.
Logo após se converter na estrada de Damasco, o Senhor disse a Ananias em uma visão:
…este [Paulo] é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis… (Atos 9.15).
No primeiro capítulo de Romanos, Paulo revelou que Deus o havia feito apóstolo para a obediência por fé, entre todos os gentios (Romanos 1.5).
Poderíamos dizer corretamente que os gentios eram a jurisdição primária da pregação e influência de Paulo.
Perceba que Paulo não diz em Romanos 15 que ele foi instituído como o instrumento principal de Cristo por causa de seu intelecto superior, ou por causa de sua habilidade na oratória, ou por causa de seu histórico como mestre da lei, ou por sua personalidade, ou outra coisa qualquer.
Paulo conecta seu ofício de pregador diretamente ao fato de ele ser um recipiente da graça de Deus. Ele está preso nas garras da verdade de que a graça de Deus não somente o redimiu, mas o ordenou ao ministério também.
Talvez seja esse o motivo por que Paulo não exibe à igreja romana suas credenciais de apóstolo. Ele não diz, “Ei, ouçam bem, não sou simplesmente seu mestre, sou um apóstolo também.”
Veja que Paulo não diz em Romanos 15.16, “Sou um apóstolo de Cristo Jesus aos gentios.” Ao invés disso, ele diz, ministro de Cristo Jesus entre os gentios.
O termo que Paulo escolhe nesse verso surge de pura humildade. A palavra ministro é o grego leitourgos, da qual derivamos nosso termo “liturgia.” A palavra se referia a alguém que servia em um ofício público a custo próprio.
Em outras palavras, não existe salário, nada de pensão, pacote de benefícios—mas apenas um serviço para o bem público que provém de um coração generoso.
No decorrer do tempo, a palavra passou a se referir a alguém que se voluntariava a servir seu país ou cidade de alguma maneira. Encontrei vários exemplos na literatura antiga do significado de leitourgos.
As cidades gregas faziam festivais todo ano que incluíam dramatização e música. Homens que gostavam da sua cidade se voluntariavam para reunir, instruir e capacitar um coral com recursos pessoais.
Os atenienses possuíam o maior poder naval do mundo antigo. Uma das coisas mais patrióticas que um homem rico poderia fazer era financiar as despesas de um navio de guerra por um ano inteiro. Esse era um sacrifício incrível pelo bem do país.
A palavra também era usada em relação aos jogos atenienses. Durante esses eventos, havia as famosas corridas de tocha. Os atenienses eram divididos em dez tribos. Nas corridas, equipes dessas tribos disputavam umas com as outras em corridas de bastão, mas, ao invés de bastão, os corredores carregavam uma tocha acesa. Até os dias de hoje, falamos sobre “passar a tocha para o outro.” Essas competições eram financiadas pelos leitourgos, homens que não somente pagavam as despesas, mas que investiam tempo selecionando e treinando atletas que representariam suas tribos.
Com o passar do tempo, o termo começou a ser associado a pessoas que realizavam funções religiosas. Mais provavelmente, isso aconteceu porque o serviço era voluntário.
A partir disso, surgiu a tradução “ministro,” que era uma referência a alguém que lidava com as liturgias da igreja.
Paulo declara que ele se vê tão preso às garras da graça que está disposto a derramar tudo o que possui e é pela causa de sua nova família, nova tribo, novo país. Não importava o custo, não importava o quanto isso demandasse dele, ele estava disposto a sacrificar tudo para vencer a corrida, a passar a tocha, a equipar o navio e lutar o bom combate da fé, a treinar a igreja a cantar louvores a Deus. Para ele, não importava se isso custasse sua vida.
Como muitos médicos experientes, o Dr. Evan Kane começou a se preocupar apenas com uma faceta da medicina. Sua inclinação era em relação ao uso de anestesia geral em grandes cirurgias.
O Dr. Kane estava convencido de que a maioria das grandes cirurgias poderiam e deveriam ser realizadas com anestesia local, pois, em sua opinião, os perigos da anestesia geral eram maiores do que os riscos envolvidos na própria cirurgia. Sua missão médica passou a ser provar aos seus colegas, de uma vez por todas, que valia a pena explorar a questão da anestesia local.
A fim de provar que o uso de anestesia local em grandes cirurgias era algo viável, o Dr. Kane teria que encontrar um paciente corajoso o suficiente para se submeter a uma cirurgia sem anestesia geral. Em seus trinta e sete anos como cirurgião, o Dr. Kane havia realizado quase quatro mil cirurgias de apêndice. Não demorou muito até que ele encontrasse alguém que precisava da cirurgia, e que se voluntariasse para arriscar usar apenas uma anestesia local.
O paciente foi preparado como de costume, mas recebeu apenas uma anestesia local na sala de cirurgia. Assim como havia feito milhares de vezes antes, o Dr. Kane abriu o abdômen, cortando os tecidos e fechando os vasos sanguíneos ao operar o paciente. Após localizar o apêndice, o cirurgião habilidoso o removeu e costurou o paciente—tudo isso com o paciente totalmente acordado e passando por desconforto mínimo. Depois de dois dias de recuperação, muito mais rápido do que em casos em que se usou anestesia geral, o paciente recebeu alta do hospital para se recuperar em casa.
O Dr. Kane tinha atingido seu objetivo. Seu paciente foi um testemunho claro demais para ser negado ou ignorado. Na verdade, o paciente foi o próprio Dr. Kane, pois ele foi o único que ele encontrou disposto a assumir o risco e fazer esse sacrifício.
Desde essa cirurgia em 1921, a técnica do Dr. Kane mudou a cirurgia e salvou as vidas de inúmeras pessoas.
Portanto, não é surpresa alguma que as pessoas que mais marcam nossas vidas não são aquelas que galopam por aí com nariz empinado exibindo suas credenciais e nos lembrando de como são importantes. Ao contrário, são geralmente os voluntários que oferecem seus corpos, seus corações, suas contas bancárias e sua vida para salvar inúmeras vidas.
Assim como Paulo, o povo de Deus que faz mais diferença está cativado pela graça de Deus e pelo Deus da graça.
Esse é Paulo como mestre e como pregador. Mas existe ainda mais uma função de Paulo nesse texto.
Paulo, O Sacerdote
Vamos observar o papel de Paulo como sacerdote. Como:
- Mestre, Paulo era motivado pela graça;
- Pregador, Paulo proclamava a mensagem da graça;
- Sacerdote, Paulo estava envolvido no milagre da graça.
Veja novamente Romanos 15.16:
para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo.
Se ser um mestre era o trabalho de Paulo, e pregar aos gentios era a jurisdição de Paulo, então, ser um sacerdote a Deus era a alegria de Paulo.
Como sacerdote nessa dispensação da graça, Paulo não estava oferecendo um cordeiro ou uma oferta de bolo de farinha. O texto nos informa que ele estava oferecendo a Deus os gentios convertidos; ele oferecia a Deus o milagre da graça—gentios crentes santificados.
O que mais importava para Paulo eram as pessoas. Não era seu trabalho, sua jurisdição, nem mesmo seu senso de satisfação e alegria, mas discípulos santificados, em crescimento, separados, santos e maduros.
Que grande desafio para todo aquele que também é um sacerdote a Deus—para Cristo: e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai… (Apocalipse 1.6).
Essa é também a nossa alegria.
Podemos facilmente nos preocupar com os programas que administramos, os assuntos que ensinamos, os livros que lemos ou escrevemos e nos esquecermos que o propósito de todos os programas, aulas, livros, lições e atividades é somente a formação de crentes maduros e santificados; ou seja, separar ofertas santas e aceitáveis a Deus, que é o nosso culto racional.
É como se Paulo se enxergasse vestido nos mantos de sacerdote, apesar de estar envolvido em negócios empoeirados neste mundo, viajando pelo mundo antigo a pé, sendo exposto ao clima, a ameaças, surras e rejeição. Como? Ele se via vestido em uma estola sacerdotal, no santo dos santos, levantando as almas de homens como aroma suave diante do Deus todo-poderoso.
Essa cena transformou as atividades diárias terrenas em santos acontecimentos. Toda sua vida era uma liturgia.
Paulo estava preso nas garras da graça, servindo com graça, o povo de Deus e para a glória de Deus.
Se simplesmente víssemos nosso serviço da mesma maneira, nossas vidas seriam cheias de santa obsessão. Um bolo assado para a vizinha se torna uma oferta a Deus; o amor a uma criança um ato de adoração; um empregado tratado com dignidade se torna um hino de louvor; o Evangelho compartilhado com um descrente se torna uma oferta suave a Deus; uma sala de Escola Dominical passa a ser um lugar santo onde você lida com coisas sagradas.
Essa é a perspectiva sagrada da vida; é isso o que significa estar nas garras da graça; isso é santa obsessão.
E isso conduziu um crente a fazer o seguinte compromisso com Cristo, “A vontade de Deus: somente isso, nada menos, nada mais.”
Outro crente que viveu para Cristo disse isso da seguinte forma: “Sem reservas! Sem remorso! Sem retroceder!”
Esses crentes foram agarrados pelo amor e pela graça do Senhor.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 07/05/2006
© Copyright 2006 Stephen Davey
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