
Santo além do Domingo
Santo além do Domingo
Libertos do Reino do Pecado—Parte 3
Romanos 6.12–14
Introdução
Pela primeira vez nesta carta aos crentes que vivam em Roma, na Itália, o apóstolo Paulo transmite várias ordens. Depois de desenvolver a verdade doutrinária de que o crente morreu para o reino do pecado, ele agora desafia o crente ao dizer que ele não morreu para a realidade do pecado.
As Doutrinas da Justificação e Santificação
Quando você foi salvo, ou seja, naquele instante em sua vida em que você confiou na morte, no sepultamento e na ressurreição de Cristo como sua única esperança para o céu, você foi libertado da penalidade do pecado. Essa é a doutrina da justificação.
Agora, você está no processo de ser libertado do poder do pecado. Essa é a doutrina da santificação.
A justificação ocorre em apenas um momento; a santificação leva a vida inteira. Não misture as duas doutrinas.
Muitas seitas, crenças religiosas e muitos “ismos” transformam a santificação, ou a forma como você vive, na base de sua justificação, ou a maneira como você é salvo. Nada alegra mais a Satanás do que ver a santificação do crente produzir ansiedade a respeito de sua justificação.
Deus deseja, conforme Paulo explicará mais adiante, que nossa santificação não determine nossa justificação, mas a confirme. A santificação revela a autenticidade da justificação.
A verdade é que temos dificuldades em viver de acordo com a nossa posição em Cristo. Somos santos em nossa posição, mas nem sempre em nossa prática. É aí que a santificação entra em ação. O objetivo de Deus por meio da santificação é conformar nossa prática com a nossa profissão de fé.
Santificação pode ser definida como a obra do Espírito de Deus em nosso coração, mente e mãos a fim de nos conformar com o caráter de Jesus Cristo. Uma definição mais curta vem da palavra grega para santificação, que simplesmente significa, “separado.”
O conceito não é difícil de entender porque todos nós temos objetos em nossas casas que são separados, ou dedicados a algum uso em particular. Quando você usou a tesoura de costura favorita de sua mãe para cortar papelão, você aprendeu uma lição sobre santificação. Se você pegou o serrote predileto de seu pai para brincar na calçada, você aprendeu que as coisas são santificadas, ou seja, separadas para um propósito.
O objetivo de Deus através da santificação é para dedicarmos nosso corpo e tudo em nós de maneira que nossa vida se coadune ao plano de Deus. Existem coisas que nosso corpo deve fazer, e existem coisas que nosso corpo não deve fazer por causa do que somos em Cristo.
Quando a pequena Victoria soube aos onze anos de idade que ela seria a sucessora ao trono britânico, historiadores contam que ela se derramou em prantos. Depois de haver se recomposto, ela disse com grande convicção e propósito: “Se vou ser rainha, então serei uma boa rainha.”
Será que ela foi boa? Eu nunca conheci uma criança perfeita de onze anos de idade?
Todavia, aos onze anos, ela reconheceu algo que muitos crentes parecem que nunca entenderam: o princípio da santificação. Victoria estava determinada com fervor e convicção que sua prática seria coerente à sua posição. De repente, ela descobriu algo em si que a fez querer exibir um caráter que honrasse a coroa.
Você já parou para pensar que você faz parte da realeza? Pedro escreveu em 2 Pedro 2.9 que os crentes são raça eleita, sacerdócio real.
Precisamos na igreja hoje, mais do que nunca, de pessoas que dirão com fervor e convicção: “Já que serei um coerdeiro e co-governante com Cristo no futuro trono no céu, viverei segundo essa perspectiva aqui na terra.”
Por causa daquilo que eu sou em Cristo, determinará como viverei para Cristo.
A pergunta ainda permanece: “Mas como vivemos vidas separas para Cristo? Como nosso caráter se torna coerente à nossa coroa como coerdeiros com Jesus Cristo?”
Santificação: Separados para Cristo
Então, como a santificação ocorre na prática? O que devemos fazer?
A ordem dupla de Paulo para viver uma vida separada para Cristo
Começando no verso 12 de Romanos 6, Paulo responde essas perguntas ao nos fornecer uma ordem dupla. A primeira parte é negativa e a segunda é positiva.
Pare de permitir que o pecado reine em seu corpo
Veja os versos 12 e 13:
Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade…
Essa é a ordem negativa de Deus através de Paulo.
A propósito, a ordem nesse verso é um presente imperativo. Poderíamos traduzir esse verso com a palavra “pare” com um ponto de exclamação! A tradução poderia ser:
Portanto, parem! de permitir que o pecado reine em seu corpo e parem! de apresentar os membros de seus corpos ao pecado…
John MacArthur destacou em seu comentário que, na primeira parte do verso 12, “Paulo personifica o pecado como se ele fosse um monarca poderoso que está determinado a reinar na vida do crente como aconteceu antes da salvação.”
O apóstolo Pedro personifica o pecado como uma pessoa em guerra conosco. Ele escreve em 1 Pedro 2.11:
Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma,
John Bunyan, o autor do livro O Peregrino, também escreveu um livro menor intitulado, A Guerra Santa. Nesse livro, ele personificou a alma como uma cidade possuindo cinco portões. Ele incluiu:
- o portão do Ouvido;
- o portão do Olho;
- o portão do Nariz;
- o portão do Tato;
- o portão da Boca.
O inimigo da cidade, Alma do Homem, é o pecado. O pecado ataca diariamente a Alma do Homem em um desses cinco portões. O pecado fala no Portão do Ouvido, ou ponta imagens vívidas e atraentes ao Portão do Olho, etc.
A coisa interessante na alegoria de John Bunyan é que a cidade Alma do Homem nunca pode ser derrubada de fora para dentro. A única forma como o inimigo pode conquistar a cidade é se alguém dentro da Alma do Homem abrir um dos portões e deixar o inimigo entrar.
Tanto Paulo como Pedro exortam o crente a se engajar nessa batalha contra o pecado. Na verdade, quando Paulo diz no verso 13: “Pare de apresentar seus membros ao pecado,” ele usa um termo militar utilizado para se referir à transferência de armas. Em outras palavras, Paulo está dizendo: “Não deixe o inimigo utilizar o seu corpo como sua arma. Não deixe o inimigo pegar seu rifle ou sua espada para usá-los contra você!”
Um homem deseja ser um homem santo para Deus, mas, ao mesmo tempo, assisti a filmes que geralmente contêm alguma forma de adultério ou fornicação. Sabemos pelas estatísticas que mais de noventa por cento do conteúdo sexual nos filmes hoje é entre pessoas solteiras ou entre pessoas casadas com solteiros. Se você assiste a isso, você coloca seus olhos nas mãos do inimigo de sua santificação.
Uma mulher deseja ser uma mulher santa para Deus, mas ouve determinadas músicas em sua casa ou em seu carro. Quando você lê a letra dessas músicas, descobre que ela está simplesmente colocando seus ouvidos e sua emoções nas mãos do inimigo para utilizá-los contra ela em seu processo de santidade.
Os sociólogos estimam que, em torno dos vinte e um anos de idade, uma pessoa já foi exposta a mais de 300 mil propagandas. Essas mensagens predominantemente promovem a crença básica de que a satisfação pessoal é o objetivo dominante na vida.
Existe uma guerra contra a santidade na vida do crente e Paulo diz: “Pare de dar seu corpo para o inimigo usá-lo contra você e ganhar essa batalha!”
O problema é que, a maioria de nós, quando enfrentamos tentações, chega o mais perto possível do pecado e diz: “Certo, Senhor, estou pronto para o livramento que o Senhor prometeu na Sua Palavra… agora!”
Daí, a pessoa diz depois: “É… não sei por que sou controlado pelo pecado.”
O problema começa quando damos ouvido à tentação ao invés de tapar nossos ouvidos e dizer: “Não! Não! Não me fale isso!” É aí que o problema começa. É aí que precisamos colocar um guarda. Para nós, meu amigo, de forma bastante real, é importante que digamos logo no princípio da tentação: “Não! Não!”
Quando apresentamos as armas de nosso corpo ao inimigo, adivinha o que acontece? Ele as usa contra nós e nos leva a obedecê-lo novamente. Quando damos um centímetro ao pecado, ele já quer tomar o trono!
Note as palavras que Paulo escolhe para proferir sua ordem nos versos 12 e 13:
Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade…
Paulo diz: “Pare! Diga ‘Não!’”
Você já parou para pensar que uma criança nunca precisa aprender a dizer ‘não’? Você já viu uma criança de dois anos de idade andando pela casa dizendo: “Sim, mamãe! Sim, mamãe!”? Ao contrário, ela anda pela casa dizendo: “Não, mamãe! Não, mamãe!”
Como que uma criança de dois anos consegue dizer “não” e uma pessoa de vinte, trinta, quarenta anos não consegue? Não é uma revelação fascinante de nossa natureza pecaminosa que dizemos “não” quando somos novos e dizemos “sim” quando somos velhos? Dizemos “não” para as coisas que deveríamos dizer “sim,” e dizemos “sim” para o que deveríamos dizer “não.”
O crente em geral precisa aprender a dizer uma palavrinha que tem desaparecido de nosso vocabulário. A pequena palavra “não.”
Ofereça-se a Deus
Agora, você precisa entender que a vida do crente é não somente uma grande ordem negativa. A vida do crente também envolve uma grande ordem positiva. Note o verso 13:
…mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.
Ofereça-se a Deus!
A santificação diz “não” no momento certo, e diz ‘sim” para a pessoa certa. Diga “sim” para Deus!
Nesse texto, descobrimos que a santificação, ou sua vida santa, inclui o princípio da cooperação. Existem dois extremos que devemos evitar nessa doutrina:
- Um extremo é dizer que tudo depende do crente e que ele precisa reunir poder suficiente para fazer algo bom para Deus.
- O outro extremo é dizer que nada depende do crente e que ele não tem responsabilidade alguma de desenvolver disciplina e decisão.
Um verso que é frequentemente citado fora de seu contexto como suporte ao segundo extremo em Filipenses 2.13:
Porque é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.
Então, em outras palavras, se Deus não quiser, não conseguirei fazer nada. Se Deus não me der o desejo de ler a Bíblia, então não a lerei; se Deus não me der o desejo de evangelizar, não irei evangelizar.
A verdade, contudo, é que vemos no verso anterior, em Filipenses 2.12, a ordem: desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor.
Paulo não está falando sobre justificação, mas sobre santificação. Você não pode desenvolver algo do lado de fora que ainda não existe dentro de você.
Paulo diz: “desenvolva…decida viver para Deus.” Daí, ele adiciona: “porque é Deus quem trabalha em você, tanto o desejar como o realizar segundo a Sua vontade.”
Ou seja, Paulo está encorajando aquele que decide viver uma vida santa e desenvolver disciplinas santas ao dizer que Deus é a fonte de poder por detrás de nossa vontade de dizer, “sim.” Ele não está dizendo que somos robôs e que se Deus não nos der o desejo, jamais faremos alguma coisa.
Então, se você não decidir estudar a Bíblia, Deus não irá pegar sua Bíblia, colocá-la debaixo do sue nariz, folhear as páginas e colocar sua cabeça contra ela. Se você não decide ir à igreja, Deus não fará você levitar de sua cama, não dará um banho em você, arrumar seu cabelo, vesti-lo, colocá-lo em seu carro ou ônibus e ir para a igreja. Você não pode dizer: “Bom, eu simplesmente não tenho vontade; então, Deus terá que me dar vontade.”
Um autor escreve:
O ensino claro das Escrituras é que a vida cristã é um esforço cooperativo. Paulo inclui tanto o poder de Deus e o esforço do crente ao escrever em um verso que escreveu, “para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim” (Colossenses 1.29).
Quando usamos a palavra “cooperação,” não estamos nos referindo a uma parceria de 50/50 na qual você entra com uma metade e Deus com a outra metade. O poder é todo de Deus, mas Ele não age sem a cooperação e submissão do crente.
Paulo diz que parte do amadurecimento em Cristo é não somente dizer “não” ao pecado, mas dizer “sim” ao Salvador. Meu amigo, Deus jamais o arrastará pelo braço a uma vida santa. A santificação não é resultado de abdução espiritual, mas é o resultado de submissão espiritual.
John MacArthur escreveu: “A vontade de Deus é ativa em nossas vidas somente quando nossa vontade é submissa a Ele.”
Grande parte de nossa batalha é descobrir que crescimento espiritual é sinônimo de disciplina espiritual. Crescimento envolve disciplina ou treinamento, conforme Paulo disse a Timóteo em 1 Timóteo 4.7: exercita-te na piedade.
Que ordem realista. Não existem pietismo; nenhum misticismo para uma bênção especial, ou uma decisão instantânea que faz da pureza, santidade, alegria, fé e perseverança práticas realizadas com facilidade.
“Exercita-te” é o termo grego, gumnazo, do qual derivamos nosso termo, “ginásio.” Ele se refere a malhar, transpirar um suor espiritual por causa de exercícios que produzem força e crescimento espirituais.
Um estudioso define essa palavra grega como, “um desenvolvimento e aplicação vigorosos de toda a força e habilidade do crente de forma que ele sirva a glória de Deus com todo pensamento e atitude.”
Isso ainda é verdade em nossos dias hoje. Santificação é sinônimo de disciplina e trabalho pesado.
O crente não flutua naturalmente em direção à santidade. Não flutuamos para a piedade, mas nos inclinamos para a impiedade. A força gravitacional de nossa carne não é para a oração, mas para distante dela. Não obedecemos facilmente as Escrituras, mas a desobedecemos; não achamos que modéstia e humildade são coisas fáceis, mas gostamos da extravagância e orgulho; não temos fé com facilidade, mas medo; nossa tendência não é nos regozijar nas coisas do Senhor, mas nas coisas do mundo.
Você pode dizer “não” o quanto quiser para as coisas erradas, mas você também precisa dizer “sim” para as cosias certas. Isso é fácil de se fazer aos domingos. Contudo, viver vidas santa e sagradas além do domingo é algo completamente diferente.
Roy Laurin provocou meu pensamento ao comentar nesse texto de Romanos 6 e fazer algumas perguntas. Ele escreveu:
Que uso você faz de seu corpo? Será que é um templo ou um brinquedo? Brinquedos servem propósitos infantis e temporários. Posteriormente, eles são deixados de lado e quebrados e danificados pelo uso e [gastos]. É isso o que seu corpo representa para você? Que vida vazia e triste seria essa! Por outro lado, um templo é para a presença de Deus. Ele é feito para haver comunhão com Deus, para ser cheio com música e ser honrado pela adoração. O templo é um objeto grandioso do belo lembrete no meio da humanidade a respeito da presença e do poder de Deus.
Que grande pergunta. O seu corpo é um brinquedo ou um templo por meio do qual Deus revela e recebe glória?
Esse é exatamente o ponto do ensino de Paulo. Como podemos viver no pecado, agora que fomos trazidos à vida em Cristo Jesus?
Ele escreve em 1 Coríntios 6.19-20:
Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.
Essa é a mesma coisa que Paulo está dizendo em Romanos 6.13:
nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros (ou seja, sua mente, seu coração, as partes físicas de seu corpo) a Deus, como instrumentos de justiça.
Em outras palavras, você, querido amigo crente, não é um brinquedo; você é um templo do Deus vivo! Diga “não” ao pecado e diga “sim” ao Espírito de Deus.
Faça a si mesmo as seguintes perguntas:
- Você está dizendo “sim” a alguma coisa, para a qual você decide hoje, pelo poder de Deus dentro de você, começar a dizer “não”?
- Você está dizendo “não” a alguma coisa, por sua negligência ou desobediência, para a qual você precisa dizer “sim”?
- Em outras palavras, existe algo que você está fazendo ou pensando ou planejando ou assistindo ou dizendo que não deveria?
- Existe algo que você deveria estar fazendo, mas que não está?
- Você se submeterá à vontade do Espírito de Deus e deixá-lO trabalhar em você, tanto o querer quando o realizar segundo a boa vontade dEle?
- De forma específica, você dirá, “Sim, Senhor, irei cooperar com o Seu Espírito”?
Pelo fato de termos sido conduzidos à vida por Cristo e porque estamos nEle, nós vivemos para Ele. Portanto, nós, se desejamos crescer em Cristo pela foça e poder dEle e nossa vontade submissa, dizemos “não” ao pecado e “sim” ao Salvador.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 18/05/2003
© Copyright 2003 Stephen Davey
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