
Atravessando O Niágara
Atravessando O Niágara
A Depravação do Homem e A Libertação de Deus - Parte 8
Romanos 3.19–20
Introdução
Em 1848, um engenheiro americano chamado Charles Ellet foi considerado estar maluco. Ele acreditava que uma ponte suspensa poderia ser construída por cima das correntezas fortes das Cataratas do Niágara, na divisa entre Estados Unidos e Canadá. Charles Ellet planejou e construiu um ponte sobre a grandiosa Catarata do Niágara, onde caíam cerca de 140 milhões de litros de água por minuto. Com o passar do tempo, as águas que desciam naquela cachoeira haviam criado um grande abismo na bacia de rocha abaixo. Essa água corria com muita turbulência para a área conhecida como Catarata do Niágara. Charles Ellet planejava construir uma ponte para atravessar essa catarata.
O desastre, contudo, era basicamente previsto por todo o mundo, uma vez que o abismo tinha 251 metros de comprimento e 61 metros de altura. Já que os suportes para a ponte jamais permaneceriam de pé na correnteza violenta, Charles estava convencido de que o único tipo de ponte adequada seria a ponte suspensa. Essa ideia, contudo, era um tanto fútil. Até aquele momento, as pontes suspensas que haviam sido construídas ao redor do mundo haviam durado pouquíssimo tempo. Na verdade, a grande ponte suspensa construída sobre o Rio Ohio nos Estados Unidos havia sucumbido poucos anos antes.
Para sequer começar a construção, como esse engenheiro conseguiria fixar um cabo saindo do solo americano e alcançando o solo canadense? Ellet resolveu o problema de maneira ingênua ao oferecer uma recompensa para a primeira pessoa que conseguisse soltar uma pipa sobre aquele abismo. A competição foi tão intensa no primeiro dia que o céu ficou cheio de pipas. Contudo, ninguém teve sucesso. No segundo dia, todavia, um homem ganhou o prêmio. A linha da pipa foi amarrada a uma árvore do outro lado do abismo, tendo uma linha um pouco mais grossa amarrada a ela que foi lentamente conduzida de volta ao outro lado. Depois dessa linha mais grossa, amarraram uma linha ainda mais pesada; daí, uma corda e, então, uma corda mais pesada e, finalmente, um cabo de aço conseguiu atravessar o abismo do Niágara.
Após o cabo ter sido amarrado com segurança em ambos os lados, Charles Ellet decidiu revelar sua fé de uma maneira inesquecível. Ele fez um cesto de ferro e o amarrou ao cabo com uma série de roldanas. Daí, ele entrou nesse cesto e se puxou até ao outro lado, tornando-se o primeiro homem na história a atravessar o grande abismo por cima. Ele escreveu: “O vento estava muito forte e frio, mas essa foi uma jornada muito interessante para mim, empoleirado como estava a uns 70 metros sobre as correntezas, vendo as Cataratas do Niágara do centro do próprio rio.”
Algumas semanas depois, ele construiu uma pequena passarela com tábuas. Daí, ele anunciou uma outra demonstração e uma grande multidão apareceu. Ele entrou em uma pequena carruagem de cavalo, subiu corajosamente naquela pequena ponte que, até o momento, não tinha nenhuma proteção lateral. Colocando-se de pé, Charles conduziu aquela carruagem pela ponte que balançava com grande perigo. Mulheres desmaiaram, a multidão ficou pasma e, no fim, o aplauso pôde ser ouvido mais alto que o rugir poderoso das águas embaixo.
O inimaginável aconteceu. Da linha de uma pipa, à maravilha da engenharia—uma estrutura suspensa por cabo de aço. Finalmente, uma ponte sobre o Niágara. Um portal entre Estados Unidos e Canadá foi formado.
O Grande Abismo
Se você quisesse, poderia facilmente pegar uma caneta e resumir tudo o que temos aprendido desde a metade de Romanos 1 até metade de Romanos 3 com apenas uma expressão: O Grande Abismo.
Romanos 1—O Homem Adora a Natureza
Em Romanos 1, aprendemos que o homem se recusa a crer no testemunho da criação, que é o dedo universal apontando para o Criador.
Romanos 1—O Homem Adora Sua Própria Moralidade
Em Romanos 2, aprendemos que o homem também insiste em resistir o testemunho da consciência que sussurra em seu ouvido dizendo que ele é pecador que um dia será julgado não somente por seus pecados públicos, mas pelos pecados secretos.
Romanos 3—O Homem Adora a Si Mesmo
Em Romanos 3, aprendemos que o homem não corre em direção a Deus, mas ele corre para longe de Deus; a humanidade não respeita Deus, ela insulta Deus; a humanidade não entende as coisas espirituais e não anseia pela verdade espiritual. A humanidade diz algumas coisas boas sobre Deus e até mesmo visita uma igreja, onde música de piano toca lentamente e as pessoas fazem orações e gestos espirituais, desde que Deus não force muito as coisas; desde que Deus não exija nada nem reivindique Seu direito de posse.
Entretanto, o homem precisa adorar alguma coisa. Então, Paulo nos informa em Romanos:
- 1—o homem adora a natureza;
- 2—o homem adora seus esforços morais;
- 3—o homem adora a si mesmo.
Praticamente nesses três capítulos inteiros, que formam a primeira seção do livro de Romanos, Paulo simplesmente descreve o abismo da depravação humana; ele nos mostra o precipício entre o homem e Deus. Paulo simplesmente apenas segura o espelho da revelação divina e diz à humanidade pecadora: “Aqui, dê uma olhada. Veja o que você é.” E não adianta de nada ficar nervosos com o espelho—ele nunca mente.
Todos nós passamos um tempinho pela manhã nos arrumando simplesmente porque não queremos que o mundo entre em pânico quando nos vir. Em nenhum momento hoje pela manhã você discutiu com seu espelho, dizendo: “Olha aqui, eu sei que não estou tão mal assim!”
Não. Você acreditou no reflexo do espelho e tomou medidas drásticas para melhorar seu reflexo da verdade.
Você pode discutir o quanto desejar, mas em cada um desses três capítulos de Romanos, Paulo segura o espelho divino e revela à humanidade seu verdadeiro reflexo. Vamos olhar rapidamente as verdades que esses reflexos revelam:
- Em 1.29-32, Paulo descreve a humanidade:
cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus…
(ou seja, apesar de intuitivamente saberem a diferença entre certo e errado)
…de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.
- Em 2.4–6:
Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento…
- Em 3.10–18:
como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.
Essa é a revelação inspirada a respeito da humanidade; a descrição divina do grande abismo que separa completamente o homem pecador de um Deus Santo. Essas são as águas violentas da pecaminosidade; essas são cataratas que homem algum jamais conseguirá atravessar. Não importa quão rápido ele corra, quão sincero seja o seu coração, qual distância ele pule, ele nunca conseguirá atravessar esse abismo—ele precisa de uma ponte.
O Mundo Inteiro
Será Culpável Diante de Deus
Agora, Paulo resume tudo o que já disse em uma sentença. Note o verso 19 de Romanos 3:
Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus,
Você viu isso? O mundo resiste justamente isso; exatamente aquilo que o mundo mais odeia irá acontecer um dia e isso é: o mundo inteiro será culpável diante de Deus.
A palavra culpáveis é “hupodikos” no grego. Essa é a única vez no Novo Testamento em que essa palavra aparece. Ela é composta por dois termos, “hypo,” que significa “debaixo,” e “dike,” que significa “sentença de justiça.” Em outras palavras, essa palavra revela que o mundo está “debaixo da sentença de justiça divina.”
Um estudioso escreveu: “Ela se refere àquele que está preso às consequências impostas por causa da justiça porque negligenciou o que era certo.” Ou estudioso definiu essa palavra da seguinte maneira: “Alguém que é trazido a julgamento.”
O que Paulo está dizendo é que todo o mundo será trazido diante do tribunal de Deus e está, mesmo agora, debaixo do julgamento de Deus, culpável perante Deus. Essa é uma declaração absoluta que inclui toda a humanidade que não se encontra em Jesus Cristo.
Agora, você notou nessa cena futura que todos terão uma chance para articular uma defesa? Não! O verso 19 diz: para que se cale toda boca.
O que acontece aqui é totalmente contrário ao tribunal das leis humanas, onde existe uma defesa bem articulada. É um julgamento feito por nossos companheiros, e nossos companheiros aqui na terra também são pecadores. Eles podem justificar um comportamento pecaminoso, bem como subornar ou influenciar para um veredito errado. Nem mesmo os juízes estão sempre corretos em suas decisões; eles também podem cometer erros. Existem pessoas inocentes em prisões hoje. Exercer e interpretar corretamente as leis humanas é o objetivo de nossos tribunais, mas não é algo garantido. Nossos tribunais são inexatos, imperfeitos e permitem brechas. Podemos apelar para circunstâncias atenuantes e, mesmo se perdermos o caso, podemos apelar para um tribunal superior e, depois, para um tribunal ainda mais superior.
Kent Hughes escreve: “Mesmo se exaurirmos nossas opções legais, podemos escrever cartas, podemos até escrever um livro… podemos argumentar… podemos recusar ser silenciados!”
Entretanto, esse não é o caso no tribunal que Paulo descreve aqui. Essa é uma referência ao julgamento vindouro de toda a humanidade que se encontra sem Jesus Cristo em sua defesa ao se colocarem diante de Deus no Grande Trono Branco.
João registra como será essa cena em Apocalipse 20.11–15:
Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.
Diante desse trono, não haverá nenhuma defesa, nenhuma série de álibis, nenhuma justificativa—apenas silêncio! Deus não pode ser subornado; esse não é um julgamento feito por colegas, mas um julgamento executado pela Providência; não existem circunstâncias atenuantes para o pecado; Deus foi a testemunha ocular de tudo o que fizemos, dissemos e até mesmo pensamos.
Diante desse Deus existe apenas silêncio, pois o mundo todo será trazido a um entendimento final de que existe um abismo entre Deus e o homem. O homem não tinha outra esperança além de cruzar a ponte que Deus providenciou por meio de Jesus Cristo. Mas ao invés disso, os pecadores O negaram; zombaram dEle; ou O adicionaram às suas vidas juntamente com seus hobbies. Eles não confessaram a Ele a sua pecaminosidade, nem O entronizaram em seus corações.
Paulo escreve que existe apenas silêncio quando todos estiverem diante dEle. E então, será tarde demais para orar. Paulo anuncia que o homem é indefensável; ele se encontra em silêncio diante de Deus. O homem é indefensável porque ele é indesculpável.
Mas por que? Note Romanos 3.20 para vermos a resposta a essa pergunta:
visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.
Em outras palavras, ninguém jamais entrará no céu por haver observado a Lei porque ninguém é capaz de observar a Lei. Na realidade, um dos motivos por que Deus deu a Lei foi simplesmente para comprovar que o homem não consegue guardá-la. Paulo diz nesse verso: em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.
Isso não justifica o nosso pecado, apenas revela que somos pecadores.
J. B. Phillips foi um estudioso britânico que parafraseou o Novo Testamento. Eu tenho uma cópia dessa paráfrase em minha biblioteca pessoal. Ocasionalmente, Phillips colocada em sua paráfrase conceitos e termos de sua cultura inglesa. Um dos exemplos é Romanos 3.20. Quando Phillips parafraseou esse verso, “em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado,” ele escreveu, “…de fato, é a régua da Lei que revela como estamos tortos.”
Você alguma vez já tentou pendurar um quadro em sua casa? Pois é, isso pode até acabar com casamentos. Fique longe disso! Não falo por experiência, é claro. Você alguma vez já furou a parede, colocou as buchas, apertou os parafusos, pendurou o quadro e achou que fez um ótimo trabalho? Você estava todo feliz, até que olhou para o quadro de longe e, em relação à moldura da janela ou da porta, você percebe que seu quadro ficou completamente torto. Você fica bravo, volta ao quadro, olha para a parede e diz que a parede é que foi feita torta, não é mesmo? A verdade, contudo, é que, muito provavelmente, você simplesmente pendurou o quadro torto.
A moldura daquela janela ou parede não pode ajustar o seu quadro. Ela apenas revela que seu quadro foi pendurado torto.
Voltando para a analogia do espelho, ele também age como a Lei. Apesar de o espelho poder revelar a sujeira de seu rosto com total precisão, ele jamais conseguirá limpar seu rosto. Ele mostra que você precisa se barbear, pentear seu cabelo e escovar seus dentes, mas o espelho não pode barbear, pentear, nem escovar nada.
A função do espelho é incentivá-lo, silenciosamente desafiá-lo e e encorajá-lo a pegar a toalha de rosto, o barbeador, o pente e a escova de dentes, mas ele não pode lavar seu rosto—ele é incapaz de limpar sujeira ou cabelo.
Da mesma maneira, a Lei é um presente de Deus para nós—não para nos fazer culpados, mas para nos mostrar porque somos culpados. E aqueles que dizem: “Bom, eu vou para o céu porque tenho uma moral elevada, sou justo e vivo de forma pura,” estão pedindo para o espelho lavar o seu rosto.
Meu amigo, a Lei pode desafiar sua vida, mas ela não pode mudar sua vida. Ela pode até condená-lo, mas ela não pode convertê-lo.
A Lei pode mostrá-lo como você é torto e sujo, mas ela é incapaz de lavar seu pecado.
Conclusão
Você precisa entender que o apóstolo Paulo está prestes a apresentar o Salvador ao pecador. Contudo, primeiro, ele precisa apresentar o pecador à sua necessidade de um Salvador.
Ele já descreveu, em cores vibrantes, o grande abismo existente entre Deus e o homem; o terrível precipício criado pelo pecado e depravação da humanidade.
Entretanto, Paulo começará a descrever a conexão divina entre Deus e o homem na pessoa de Jesus Cristo, que é o Homem sem pecado, a soma e substância do Deus Todo-Poderoso. Paulo descreverá:
- A pequena linha de pipa que se esticou no abismo do pecado humano e desespero: o nascimento virginal de Cristo. Jesus veio na forma de um bebezinho, Deus em carne.
- Em seguida, Paulo mostrará que uma linha mais pesada da pipa foi puxada por cima do abismo da falta de esperança da humanidade, a saber, a vida perfeita de Cristo. Jesus é o Cordeiro de Deus perfeito, sem pecado.
- Daí, uma corda foi atravessada no abismo: a autenticação da divindade de Cristo por meio de Seus milagres e a validade de Sua mensagem.
- Em seguida, uma corda ainda mais pesada foi lançada: a morte de Cristo na cruz, cumprindo perfeitamente as profecias e pagando a penalidade pelo pecado da humanidade.
- Finalmente, o cabo de aço foi colocado de um lado a outro daquele abismo intransponível, lançando os fundamentos da ponte para sempre: a ressurreição de Jesus Cristo dos mortos.
Essa ponte da vida poderia e seria construída sobre e através da Pessoa de Jesus Cristo. Jesus disse em João 14.6: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim.
Ou seja, ninguém pode atravessar a catarata do desespero e depravação humanos, a não ser que andem sobre Aquele que é a ponte desse abismo—o Senhor Jesus Cristo.
No capítulo 3, versos 19 e 20, Paulo conclui a primeira parte da carta aos Romanos e ele atingiu o seu objetivo. Nessa primeira seção, o mundo inteiro foi trazido diante do julgamento de Deus, percebendo que não possui esperança, nem desculpas, nem defesa diante do júri da santidade de Deus. E, ao perceber essa terrível realidade, o mundo inteiro se coloca diante de Deus em silêncio. Não existe nenhum tribunal superior para o qual o mundo possa apelar. Não há oração a ser feita.
Todavia, isso ainda é algo futuro. Hoje, meu amigo, existe uma oração que você ainda pode fazer para ser salvo.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 05/05/2002
© Copyright 2002 Stephen Davey
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