
Uma Corrente Inseparável
Uma Corrente Inseparável
Perdido Novamente—Parte 1
Romanos 8.29–30
Introdução
Ao continuarmos em nossa série de estudos no livro de Romanos, nos deparamos hoje com um texto que tem gerado mais controvérsias entre crentes na igreja do que qualquer outra passagem do Novo Testamento. O texto é Romanos 8.29. Acompanhe comigo a leitura de Romanos 8.29–30:
Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
Hoje, trataremos de um dos tópicos mais acalorados conhecidos na igreja. O assunto é predestinação e eleição.
Esse é um caminho que muitos pastores temem trilhar. Ele é um dos motivos por que pouquíssimos pregam as Escrituras verso por verso—versos como esses atrapalham!
Apenas ao mencionar as palavras “predestinação” ou “eleição,” já consigo ouvir alguns carregando suas armas com munição e outros cogitando um motim. De fato, imagino que essa mensagem resultará em controvérsias.
Agora, eu afirmo o seguinte: se você tiver dificuldades em Romanos 8.29–30 e buscar evitar o significado óbvio do texto, então você terá maiores dificuldades ainda quando chegarmos ao capítulo 9.
Veja, por exemplo, Romanos 9.11. Rebeca está prestes a ter filhos gêmeos e Paulo escreve:
E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama),
Pule para o verso 13. Deus fala: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.
Você percebeu isso? Antes mesmo de eles nascerem, antes de terem feito algo coisas boas ou ruins, Deus já diz: “Amei Jacó, mas aborreci Esaú.”
Como lidamos com isso? Será que Deus é injusto? Paulo prevê que o leitor perguntará isso, e ele escreve no verso 14:
Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!
Imagine as implicações do verso 17:
Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra.
Ou seja, a incredulidade de faraó foi obra de Deus!
Paulo continua e aplica essa verdade no verso 18:
Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
Cada célula de nosso corpo diz, “Isso não pode estar certo! Se é assim que as coisas funcionam, quero uma conversa com Deus!”
Paulo também previu essa reação, e escreveu no verso 20: Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!
Em outras palavras, “Quem é você para querer dizer a Deus o que Ele deve ou não deve fazer?”
Portanto, se você pensa, “Vou aguentar só essa mensagem. Estou ouvindo que esse pastor acredita em predestinação e eleição, mas acho que é só uma pregação mesmo e pronto….”
De forma adiantada, digo a você que não será apenas uma pregação. Mas peço que você permaneça comigo e juntos busquemos entender essa verdade.
Quer saber de uma coisa? Eu não entendo essas doutrinas completamente também! Esse é um dos assuntos que teólogos denominam de “inescrutáveis”—não podemos compreender, está muito além de nossa capacidade de entendimento. Realmente, é algo inescrutável.
Um teólogo disse, “Nosso problema é que tentamos perscrutar o inescrutável.”
É exatamente isso que tentaremos fazer hoje. Então, espero que você esteja pronto para mergulhar nas profundezas dessa doutrina, onde seu pé não alcança o fundo.
Cinco Elos na Corrente da Salvação
Em Romanos 8.29–30, vemos uma corrente com cinco elos a respeito de nossa salvação. Cinco palavras se conectam umas às outras, formando uma corrente inseparável, dando-nos a segurança eterna de eleitos de Deus.
O que desejo fazer hoje é tratar dessas cinco palavras, defini-las e ilustrá-las com as Escrituras. Sugiro que você circule em sua Bíblia essas cinco palavras fundamentais.
O apóstolo Paulo escreve nos versos 29 e 30:
Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
- A primeira palavra ou expressão é “de antemão conheceu.” Ela significa que a salvação do crente começou na mente e no conselho de Deus.
Agora, alguns argumentam que ela significa simplesmente que Deus sabia de antemão quem creria e os escolheu com base nesse pre-conhecimento. Já que Deus sabe de todas as coisas, Ele apenas olha no futuro, vê quem crerá e confiará em Seu Filho, e diz, “Certo, aquele ali será um dos meus eleitos.” Essa crença é conhecida como a “eleição segundo a presciência.”
Problemas em crer que Deus simplesmente conheceu de antemão os que creriam no Evangelho
Contudo, existem diversos problemas com essa crença. Deixe-me destacar alguns deles.
A origem da salvação
- O primeiro problema envolve a origem da salvação.
Se essa crença estiver correta, a salvação começaria apenas com a fé do pecador. Deus não teria escolhido o homem, mas o homem teria simplesmente escolhido Deus.
Todavia, João escreveu em 1 João 4.19: Nós amamos porque ele nos amou primeiro.
Pecadores caídos não podem estender sua mão e receber o presente eterno da salvação porque não existe poder em sua mão. Deus precisa agir primeiro; Deus precisa tomar a iniciativa para resgatar aqueles que Ele escolheu.
A depravação do homem
- Outro problema semelhante é que a igreja não aceita, nem entende mais a natureza da depravação humana, ou da pecaminosidade humana. Assim, o segundo problema com essa crença envolve a depravação humana.
A Bíblia descreve o descrente como cego e morto para as coisas de Deus. Ele não possui nenhuma fonte de fé salvífica em seu cadáver espiritual.
A propósito, se a única coisa que a palavra “conhecer de antemão” ou “presciência” significa é que Deus sabe antecipadamente quem responderá positivamente à pregação do Evangelho e escolhe o pecador baseado nesse pré-conhecimento, o que Deus possivelmente veria se Ele olhasse no túnel do tempo? A única coisa que Ele veria em toda a humanidade, à parte de Sua intervenção, seria incredulidade.
Em outras palavras, a única coisa que Deus veria antecipadamente seria a rejeição do Evangelho e a oposição à Sua graça:
- Paulo escreveu em Romanos 3.10–11:
como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus;
- Paulo também escreveu em 1 Coríntios 2.14 que o descrente:
não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
- O próprio Jesus Cristo disse, conforme registrado em João 3.19:
O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.
- Novamente, Paulo escreveu em 2 Coríntios 4.4:
nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.
Em outras palavras, à parte da iniciativa de Deus a favor de Seus escolhidos, pecadores jamais creriam no Evangelho, nem mesmo aceitariam a luz de Cristo.
O pré-conhecimento ou presciência de Deus não significa somente que Deus vê em adiantamento, mas que Ele ordena tudo em adiantamento. Sua presciência inclui Sua intenção.
É exatamente dessa maneira que esse verbo é usado no decorrer das Escrituras. Deus disse a Jeremias em Jeremias 1.5: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci.
O que Deus quis dizer com isso? Será que Ele quis dizer que sabia que existia um bebê n o ventre? Deus sabe sobre todos os bebês. Mas Ele diz a Jeremias que o conhecia. Ou seja, Deus está dizendo que um relacionamento com Jeremiais faz parte de Seu plano soberano, até mesmo antes de Jeremias nascer.
O profeta Amós registra Deus dizendo em Amós 3.2: De todas as famílias da terra, somente a vós outros vos conheci [escolhi].
Será que isso significa que Deus conhece apenas sobre Israel? Ele não sabe a respeito dos filisteus, dos amorreus e dos egípcios? Será que Deus tem observado apenas os israelitas?
Evidentemente, não. Israel é a única nação que Deus predeterminou em Seu conhecimento e conselho a ter um relacionamento íntimo com Ele.
Jesus disse em João 10.14: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas
Ou seja, tenho um relacionamento íntimo com elas.
Jesus também pronunciou aquelas palavras terríveis em Mateus 7.22–23 para uma multidão de pessoas que serviam a Deus, mas que não eram crentes verdadeiros:
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.
O que Ele está dizendo aqui? “Desculpa, nunca conheci vocês… não sabia que vocês estavam aí…”?
Não. Deus diz, “Não tenho relacionamento algum com vocês.”
Um texto ainda mais claro a respeito da presciência de Deus é Atos 2.23, quando Pedro prega seu primeiro sermão e diz:
sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;
Será que Jesus foi um fantoche? Não. Será que Ele pôde escolher seguir a vontade do Pai? Sim. Nós O vemos orando no jardim, conforme registrado em Lucas 22.42: não se faça a minha vontade, e sim a tua.
Contudo, Pedro diz que Jesus foi entregue segundo a presciência de Deus, que isso foi exatamente o que Deus havia planejado e intencionado.
Em sua carta, Pedro escreveu sobre a predeterminação de Deus em enviar Jesus Cristo a terra. O texto de 1 Pedro 1.20 diz que Jesus foi por Deus:
conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós
Isso não significa que o Pai olhou no túnel do tempo, viu Jesus descer a terra e morrer pelos pecados do mundo e disse, “Olha, que maravilha… já que Jesus descerá a terra, vou fazer com que Ele morra em uma cruz pelos pecados do mundo.”
Não. Isso significa que Deus o Pai, em harmonia com o Espírito e o Filho, determinou de forma adiantada que aquilo aconteceria.
- Paulo usa uma segunda palavra que fortalece a corrente da obra soberana de Deus. É a palavra “predestinou” ou “predestinação.”
Veja a primeira parte de Romanos 8.29:
Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou
A palavra significa que Deus marca, designa e determina o destino eterno de forma antecipada. “Predestinou,” ou, proorizo no grego, significa que o destino é marcada de antemão.
A própria palavra “predestinação” nos leva a pensar em fatalismo, que somos fantoches insignificantes, ou que Deus brinca com a humanidade. Podemos ter esses sentimos ao mergulharmos nessas profundezas doutrinárias, mas não podemos deixar sentimentos determinarem nossa exegese. Eles devem ser levados cativos à Palavra de Deus.
Jesus Cristo disse em João 15.16:
Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça
Vocês não Me escolheram, Eu escolhi vocês?
Espere um pouco. Eu me lembro de escolher Deus! É, eu lembro disso também!
Contudo, ao analisarmos o assunto mais cuidadosamente, descobrimos a verdade de que escolhemos Deus somente porque Ele já havia nos escolhido. Você foi escolhido por Deus antes que o tempo começasse! Você imagina isso?
Pedro escreveu em 1 Pedro 2.9:
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus
Em 2 Tessalonicenses 2.13, somos informados do seguinte:
Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade,
- Paulo adiciona um terceiro elo nessa corrente resistente de nossa salvação. É a palavra “chamou” ou “chamado.”
Veja Romanos 8.30: E aos que predestinou, a esses também chamou.
“Chamado,” também traduzido outras vezes como “vocação,” pode ser definido como, “a aproximação interna de Deus para a salvação.”
Jesus disse algo que muitas pessoas gostariam de ignorar em João 6.44: Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer.
Em outras palavras, ninguém pode presumir ter a liberdade de marchar até o trono de Deus e dizer, “Certo, estou aqui! Estou pronto!”
Até mesmo o momento de nossa aproximação e vinda a Deus é definido e determinado por Ele.
Agora, precisamos entender que o Novo Testamento, dependendo do contexto, alterna entre um chamado geral—um convite aberto—e um chamado eficaz—um convite aos que irão crer.
Por exemplo, Cristo disse em Mateus 11.28:
Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei.
Ou seja, “Aqui está o convite, ‘Venham a mim!’”
O que as pessoas fazem? Elas recusam o convite e rejeitam a Cristo.
Será que isso significa que Jesus fez um chamado ilegítimo e que apenas brincou com essas pessoas? Não. O convite geral é necessário porque, dentro desse chamado geral, está o chamado específico ou especial. Lançamos a semente de forma extensa e Deus traz alguns à vida.
Charles Spurgeon disse certa vez que, se Deus tivesse pintado uma listra branca nas costas dos Seus eleitos, ele passaria todo seu tempo andando nas ruas de Londres levantando as camisas das pessoas. Mas, porque Deus não fez isso, ele prega o evangelho a todas as pessoas.
Paulo disse em Romanos 10.17: a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.
Se isso é verdade, então, que as pessoas precisam ouvir o Evangelho para poderem crer, que, através do Evangelho, Deus atrai Seus escolhidos para crer, Paulo pergunta no verso 14;.
Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?
Quando prego na igreja diante de muitas pessoas, não existe dúvida alguma em minha mente de que existem pessoas que morrerão em seus pecados e viverão sem Cristo eternamente. Todos ouvem o convite. Todos ouvem o Evangelho. Todos ouvem que a salvação é pela graça de Deus por meio da fé em Cristo somente. Todos ouvem, mas muitos não respondem.
Entretanto, ao ouvir, alguém respondeu. O que esse pecador ouviu começou a incomodá-lo, preocupá-lo, levá-lo a fazer perguntas. Isso é Deus aproximando esse pecador ao Seu Filho.
Essa pessoa e todas as demais ouviram o Evangelho—a verdade da Palavra de Deus—mas, no caso de algumas, ele não passa de um convite geral que recusam. Para outras, ele se torna um chamado interno especial que as conduz à salvação.
Isso aconteceu com um casal que veio ao meu escritório algumas semanas atrás. Eles tinham frequentado nossa igreja por pouco tempo, o que foi a primeira visita deles a uma igreja evangélica. Após alguns domingos, eles marcaram um compromisso comigo. Durante nossa conversa, eles disseram, “Parece que tem algo nos faltando. Não sabemos o que é, mas desejamos conhecer mais sobre Deus. Ouvimos o que você disse… gostamos muito daqui, mas estamos incomodados porque parece que nos falta uma peça nesse quebra-cabeça.”
Esse foi o chamado eficaz de Deus. E eu tive o privilégio de ser usado como mensageiro, anunciá-los a obra finalizada de Cristo na cruz a seu favor e a única coisa que precisavam fazer era receber o presente do perdão e da vida eterna. Demos as mãos e oramos. Eles foram chamados, aproximados, não por mim, mas por Deus.
- As duas últimas palavras na corrente da salvação já estudamos detalhadamente. A quarta é “justificou” ou “justificação.”
Veja Romanos 8.30: e aos que chamou, a esses também justificou.
“Justificação” é o pronunciamento legal de que somos justos diante de Deus com base no pagamento de Cristo pelo nosso pecado na cruz.
- Finalmente, a quinta palavra na corrente é “glorificou” ou “glorificação.”
Veja o verso 30: e aos que justificou, a esses também glorificou.
Podemos definir esse termo como, “a concretização futura de corpos, mentes e corações incorruptíveis.”
Gosto do fato de essa palavra estar no tempo passado. Ela fala de nossa glorificação como se ela já tivesse ocorrido. O futuro é considerado como algo do passado.
Novamente, tudo é visto da perspectiva de Deus. Se você foi conhecido de Deus antecipadamente, você está seguro em sua glorificação. Não podemos realizar algo para desfazer nossa salvação, da mesma forma como não podemos realizar algo para conquistar a nossa salvação.
Conclusão
Caso você ainda não tenha entendido isso, deixe-me dizer: a salvação é obra de Deus. O texto gira em torno de Deus!
- Deus conheceu;
- Deus predestinou;
- Deus chamou;
- Deus justificou; e
- Deus glorificou.
Romanos 8.28 ensina que Deus escolheu que todas as coisas que acontecem cooperem para o nosso bem espiritual. Romanos 8.29–30 ensina que Deus escolheu você!
O que acontece se alguém rejeita a crença na eleição soberana
Por que é importante aceitarmos esse texto pelo que ele é—bem como todos os demais que li e citei? O que acontece se você rejeita o ensino da eleição soberana de Deus? O que acontece com uma igreja que se recusa a reconhecer a soberania de Deus? Deixe-me mencionar cinco coisas que ocorrem se a eleição soberana é rejeitada.
- Emocionalismo se torna mais importante que análise espiritual.
A igreja de hoje diluiu o Evangelho e o transformou em nada mais que uma oração rápida a ser feita ou um cartão a ser assinado. A questão passa a ser a profissão de fé, não a possessão de fé. Conheço apenas algumas pessoas que disseram não crer em Deus.
Os eventos evangelísticos comuns focam nas decisões, não nos discípulos. Organizamos tudo para um convite ou apelo onde toda decisão crítica ocorre.
Nós nos distanciamos muito dos dias de Spurgeon, quando os que queriam buscar o chamado de Deus para a salvação marcavam uma entrevista. Spurgeon abria seu escritório às terças-feiras para os chamados, “indagadores.”
Lembro-me de ler o testemunho de D. L. Moody quando ele tentou se tornar membro de uma igreja. Ele foi entrevistado pelos diáconos, os quais o recusaram, alegando que ele não era convertido. Contudo, ao invés de descartá-lo, os diáconos sugeriram um estudo de um ano sobre a natureza da teologia e do Evangelho. Daí, ao final daquele ano, eles o entrevistaram novamente. O registro da entrevista diz que eles o aceitaram como membro, mas com algumas reservas.
Esse tipo de análise foi substituído por apelos emocionais. Temos edificado igrejas hoje, mas não temos edificado o corpo de Cristo.
- Segundo, a humanidade se torna soberana e Deus se torna o servo.
Deus apenas espera para ver o que o homem fará. Essa perspectiva transforma Deus em vítima de nossas escolhas.
Isaías 46.9–10 declara:
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade;
- Sem a crença na eleição soberana de Deus, o mensageiro se torna parcialmente responsável pela salvação e deve assumir ou a culpa, ou o crédito pela salvação de almas.
Li sobre um evangelista que se gabou, dizendo, “Coloque um homem na minha frente por quinze minutos e arrancarei dele uma decisão para Cristo.”
Ele estava convencido de que o poder da conversão dependia de seu poder de persuasão. Deixe-me lembrá-lo de que nosso fervor e obediência não é para ver decisões, mas discípulos sendo feitos.
A eleição soberana nos lembra de que produzir decisões não é o nosso objetivo; nosso objetivo é produzir discípulos.
- Quarto, a opinião da maioria se torna mais valiosa do que a declaração solitária das Escrituras.
Garanto a você que a igreja evangélica, em geral, não crê na maioria das coisas que eu disse hoje. O motivo é porque as Escrituras não determinam mais o que cremos.
Uma pesquisa feita recentemente concluiu que 90% das pessoas entrevistadas creem em Deus. Contudo, aproximadamente 75% dessas mesmas pessoas não creem que a Bíblia é a Palavra de Deus, duvidam da existência de absolutos morais e não creem que a salvação é através de Cristo somente.
Arthur Pink escreveu da seguinte forma:
O único motivo por que alguém acreditaria na eleição é porque ela é ensinada na Palavra de Deus. Nenhum homem ou homens originou essa doutrina. Assim como a doutrina do castigo eterno, ela contraria os ditames da mente carnal e é repugnante aos sentimentos do coração não regenerado. Como a doutrina d Trindade e do nascimento milagroso do Salvador, a verdade da eleição deve ser recebida com uma simples fé que não questiona.
Quão distante a igreja é capaz de ir ao se recusar a crer em verdades difíceis da Palavra de Deus?
Deixe-me dar um exemplo esquisito, mas um baseado em acontecimentos reais recentes. Um dos sessenta bispos que votaram a favor de ordenar Gene Robinson como o primeiro bispo Episcopal que é abertamente homossexual, na conferência anual de sua diocese, tentou encorajar a denominação a não se fragmentar ou dividir. Ele disse em seu discurso, “Se a igreja precisa fazer uma escolha entre heresia e divisão, devemos sempre escolher a heresia.”
Em outras palavras, se seguir a Palavra de Deus causa divisão, então abandone a Palavra de Deus e fique unificado.
Que exemplo de nossa cultura religiosa relativista, independente e na qual o homem é o soberano—“Se você tiver que escolher entre a Palavra de Deus e seus amigos, escolha seus amigos!”
- Negar a eleição soberana simplesmente significa que a capacidade do homem de buscar Deus atrai mais do que a verdade de um homem depravado que não escolhe Deus.
John MacArthur chamou a eleição soberana de a doutrina bíblica que mais esmaga o orgulho. Ele disse que ela remove qualquer orgulho humano; ela exalta Deus e rebaixa a humanidade.
Como eu sei se sou um dos eleitos?
Ao final dessa pregação, talvez você esteja se perguntando, “Como posso saber se sou um dos eleitos?”
A Bíblia diz em Atos 16.31: Creia no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.
Você já creu? Se creu genuinamente, essa fé é obra de Deus em seu coração, conduzindo-o a confiar em Jesus Cristo.
Crer verdadeiramente em Cristo é dizer “sim” a Jesus em relação às Suas reivindicações, caráter e mandamentos. Então, se você já disse “sim” a Ele, você aceitou que Ele reivindica a sua vida, você adota o caráter dEle como sua busca incessante, e o seu desejo é seguir os mandamentos de Cristo. Esses não são pré-requisitos à salvação, mas evidências de salvação e fé genuína.
Então, a pergunta não é, “Você é um dos eleitos?” mas, “Você já disse ‘sim’ a Jesus Cristo?”
Meu convite a todos os que me ouvem hoje é simplesmente, “Diga sim!”
Eleição é como uma porta pela qual entramos em uma sala. Sobre a porta, existe uma placa que diz, “A todos os que vierem.” Daí, você entra pela porta, recebe a Cristo como Salvador. Quando sai, vê, do lado de dentro da sala e sobre a porta, outra placa que diz, “Eleito antes da fundação do mundo.”
Essa é a nossa mensagem ao mundo. Para os que ainda não disseram “sim,” a mensagem é, “Invoque o nome do Senhor e você será salvo.”
A verdade inimaginável, maravilhosa e inescrutável aos que creem é: Deus está por trás de tudo! Então, louve a Deus!
O desejo de Paulo com essa passagem não foi iniciar uma briga, mas encorajar verdadeira comunhão! Ele não escreveu essas palavras para dividir a igreja, mas para fortalecê-la em meio aos desafios da vida e serviço, capacitada pela graça de Deus para serem mensageiros na proclamação do chamado ao mundo inteiro.
Termino nossa meditação com palavras de louvor de Paulo, o qual escreveu em Efésios 1.3–6:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.
Deus nos conheceu… Deus nos predestinou… Deus nos chamou… Deus nos justificou… e Deus nos glorificou! Bendito seja o nome de Deus!
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 015/02/2004
©Copyright 2004 Stephen Davey
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