
O Santo Chamado ao Trabalho
O Santo Chamado ao Trabalho
Tito 2.9–10
Introdução
Existe uma palavra latina que herdamos para o nosso português, mas que, ao longo do tempo, perdeeu seu significado inicial. É a palavra “vocatio,” que significa “chamado.” Nos anos de 1500, esse termo foi usado para se referir a todo o tipo de trabalho, toda vocação, como um chamado santo dado por Deus.
Na verdade, Martinho Lutero, o grande reformador do século 16, usou essa palavra para se referir a toda e qualquer ocupação. Ele escreveu que Deus poderia encher a terra de habitantes criando cada nova geração de bebês a partir do pó da terra. Mas, ao invés disso, ele estabeleceu os ofícios de marido e esposa e pais como uma vocação santa. Ele escreveu: “Todo nosso trabalho no campo, no jardim, na cidade, no lar e no governo são máscaras por trás das quais Deus se esconde e realiza todas as coisas.” Ele ainda escreveu: “O próprio Deus tira o leite das vacas através do chamado do leiteiro.”
Toda vocação era um chamado santo por meio do qual Deus cumpria seus propósitos divinos. Por trás desse termo, “vocatio,” estava a ideia de que todo tipo legítimo de trabalho ou função social constituía um chamado distinto de Deus, pois o homem utilizava habilidade, talentos e dons dados por Deus. O próprio Deus estava e ainda está ativo no trabalho, responsabilidades e interações diários do ser humano.
O teólogo e líder reformador João Calvino escreveu há cerca de 450 anos que o local de trabalho deveria ser considerado um local de adoração.
O que esses reformadores fizeram foi retirar a ideia de chamado sagrado do contexto limitado e exclusivista do clero somente e aplicá-la igualmente ao negociante no mercado, às mães no lar e aos leiteiros no celeiro. Eles estavam destacando o fato de que cada crente possui um chamado santo de Deus, quer seja você um aluno ou um professor, um artista, uma dona de casa ou um fazendeiro. Então, não importa se seja um cirurgião, um comandante da polícia, um presidente em uma multinacional ou o presidente do almoxarifado, você está executando o chamado santo de Deus para você, uma responsabilidade santa.
E, para o crente, essa foi uma aplicação revolucionária. Qualquer vocação, posição ou ocupação na vida representa a obra de Deus. Nada é desperdiçado. Até mesmo o ato mais simples como tirar leite de uma vaca possuía um significado mais sublime.
Como a história antiga de três homens na Idade Média que estavam num local de construção onde, por décadas, uma catedral estava sendo construída. Cada um dos três homens estava cortando pedras, ajustando-as para os seus encaixes. Perguntaram a cada um: “O que você está fazendo?” Um respondeu: “Estou cortando pedra.” O segundo disse: “Estou mantendo minha família a partir desse trabalho de entalhador de pedras.” O terceiro respondeu: “Estou construindo uma catedral majestosa.”
A verdade é que os reformadores estavam apenas ecoando as palavras que o apóstolo Paulo já havia escrito quase 2 mil anos antes ao encorajar os crentes, dizendo:
Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens... A Cristo, o Senhor, é que estais servindo;
Infelizmente, hoje, a palavra “vocatio” perdeu seu sentido. Falamos sobre carreiras profissionais diferentes, nossas vocações e treinamentos vocacionais independentes de qualquer noção do sagrado. Hoje, o motivo para se trabalhar foi reduzido a um contracheque, o incentivo para trabalhar passou a ser o final de semana e o alvo final a aposentadoria. O sonho comum das pessoas é finalmente parar de trabalhar e nunca mais ter que servir a algum superior.
O apóstolo Paulo está prestes a esclarecer o significado do trabalho para a igreja ao tratar do assunto com um membro da família de lares comuns na ilha de Creta—o servo. Será para os escravos que Paulo esclarecerá que o trabalho comum do dia a dia é um local de adoração, uma plataforma sobre a qual a glória de Cristo pode ser vista, honrada e exaltada. Até mesmo os servos eram dotados de um chamado de Deus.
Pegue a sua cópia das Escrituras Sagradas e abra-a comigo na carta de Paulo a Tito, capítulo 2, versos 9 e 10, onde lemos:
Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes ao seu senhor, dando-lhe motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo contrário, deem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador.
Quando Paulo escreveu essa carta a Tito, havia cerca de 50 milhões de escravos no Império Romano. Na verdade, a estimativa era a de que um terço da população no mundo romano era composta de servos ou escravos. Pessoas se tornavam escravas quando levadas como prisioneiras de guerra, punidas por determinados crimes, por causa de débito, sequestro ou voluntariamente se tornavam o que chamamos de servos contratados, trabalhadores de fazenda, escrivães, artesãos, professores, soldados e até médicos. Escravos eram seres humanos sem direitos pessoais; poderiam ser tratados com ou sem misericórdia. Aristóteles chamou o escravo de uma ferramenta viva, um tipo de propriedade com uma alma.
Será o evangelho de Cristo que derrubará a tirania contra os escravos. É o evangelho que concede aos homens que cada um seja tratado com igual dignidade e justiça.
Muitos tentam descreditar Paulo porque ele não ordenou o fim da escravidão, nem uma rebelião aberta por parte os escravos. Contudo, o que tais pessoas não entendem é a paciência da sabedoria de Deus. O que Paulo faz, na verdade, é lançar o alicerce para a erradicação da escravidão. Ele planta uma semente que, no futuro, produziria o fruto da liberdade em qualquer país e em cada geração até ao dia de hoje. Ele escreve coisas radicais, como o fato de que escravos crentes e seus senhores crentes serem igualmente irmãos (1 Timóteo 6.2); ele escreve dizendo que, aos olhos de Deus, judeus e gentios, homens e mulheres, escravos e livres são um em Cristo (Gálatas 3.28).
Quando Paulo conhece e conduz à fé um escravo fugitivo chamado Onésimo, ele escreve para Filemom, o mestre de Onésimo, que também é um crente na igreja de Colossos. Ele recomenda que Filemom receba o escravo fugitivo Onésimo de volta, não como servo, mas como seu irmão amado (Filemom 16).
Quando o Império Romano se desintegrou e caiu, o sistema de escravidão acabou juntamente com o império, devido, em grande parte, à influência do Cristianismo. Antes mesmo da queda do império, escravos estavam sendo libertados em tão grande número a ponto de o imperador romano ter que introduzir restrições legais a fim de frear aquela moda.
O evangelho faria a diferença. Precisamos entender que o Novo Testamento não foi escrito para ensinar como se rebelar contras as instituições humanas ou como reformá-las. O evangelho introduziu o necessário para reformar o coração humano. Essa é uma questão de coração. E o coração humano reformado e espiritualmente redimido irá impactar as instituições humanas.
Agora, o que acho interessante nesse parágrafo de Paulo a Tito que acabei de ler é que Paulo desafia uma mudança de coração, não do mestre, mas do servo. Paulo dirá ao servo que sua situação na vida é um “vocatio” ordenado por Deus, uma vocação sagrada por meio da qual ele influenciará o mundo para a glória de Deus.
E, a partir desse texto, para nós que vivemos em um mundo livre, emergem seis características distintas que revolucionarão nossa própria vocação pessoal. Embutida nessa exortação a Tito, estão seis observações para todo e qualquer trabalhador do mundo moderno; e eu irei aplicar esse texto dentro do contexto de nosso mundo de hoje. Veremos, simplesmente, como encarar uma segunda-feira de manhã e um sistema mundial que é dirigido por 8 às 6, sabendo que você sai para o local de seu santo chamado.
- Primeiramente, devemos trabalhar todos com a característica da humildade.
Note o verso 9 novamente:
Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes ao seu senhor...
A palavra traduzida como “obedientes” era usada por militares para se referir ao relacionamento de um soldado com o seu superior. Ela carrega a ideia de formação de linha de acordo com patente. Em outras palavras, exorte os servos a se certificarem de que estão na ordem certa.
Mas isso parece meio redundante, não é? Por que mandar que um servo fique atrás de seu senhor? Ele já estava! Mas Paulo usa a voz média, indicando que os escravos daquela época e os empregados de hoje devem, voluntariamente, se submeter à autoridade de seu chefe. Não é ser coagido à submissão, mas se dispor a isso. Não importa quão difícil seja, quão injusto pareça ou quão opressivo soe. O crente fiel persevera com humildade e se sacrifica enquanto estiver empregado em seu trabalho. Apesar de outros no seu trabalho reclamarem da gerência e falarem mal dos supervisores e chefes da empresa, o crente fica no seu lugar, graciosa e voluntariamente fazendo seu serviço difícil, mesmo que jamais seja reconhecido por seu supervisor ou receba o pagamento perecido.
Por que uma pessoa graciosa e voluntariamente trabalharia para alguém que nem reconhece seu serviço? Ninguém se submete a um patrão assim. E essa é a questão. É aí onde o crente se destaca como uma vela numa sala escura. Crentes que entendem que o seu supervisor não é a autoridade final, que o seu trabalho é o chamado santo do Deus vivo, e que Deus irá trabalhar através deles para cumprir seus propósitos e refletir sua glória, à medida que eles perseveram. Esses crentes conseguem suportar.
Por isso, Paulo começa com uma característica categórica que torna faz desse empregado alguém singular e notável—a característica da humildade.
- Segundo, Paulo se refere à distinção da satisfação.
Essa é uma outra forma de aparecer no trabalho. Esses funcionários se distinguem por seu serviço satisfatório. Paulo adiciona no verso 9: dando-lhe motivo de satisfação.
A palavra “satisfação” foi quase sempre utilizada no Novo Testamento no sentido de satisfazer ou ser agradável a Deus. Portanto, novamente, Paulo indica uma visão maior para qualquer funcionário.
Paulo escreveu também em 2 Coríntios 5, verso 9:
É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis.
Cristo é o nosso Grande Supervisor. Ser empregado tem a ver com nossa posição; ser agradáveis tem a ver com nosso espírito.
Então, o empregado crente não tem desculpa alguma para fazer um trabalho mal feito, para preguiça, falta de iniciativa e descuidado. Esse tipo de pessoa nunca irá agradar o seu chefe e, nesse caso, Paulo deixa bem claro que essa pessoa também não estará agradando ao Senhor.
Um sapateiro, certa vez, perguntou a Martinho Lutero como ele poderia agradar o seu Salvador, já que agora ele era crente. Ele perguntou a Lutero: “Como posso servir a Deus?” Lutero lhe perguntou de volta: “Qual é o seu trabalho?” O homem disse: “Fabrico sapatos.” Para a surpresa daquele sapateiro, Lutero replicou: “Então, faça bons sapatos e os venda a preço justo.”
O que Paulo está fazendo é o que os reformadores tentaram reacender: um motivo mais sublime para o trabalho, um padrão de excelência por causa da pessoa que você, no final das contas, representa.
Um autor coloca isso da seguinte forma:
Portanto, é possível para a dona de casa fazer uma refeição como se Jesus Cristo fosse comê-la, ou limpar a casa como se Jesus Cristo fosse ser o hóspede de honra. É possível aos professores educarem seus alunos, médicos tratarem de seus pacientes e enfermeiras cuidarem deles, vendedores ajudarem seus clientes, atendentes de loja servirem os consumidores, contadores fazerem seus cálculos e secretárias escreverem e-mails como se, em cada um desses casos, eles estivessem servindo a Jesus Cristo.
É por isso que o crente faz o trabalho mais difícil, voluntaria-se para andar mais uma milha, trabalha extra para ajudar alguém. O Cristianismo transforma sua escrivaninha, seu lar, sua loja, seu escritório em nada mais que o santo dos santos onde Deus toca a terra.
Paulo diz: “Se você deseja revolucionar a ilha de Creta, são será com uma série de pregações que ninguém deseja ouvir; será por meio de funcionários satisfatórios que as pessoas observam em ação.”
Esses se destacarão por sua humildade, serviço satisfatório e terceiro:
- Sua atitude de colaboração.
Talvez essa seja a mais difícil de todas. Paulo adiciona no verso 9: não sejam respondões.
Paulo coloca, na verdade, uma série de particípios, indicando o que significa “dar motivo de satisfação.” Mas, para este estudo, decidi separá-los.
Paulo diz: “não respondões.”
Ele continua aumentando o nível, não é? O escravo nos dias de Paulo tinha que ser submisso; simplesmente, era assim que funcionava. Mas, agora, Paulo manda que eles deem motivo de satisfação ao mestre, o que se torna mais difícil. E para complicar ainda mais, ele manda que eles não resmunguem ou demonstrem descontentamento com a tarefa que precisam realizar.
Isso acaba com grande parte das conversas nos locais de trabalho, não é mesmo? Tudo o que se conversa perto do bebedouro ou do cafezinho é sobre o chefe, o supervisor, a empresa, os meus direitos, o salário injusto e assim vai. Se esse tipo de conversa parar, o trabalho deixará de ser divertido.
Paulo usa o verbo que significa “falar contra;” ou, em nosso vocabulário, “argumentar; responder.” Ele carrega a ideia de reclamação e crítica.
Portanto, a questão não é que você concordou em realizar sua responsabilidade, mas que não reclamou no processo. Paulo atravessa a superficialidade do trabalho e atinge o espírito do trabalho.
Nunca vou me esquecer de quando meus filhos eram pequenos; eles tinham suas tarefas em casa. Minha esposa decidiu que lidaria não só com as mãos das crianças, mas também com seus corações. Então, disse às crianças que, a partir de agora, não precisariam mais fazer as tarefas em casa para receberem suas mesadas; elas teriam que fazer as tarefas com uma boa atitude.
Agora, caso você esteja se perguntando, essa característica não significa que não se pode demonstrar descontentamento por meios legítimos. Isso não significa que se deve concordar com a gerência sempre, especialmente se a ordem recebida irá conduzir você ao pecado. Mas o texto não envolve ter que fazer algo contra a ética ou moral porque seu chefe deu ordens. Nesse caso, você teria que procurar outro emprego. Paulo se refere aqui a um funcionário que reclama simplesmente porque não quer fazer o serviço que foi mandado. Ou então, “Ah, está certo, vou fazer, mas saiba que não gosto de fazer isso.” Esse funcionário crente se esqueceu de que está, na verdade, uma missão sagrada, designado por Cristo como seu representante na terra por meio do qual Deus cumpre seus propósitos.
Mas ainda existe outra característica. Paulo lida com a vontade, vista na humildade; Paulo lida com o coração, visto no desejo de fazer um trabalho satisfatório que agradará o patrão; Paulo lida com o espírito, visto na atitude de colaboração.
- Agora, Paulo lidar com as mãos. A quarta característica de um funcionário piedoso é a honestidade.
Paulo adiciona no início do verso 10: não furtem. Essa é a palavra grega utilizada para se referir a “fraude;” significa “colocar ao lado.” Ou seja, colocar ao seu lado algo que não lhe pertence. A palavra grega ainda traz a conotação de “mão leve.” Ele simplesmente está roubando da empresa onde trabalha.
Os roubos não incluem necessariamente coisas grandes, mas grande quantidade de coisas pequenas. O roubo de recursos e suprimentos com fins para uso pessoal, relatórios de despesas alterados e assim por diante.
O que aconteceria em nosso mundo se todos passassem a viver honestamente?
No início dos anos de 1900, um avivamento varreu o País de Gales. Mais de 100 mil pessoas responderam ao evangelho, vieram à fé e começaram as devoluções, o que causou problemas inesperados para os portos ao longo da costa do país. No decorrer dos anos, trabalhadores haviam roubado de tudo, desde carrinhos-de-mão até martelos. Contudo, quando o povo buscou acertar as contas com Deus, eles começaram a devolver o que haviam roubado, o que resultou na aglomeração de pertences devolvidos nos estaleiros do País de Gales. Havia tanta ferramenta e maquinários sendo devolvidos que os estaleiros tiveram que colocar uma placa mandando que eles parassem. Uma placa dizia: “Se Deus conduziu você a restituir o que roubou, por favor, saiba que a administração da empresa o perdoou e deseja que você fique com o objeto roubado.”
O mundo não sabia ao certo como lidar com o avivamento espiritual nas vidas das pessoas.
“Tito, você deseja impactar a ilha de Creta? Comece com os empregados que roubaram de suas empresas; faça com que eles devolvam o que não lhes pertence.”
Será que nós trabalhamos com humildade, realizando serviço satisfatório, com uma atitude de colaboração e a marca da honestidade?
Paulo ainda adiciona mais uma característica.
- A conduta da fidelidade.
Ele escreve no verso 10: deem prova de toda a fidelidade. Poderíamos traduzir essa frase como “mostrando-se completamente fiel em bondade.”
É, mais uma vez, uma questão de comportamento. A expressão “dando prova” significa que, por meio de suas demonstrações práticas, você prova ao seu chefe que possui a melhor das intenções para o local onde trabalha.
Um comentarista disse: “O funcionário crente não deve colocar sua fidelidade em dúvidas, mas dar ampla evidência de que é fiel. Tragicamente, boa fé e lealdade ao patrão e ao colega de serviço estão em falta até mesmo entre os crentes.”
A propósito, a marca da lealdade ou fidelidade foi a característica que concedeu a Daniel a promoção de gerência mediana à posição mais elevada no reino da Babilônia. O rei constituiu Daniel como líder sobre todos os líderes políticos para que o rei, como a Bíblia diz, “não sofresse dano” (Daniel 6.2). Essa é uma forma mais branda de dizer: “Para que o rei não fosse roubado sem saber.” Ele precisava de um homem honesto que seria leal à coroa, ao reino e ao próprio rei.
Fico me perguntando: Por que Daniel se importaria com isso? Por que ele se importaria com o rei e o reino da Babilônia? Ele havia sido sequestrado quando ainda adolescente, levado, na verdade, como prisioneiro de guerra. Contra a sua vontade, ele é feito eunuco, o que significa que ficaria solteiro pelo resto de sua vida; daí, ele passa pela academia real de treinamento na política e nos negócios por causa da maneira que se destacou desde o princípio. Anos, décadas depois, Dario, o novo rei persa sobre Daniel, o promove. Por quê? Porque, devido a alguma razão estranha, esse judeu exilado fez o melhor que pôde em qualquer trabalho que realizou, até mesmo se aquilo significasse o avanço e melhoria do reino ao qual ele não pertencia. Daniel nunca voltou para casa. Entretanto, foi por causa da lealdade de Daniel ao rei e às tarefas dadas pelo rei que Deus foi glorificado.
Na verdade, o legado de integridade de Daniel o destacaria de tal forma que ele se tornaria o chefe sobre todos os sábios que serviam juntamente com ele. E Daniel usaria sua posição para proclamar o evangelho por meio das profecias do Antigo Testamento de forma tão eficaz que, 600 anos depois, seu legado espiritual foi visto no ambiente dos sábios que viajaram da Pérsia até Jerusalém com seus presentes de ouro, incenso e mirra, e perguntaram ao rei Herodes: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus?” (Mateus 2.2)
Antes de você proclamar ao mundo o significado do evangelho, certifique-se de que o mundo consegue ver a diferença que o evangelho tem feito em sua vida.
Nós devemos trabalhar não somente com humildade, colaboração, satisfatoriamente, com honestidade e lealdade, mas, finalmente, transformamos nosso local de trabalho em adoração quando...
- Trabalhamos com perspectiva na eternidade.
Paulo adiciona uma cláusula final revelando o propósito; ou seja, faça tudo o alistado acima...
...a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador.
A palavra “ornarem” é o termo grego “kosmeo,” do qual derivamos nossa palavra “cosmético.” Dessa maneira, a vida deles serve como um belo cosmético para a verdade sobre Deus, nosso Salvador.
Essa palavra foi usada no mundo antigo para descrever a disposição de joias de maneira específica a fim de destacar a sua beleza. Um comentarista escreveu: “Então, viva uma vida que adiciona brilho ao evangelho de Deus, nosso Salvador.”
Por quê? Porque o seu chefe precisa de um Salvador. Você trabalha para o seu patrão com o pensamento de que ele, seus colegas de trabalho, amigos e todos em seu mundo viverão por toda a eternidade. E existem apenas duas opções: céu e inferno. E não se pode entrar no céu sem a doutrina de Deus, nosso Salvador.
Justino Mártir escreveu no segundo século dizendo que aqueles próximos aos crentes devem estar prontos para ouvir sobre Cristo ao observarem a vida dos crentes ou ao fazerem negócios com eles. Penso quantas pessoas estariam receptivas ao evangelho depois de terem feito negócios conosco.
Jonathan Edwards, o pai do Grande Avivamento e pastor fiel, orou pedindo a Deus que estampasse a eternidade em seus olhos a fim de que olhasse para as pessoas ao seu redor no contexto de suas consequências eternas.
E isso não significa que você precisa sair e fazer algo espetacular, enorme, gigantesco. Paulo diz nessa conversa de família basicamente: “Faça o seu trabalho.”
- Apareça para o trabalho.
- Trabalhe duro.
- Sorria com frequência.
- Fique longe de problemas e dos que causam problemas.
- Não seja respondão.
- Fale a verdade.
- Viva para algo mais sublime que um final de semana.
- Mostre o Salvador às pessoas quando tiver oportunidade.
Existem muitos crentes dispostos a fazer grandes coisas para Deus, mas poucos dispostos a fazer pequenas coisas para Deus. De acordo com as cartas de Paulo, até mesmo as pequenas coisas são eventos nos quais Deus toca a terra e move sua mão para fazer a sua vontade.
Finalizo nosso estudo com a disposição de uma pequena garota de servir a Deus da forma útil e simples como podia, para a glória de Deus. E ela entendia que era uma honra se envolver em qualquer coisa que honrasse o nome de Deus.
Um pediatra chamado David Cerqueira escreveu sobre seu encontro com Sarah. Tudo começou com a sala de escola dominical de sua esposa. Ela havia preparado uma lição sobre como ser útil ao Senhor. Ela ensinou às crianças que qualquer um pode ser útil no serviço a Deus. David escreve:
As crianças ouviram quietamente o que minha esposa dizia e, ao final da lição, houve um momento rápido de silêncio. Uma pequena garota chamada Sarah falou. “Professora, o que eu posso fazer? Não sei como fazer muitas coisas úteis.” Não esperando aquele tipo de reação, minha esposa deu uma olhada rápida ao redor da sala e viu um vaso de flores vazio próximo à janela. “Sarah, você pode trazer uma flor e a colocar neste vaso. Isso seria algo útil e Deus se agradaria da diferença que ele faria para as pessoas que futuramente entrarão na sala e verão o belo vaso de flores.” Sarah franziu a testa e disse: “Mas isso não é importante.” Minha esposa replicou: “Bom, é sim, se você no final acaba ajudando alguém, mesmo que de forma simples.”
É claro, na semana seguinte, Sarah chegou trazendo à mão uma bela flor que havia pegado e a colocou dentro do vaso. Na verdade, ela continuou fazendo aquilo por várias semanas. Sem ninguém precisar pedi-la ou lembrá-la, ela fazia o máximo para garantir que o vaso estaria sempre com belas flores, domingo após domingo. Quando minha esposa contou ao pastor sobre a fidelidade de Sarah nessa tarefa tão simples, ele pegou o vaso e o levou para o templo, próximo ao púlpito e usou aquilo como ilustração do serviço aos outros.
Na semana seguinte, o pediatra David Cerqueira recebeu uma ligação da mãe de Sarah. Ela estava preocupada com Sarah, pois ela estava com menos energia e apetite do que o normal. David escreve:
Arranjei um horário para consultar Sarah no dia seguinte. Após baterias de exames e vários testes, sentei-me em meu consultório chocado com os papeis de Sarah em minhas mãos. O diagnóstico era: Sarah estava com leucemia.
No caminho para casa, parei para conversar com os pais de Sarah e lhes dar pessoalmente a notícia. A genética de Sarah e a leucemia que atacava o seu corpo formavam uma mistura horrível. Sentado à mesa da cozinha, expliquei que nada poderia ser feito para salvar a vida dela. Acho que nunca tive uma conversa tão difícil como a daquela noite.
O tempo passou. Sarah ficou confinada a uma cama e às muitas visitas que as pessoas lhe prestaram. Daí, veio outra ligação da mãe de Sarah pedindo que eu fosse vê-la. Larguei tudo o que estava fazendo e fui imediatamente vê-la. Após um rápido exame, percebi que Sarah não tinha muito tempo de vida.
Isso foi na sexta-feira à tarde. No domingo de manhã, o culto começou como de costume—a música, o sermão e, para mim, a tristeza. Próximo do final da pregação, o pastor parou de pregar de repente e olhou fixamente em direção ao fundo do auditório. Todos na igreja se viraram para ver o que era—era Sarah. Seus pais a haviam trazido para uma última visita. Ela estava enrolada num lençol segurando uma flor bonita à mão. Eles andaram até à frente da igreja onde o vaso estava próximo ao púlpito. Ela colocou sua flor no vaso e deixou um pedaço de papel ao lado. Depois disso, todos se juntaram ao redor dela, buscando lhe dar o maior apoio e encorajamento possível.
Esse médico escreve dizendo que Sarah morreu na quinta-feira seguinte. David conta:
Após o funeral, o pastor pediu que eu esperasse, enquanto as pessoas se dirigiam aos seus carros para ir embora. Ele me disse: “David, preciso mostrar algo a você.” Ele tirou de seu bolso o pedaço de papel que Sarah havia deixado próximo ao vaso de flores. Segurando-o à mão, o pastor me disse: “Quero que você fique com ele.” Eu abri o papel ainda dobrado onde Sarah havia escrito com giz de cera cor de rosa as simples palavras:
Querido Deus, este vaso foi a maior honra da minha vida.
Sarah entendeu. Uma simples tarefa foi a maior honra de toda a sua vida.
Qual é a sua conquista, a sua maior honra?
Estou convencido de que haverá vários servos do primeiro século diante de Deus surpresos, recebendo honra e recompensa pelas tarefas mais simples. Como também servos do século 21. E estou convencido de que ainda existem milhares de coisas pequenas e simples que jamais imaginamos, mas que são consideradas por Deus coisas honrosas de serem feitas.
É dessa forma que devemos viver e trabalhar; e, ao fazermos isso, mostramos a beleza do evangelho e o tesouro encontrado em Deus, nosso Salvador. Temos crentes demais esperando para fazer algo grandioso para Deus; precisamos de mais crentes dispostos a fazer algo pequeno para Deus, algo simples, algo ordinário deste mundo. Como colocar uma flor em um vaso que fica na janela de uma sala de aula para alguém ver. Algo útil, no qual a glória de Deus, por meio de um servo disposto, toca a terra.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 17/06/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
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