
Aprendendo a Dizer As Palavras Certas
Aprendendo a Dizer As Palavras Certas
Tito 2.11–14
Introdução
Carl McCunn era um homem natural do estado do Texas, Estados Unidos. Ele gostava muito de atividades ao ar livre. No final dos anos 70, ele conseguiu um trabalho no Alasca como motorista de caminhão. O pagamento era excelente, fez muitos amigos e, encantado com a beleza do lugar, decidiu fazer um curso de fotografia e planejou ir a uma expedição que, até hoje, é motivo de espanto para os que ouvem a sua história.
Aos 35 anos de idade, ele embarcou em uma expedição que duraria cinco meses a fim de fotografar partes do Alasca. Ele passou um ano planejando todos os detalhes de sua jornada. Buscou conselhos e comprou os suprimentos. Em abril de 1981, contratou um piloto de avião para que o levasse e deixasse à beira de um lago remoto no coração do Alasca que ficava a cerca de 100 quilômetros da civilização mais próxima. Ele levou consigo um rifle, uma espingarda calibre 12 e 500 quilos de suprimentos, bem como 500 rolos de filme para fotografia.
O piloto o deixou nas imediações do lago. O rapaz montou seu acampamento em total isolamento no Alasca selvagem, cercado por nada além da bela natureza, onde passaria os próximos cinco meses caminhando pelas matas, caçando, pescando e fotografando o esplendor do belo lugar. Todo contente, ele não sabia ter ignorado um detalhe que custaria sua vida. Ele não combinou com ninguém para ir buscá-lo e retirá-lo dali quando terminasse a expedição.
Já era agosto quando ele percebeu esse fato. Sua única esperança era que um amigo seu fosse se lembrar dos planos dele e notasse seu sumiço. A partir daí, tornou-se constante a busca diária por comida e resgate vindo do céu.
Mas ninguém veio. Em torno do final de setembro, o lago já estava congelado e a neve começando a aglomerar. Caminhar para caçar se tornou impossível. Seus suprimentos já estavam próximos do fim, como também a munição para suas armas.
Os detalhes de seus últimos dias são-nos conhecidos por causa de um diário de 100 páginas que ele escreveu e foi encontrado junto ao seu corpo. No diário, estão os detalhes dos últimos meses de fome e frio congelante. Ele foi encontrado pelas autoridades locais cerca de um ano após ter montado acampamento e começado sua trágica expedição. Em seu diário, está o que talvez seja a maior de todas as declarações de sua vida: “Acho que eu deveria ter usado de mais precaução e organizado a minha partida com alguém.”
Ele havia planejado cada detalhe de sua expedição, mas nunca havia feito planos para a sua partida. Ele havia planejado tudo sobre sua vida, mas nada sobre sua partida.
Sinceramente, essa é a história da maioria dos corações humanos de hoje—pensam demais sobre a vida, mas nada sobre a partida. Aproximadamente duas mil pessoas morrem a cada segundo no planeta terra; mais de seis mil a cada hora; 155 mil pessoas por dia; em torno de 57 milhões cada ano.
Acho incrível como a graça de Deus forneceu todas as provisões, não apenas para a vida neste nosso mundo selvagem, mas para a partida deste mundo também. Na verdade, a única maneira de viver neste mundo caminhando na direção correta e a única maneira de se deixar este mundo e ir para o destino correto é pela graça de Deus. Somos salvos pela graça; vivemos pela graça; somos ensinados pela graça; morremos pela graça e vamos para o céu na promessa da graça de Deus para os que creem no evangelho de Cristo.
Em Tito 2, para onde convido sua atenção hoje, o apóstolo vem fazendo o que chamo de conversa de família. E ele chegou ao final de seu discurso dado a cada membro da família. Daí, ele basicamente diz: “Vejam só, na verdade, é tudo por causa da graça de Deus que trabalha em nossos corações e vidas.” A graça de Deus. Note o verso 11: Porquanto a graça de Deus se manifestou.
“Porquanto,” ou seja, “Tudo o que eu tenho dito até agora a vocês está diretamente ligado, é devido e encorajado pela graça de Deus. Quer seja você um homem idoso ou uma senhora idosa, um rapaz ou uma moça, até mesmo um escravo e servo, a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Em outras palavras, essa é a sua saída. Então, o que tem feito com a graciosa oferta da salvação de Deus? Essa é a estratégia de Deus para providenciar sua saída deste mundo selvagem.
Note, cuidadosamente, que Paulo não está dizendo que todos os homens serão salvos; não o interprete de forma equivocada; ele não está ensinando universalismo aqui.
A conjunção que inicia essa sentença, que por sinal é uma sentença bem longa que se estica do verso 11 ao 14, é uma conjunção que conecta esses versos aos anteriores, onde Paulo se dirigiu a diferentes categorias de pessoas. Poderíamos entender como se Paulo dissesse no verso 11: “Porquanto a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos os tipos de pessoas.”
Quer seja você um homem ou uma mulher; jovem ou velho; escravo ou livre; rico ou pobre; judeu ou gentio; casado ou solteiro; com pais ou órfão; cidadão ou estrangeiro—qualquer pessoa pode ser um membro da família de Deus; e, caso você já seja um membro, ganhou seu cartão de membresia somente porque creu no evangelho da graça de Deus.
Mas a graça não termina depois de você ter crido. Você deverá crescer em graça, conforme 2 Pedro 3.18. É preciso crescer no caráter gracioso do Deus vivo.
Paulo está dizendo, com efeito: “Ouçam bem, quero continuar estacionado aqui um pouco mais para explicar a cada membro da família como a graça deve impactar cada área de suas vidas.” E é isso o que ele faz nos versos 11 a 14.
Então, o que desejo fazer é esboçar o pensamento de Paulo dando a você três palavras ou expressões diferentes que devemos aprender, três expressões determinadas ou governadas pela graça de Deus. Se você deseja medir o seu crescimento na graça de Deus, pergunte-se: “Com que frequência eu falo essas expressões?”
Deixando Sua Vida Passada
- E a primeira palavra que devemos aprender a dizer é: N-Ã-O.
Isso tem a ver com o tipo de vida que você vive durante o processo de rejeição diária da antiga vida. Note o verso 11 novamente e o início do verso 12:
Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens,
Note o que a graça faz:
educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas...
Paulo basicamente personifica a graça e diz que ela chega e começa a nos ensinar a dizer “não.” “Mas eu pensava que a graça me ensinava a dizer ‘sim.’” Correto, mas a primeira coisa que ela ensina é a dizer “não.”
A palavra traduzida como “educando-nos” possui implicações maravilhosas do Espírito de Deus por meio de Paulo. Paulo poderia ter escolhido a palavra didasko, que se refere a ensino formal, ao tipo de instrução obtido numa sala de aula. Didasko só ocorre quando você aparece na hora marcada numa aula. Mas Paulo não usa essa palavra. Ao invés disso, ele usa o verbo paideuo, do qual derivamos a palavra “pedagogia.” Esse verbo se refere ao ensino, geralmente dos pais, dado a uma criança pequena. Com maior frequência, esse tipo de ensino é informal e visto no decorrer do dia quando surgem oportunidades de ensino.
Em outras palavras, a graça de Deus é um professor que nos pega onde estamos e nos ensina diariamente quando surge qualquer oportunidade para ensino. Isso significa que a graça de Deus condescende conosco para nos ensinar de acordo com o nosso ritmo. A graça é o tipo de professor que reforça a verdade de acordo com as nossas próprias necessidades e estilos de aprendizado. A graça é o tutor perfeito.
Paulo escreve que a graça está nos “educando.” O tempo verbal indica que essa é uma ação contínua. Se você perdeu uma aula ontem ou semana passada, a graça chega e ensina hoje. E se você não entendeu bem a lição—que nenhum de nós jamais dominará, já que o assunto da aula é o caráter e a natureza de nosso Deus gracioso—, a graça aparece de novo, e de novo e nos conduz no assunto. Na verdade, pelo resto de nossas vidas, teremos a companhia dessa professora chamada graça.
E a graça irá nos instruir em como pronunciarmos essas três palavras ou expressões. A primeira é a pequena palavra “não.” Note o verso 12:
educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas...
A palavra “renegadas” significa “recusar, renunciar, deixar de possuir.”
Um jovem casal de nossa igreja veio até mim recentemente e me disse que eles decidiram renunciar tudo em seu relacionamento que atrapalhava o seu crescimento. Esvaziaram garrafas de bebidas alcoólicas, jogaram fora coleção de músicas, livros, revistas; começaram a gastar o dinheiro de forma diferente; eles tomaram um rumo completamente diferente na vida. Eles disseram, com efeito: “Estamos cansados dessa vida. Vamos começar a dizer não à nossa vida passada.”
E Paulo estende o mesmo desafio aos crentes de Éfeso ao escrever:
Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza. Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.
Tudo isso para dizer que aprender a andar com Cristo, ensinado pela graça, significa que você, acima de tudo, será ensinado a como e ao quê dizer “não.”
A pessoa que diz: “Ei, estou debaixo da graça e isso significa que posso dizer ‘sim’ a tudo,” não está sendo ensinada pela graça, porque a graça, conforme este texto, nos ensina a dizer “não.” Conforme um autor disse, “[Crescer em Cristo] é impossível sem a disciplina da recusa.”
E isso é semelhante ao aprendizado natural como ser humano. Se tem filhos, você sabe como passa muito tempo com eles criando-os, treinando-os e protegendo-os, usando, mais do que qualquer outra palavra, a palavra “não.” “Não... não...”. Você diz “não” a uma criança com muito maior frequência com que diz “sim.” Seu filho está na sala todo curioso com algo que viu sobre a prateleira, estica seu bracinho e tenta pegar aquele objeto com sua mãozinha; você imediatamente diz: “Não... não.” Daí, ele olha nos seus olhos e, enquanto olha na sua cara, ele pega o objeto. Ele acabou de decidir que você não é tão fortão como parece. Ele decidiu que pode encarar você. E pensa: “É isso o que eu acho do seu ‘não... não’.”
Não foi à toa que Mark Twain disse: “Quando seu filho chega aos dois anos, você o coloca num barril e passa a dar comida só por um buraquinho. Daí, quando ele chega aos treze anos, você tapa o buraco.” Veja só, não estou sugerindo essa técnica, mas Mark Twain deve ter tido filhos!
E parte do desafio de crescer é reagir à palavra “não” sem argumentação.
Enfim, a verdade é que a graça nos ensinará ao que devemos dizer “não.” Nossos pais não estarão para sempre ao nosso lado, ou talvez eles nem tenham nos ensinado; nossos colegas certamente não dizem “não” a nada; e o mundo até tirou essa palavra do vocabulário e a substituiu por “agora.”
O filósofo cristão Francis Schaeffer escreveu há várias décadas:
Estamos cercados por um mundo que diz “não” para nada. Temos uma sociedade que se priva de nada. Qualquer conceito relacionado à palavra “não” é evitado ao máximo... princípios absolutos e éticos devem dar lugar a [buscas] egoístas. É claro, esse ambiente se encaixa perfeitamente com nossa disposição natural porque, desde a queda do homem, também não queremos negar a nós mesmos.
Como vemos, precisamos da instrução diária da graça de Deus.
Paulo escreve: “A graça ensinará cada um a dizer o que temos dificuldade para dizer: dizer não à impiedade e às paixões mundanas.”
O que são “paixões mundanas”? De forma simples, são todas as coisas que você, discípulo em progresso, diz, deseja, busca ou participa, das quais, caso Jesus decidisse se juntar a você na sua jornada, você se sentiria envergonhado.
É dessa forma que você precisa abandonar sua vida velha.
Mas ainda existe mais.
Vivendo Sua Vida Presente
- A graça não somente o ensina como deixar sua vida passada, mas o ensina como viver sua vida presente.
Note o que Paulo continua escrevendo no verso 12:
educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente,
Não pare simplesmente com o “não.” A graça também nos ensina ao quê devemos dizer “sim.”
Na verdade, o tempo verbal do verbo “vivamos” indica que essa ação ocorre simultaneamente ao renegar de sua velha vida. Em outras palavras, você está dizendo “não” à impiedade e às paixões mundanas e, ao mesmo tempo, diz “sim” à vida sensata, justa e piedosa.
Parte da concepção errada a respeito do Cristianismo que é desencorajadora é a crença de que chegaremos a um determinado ponto onde jamais precisaremos dizer “não” de novo e tudo será um simples e fácil “sim.” O pensamento é que, claro, com certeza, o crente maduro chegará a um momento em sua vida quando não terá mais dificuldades em dizer “não.” As tentações deixarão de existir em um determinado ponto e ele só dirá “sim” a tudo.
Mas de acordo com o ensino de Paulo e com o resto da Bíblia, essa filosofia está errada. Até mesmo o próprio Paulo, um crente maduro, admitiu claramente que lutava contra as coisas que não desejava fazer a fim de fazer aquilo que sabia que deveria fazer. Como ele exclamou: “Miserável homem que sou!” (Romanos 7).
Jamais estaremos fora do alcance da tentação; jamais cresceremos a uma estatura onde não teremos que dizer “não” a alguma coisa. Ao mesmo tempo, também nunca estaremos além da necessidade de dizer “sim.”
Apesar de não podermos viver a vida cristã sem dizer “não,” também não podemos viver a vida cristã sem dizer “sim.” O Cristianismo não é simplesmente o abandono de hábitos; não somente nos afastamos da impiedade, mas também abraçamos a piedade. Nós não somente nos despimos do velho homem, mas precisamos nos revestir do novo homem (Efésios 4).
E Paulo nos mostra que a graça nos educará a dizer “sim” a três atributos distintos. O primeiro, é a sensatez. Essa palavra já apareceu várias vezes na carta de Tito. Sensatez é:
- uma das qualificações dos presbíteros conforme descrita no capítulo 1;
- exigida dos homens idosos em 2.2;
- exigida das jovens casadas e mães em 2.5; e
- exigida dos jovens rapazes em 2.6.
Agora, Paulo amplia o significado dessa palavra e envolve a família como um todo. Ninguém está isento da obrigação de dizer “sim” a essa característica.
A palavra significa “viver com discrição; pensar e agir com autocontrole.” Ela se refere a alguém com uma mente sadia. Ou seja, o crente não permite que sua mente seja controlada pelas circunstâncias ou mundo ao seu redor. Ele decide, portanto, diariamente seguir a verdade.
Daí, Paulo adiciona outra matéria no currículo da graça. O crente deve aprender não somente a sensatez, mas também a justiça. Paulo usa essa palavra somente duas vezes mais em suas cartas: uma vez para defender suas atitudes como sendo justas (1 Tessalonicenses 2.10), e outra para descrever a obrigação do crente de parar de pecar e começar a viver em justiça (1 Coríntios 15.34). Viver justamente significa simplesmente viver de acordo com o padrão divino daquilo que é justo.
Deixe-me abrir um parêntese rapidamente aqui. A cada dia, ouvimos mais as pessoas falando sobre valores. São valores de família, valores pessoais, valores sociais e muitos outros. Mas essa palavra, querido, “valores,” não significa mais nada, pois ela pode ser definida conforme a pessoa bem desejar. Você pode valorizar a vida humana, enquanto outras pessoas com igual paixão valorizam o direito que outro ser humano tem de morrer quando bem quiser. Você pode valorizar o casamento tradicional, mas outros, com igual intensidade, valorizam a união do mesmo sexo. A palavra “valores” é subjetiva; ela é definida por aquilo que você pessoalmente crê. Determinadas pessoas podem valorizar um hotel em particular porque lá eles fornecem um quarto onde podem fumar; já outras pessoas valorizam um outro hotel por não permitir que ninguém fume em suas dependências e proximidades. O que você valoriza está baseado naquilo que crê, sente e deseja fazer. E os valores variam tanto quanto o vento.
O que se perdeu em nosso idioma português de nossa geração foi o outro termo que a palavra “valores” substituiu e ninguém percebeu até que já tinha desaparecido. “Valores” substitui a palavra “virtudes.” E existe uma diferença enorme entre as duas. Um dicionário disse muito bem ao definir “virtude” como “de conformidade com o que é correto.” Daí, não precisamos mais nos perguntar por que essa palavra sumiu. Os padrões objetivos do que é correto, ou justiça, foram substituídos por uma cultura relativista que não deseja se conformar com nenhum absoluto ético, moral ou mesmo espiritual. Valores, por definição, não se conformam com nenhum padrão externo de certo ou errado; valores são meramente criados por pessoas que os reivindicam a fim de serem vistas como pessoas de virtudes.
Um homem diz: “Seguro firme esses valores,” e pessoas pensam: “Nossa, ele é um homem de grande virtude.” Não, ele não é. Ele é apenas uma pessoa com valores; e uma pessoa com valores não é necessariamente uma pessoa virtuosa. Uma pessoa de valores simplesmente se agarra a um padrão de coisas que gosta no momento, porque valores mudam, mas as virtudes são eternas.
O grande pregador inglês William Sangster, que estava pastoreando na época em que o Titanic afundou, contou em um de seus sermões sobre uma mulher rica que já estava sentada no bote salva-vidas prestes a ser baixado em segurança no Atlântico. De repente, ela se lembrou de algo importante que havia esquecido. Por causa de seu profundo desespero, permitiram-lhe voltar ao quarto, mas lhe disseram que ela teria apenas alguns minutos antes de o bote começar a descer sem ela. Ela saiu e correu rapidamente ao seu quarto. Apressou-se para a prateleira sobre sua cama. Lá estava sua caixa com belíssimas joias de diamante. Mas ela afastou a caixa, a qual caiu no chão. Atrás daquela caixa, estavam três laranjas pequenas. Ela as pegou e correu de volta para o bote salva-vidas e conseguiu embarcar. William Sangster escreveu: “[O perigo da morte] havia embarcado no Titanic. O sopro de seu hálito terrível transformou valores; coisas valiosas perderam seu valor, e coisas sem valor tornaram-se valiosas.”
Virá o dia em que o mundo estará diante de Deus e descobrirá que, de acordo com o padrão de justiça de Deus, muitos de seus valores não eram em nada virtuosos.
Paulo diz por meio de Tito: “Agora que você é um crente, permita que a graça de Deus, por meio da Palavra e do Espírito de Deus, o ensine o que é o certo.”
Paulo ainda adiciona uma terceira palavra: piedosamente. Esse é o antônimo de impiedade, aquilo que o crente deve abandonar. Piedade está relacionada à atitude apropriada para com Deus e para com as coisas de Deus. É um espírito e uma perspectiva parecidos com Deus.
Paulo ainda diz que devemos viver dessa forma no presente século. Os crentes vivem no presente século. Não vivemos para o mundo, nem vivemos como o mundo, apesar de vivermos no mundo.
E é assim que somos ensinados a viver.
Portanto, a graça nos ensina como abandonar a vida passada e como viver a vida presente. Mas ainda existe mais no currículo da graça.
Olhando para a Sua Vida Futura
- A graça também ensina como olhar para a vida futura.
Note o verso 13:
aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus.
Esse é um verso rico, não é? Dentre outras verdades, esse verso é uma das declarações mais poderosas do Novo Testamento sobre a divindade de Jesus Cristo. Alguns tentam sustentar que Paulo está falando de Deus o Pai e Deus o Filho separadamente, como: “nosso grande Deus e nosso grande Salvador, Cristo Jesus.” Mas existe apenas um artigo definido grego nesse título. Em outras palavras, o grande Deus é também o Salvador e esse é Jesus Cristo. Poderíamos inverter a leitura em português para capturar melhor essa ideia: “Jesus Cristo é o Salvador e nosso grande Deus.”
- Os pronomes no verso seguinte estão no singular apontando para Jesus Cristo;
- Além disso, no Antigo Testamento, existe a comum referência a Deus como “grande.” No Novo Testamento, a grandeza de Deus está sempre atrelada à grandeza de Deus o Filho;
- Finalmente, quando o Novo Testamento fala sobre Deus se manifestando, ele nunca usa Deus o Pai ou Deus o Espírito, mas sempre Deus o Filho.
E isso faz sentido, uma vez que nos é dito que Jesus Cristo é a divindade em forma corpórea; ele é a manifestação física do Deus invisível (Colossenses 1.15; 2.9).
E o que Jesus Cristo, o nosso grande Deus e Salvador, fará? Ele se manifestará. Até hoje, esperamos a sua manifestação. No contexto, essa é uma referência à igreja em todas as eras, esperando pelo seu arrebatamento e pela aparição repentina de Cristo.
- Os crentes tessalonicenses receberam a ordem de aguardar o Filho de Deus que desceria do céu (1 Tessalonicenses 1.10);
- Paulo disse a eles mais à frente que seriam salvos da ira vindoura (1 Tessalonicenses 1.10);
- Paulo escreveu dizendo que tinha a expectativa de estar vivo quando Cristo retornasse para levar a igreja que se encontraria com o Senhor nos ares (1 Tessalonicenses 4.17);
- Cristo descerá à terra para estabelecer o seu Reino Milenar, e ele descerá do céu com a igreja (Apocalipse 19).
Paulo, portanto, nos ordena aqui em Tito a aguardar com expectativa o dia em que Cristo virá para a sua igreja. Cristo cumprirá a promessa de proteger sua noiva da ira a ser derramada sobre o planeta terra durante sete anos, um tempo de angústia chamado de Tribulação. Depois disso, os redimidos, juntamente com Cristo, descerão do céu e estabelecerão o Reino de Cristo na terra onde ele reinará por mil anos.
Não temos tempo para revisar todos os eventos escatológicos de Apocalipse. Mas, agora, a ênfase é que a graça nos ensina a olhar para cima, a olhar na direção da vinda de Cristo que pode ser mesmo hoje. A graça nos ensina a dizer “não,” “sim” e, aqui, nossa terceira expressão, “talvez hoje.”
Talvez hoje o nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus, virá com um brado e nos levará para si. Aqui está a sua saída. Jesus Cristo é a sua saída!
Ouça bem, você já planejou como sair deste mundo? A maioria das pessoas diz: “Ah, minha vida já está certa; tenho todos os suprimentos de que preciso.” E daí? Você irá morrer! E já tem como sair? Acontece que sua saída se encontra em João 14.6:
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.
E Paulo diz: “Já que estamos no assunto do nosso grande Deus e Salvador, deixe-me dizer o que ele fez por aqueles que colocam sua fé nele.” Primeiramente, o verso 14 nos informa:
o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade...
A fim de remir-nos. Todo escravo para quem Tito estava pregando entenderia essa terminologia; essa é uma expressão vindo do mercado de escravos.
Nos mercados de escravos da época, um comprador se colocava próximo à plataforma do leilão onde o escravo ficava exposto e muitos compradores negociavam. Alcançando o preço estipulado, o dono tiraria as correntes de seu escravo que passava a pertencer ao novo mestre.
Jesus Cristo nos compra da escravidão ao pecado e passamos a ser seus escravos. Por esse motivo, Paulo começa a carta a Tito dizendo que ele se considerava apenas um “escravo de Deus” (1.1).
Note que Cristo nos remiu de toda iniquidade. O tempo verbal de “remir-nos” aponta para a obra de Cristo na cruz, um ato passado com poder e implicações contínuos.
De toda iniquidade. Isso significa que jamais cometeremos algo no futuro que levará Cristo a dizer: “Eu não sabia desse pecado aí!” Não. Toda iniquidade, seja pensamento, ato, desejo, foi paga na cruz pela morte de nosso Senhor Jesus.
Paulo ainda adiciona outra ação de Cristo aqui.
...e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.
Ele nos redimiu no passado e está nos purificando no presente; note ainda, ele nos torna zelosos na realização de boas obras a favor das pessoas ao nosso redor. Os puritanos chamavam os crentes de “capacitados com novas afeições.”
Será que somos pessoas realmente zelosas para Deus? Será que somos pessoas afetuosas? Somos zelosos pela nossa fé?
Um pastor foi pregar na grande cidade de Chicago, Estados Unidos. Quando chegou, pegou um táxi. Ele escreve:
O motorista era muçulmano e comecei a conversar com ele. Passamos ao lado de um prédio grande que havia sido transformado numa mesquita e eu perguntei quantos homens frequentam o local. Ele disse: “A reunião das 4 da tarde tem por volta de 1500 adoradores. Tem outra reunião às 4 da manhã, mas não é bem frequentada; apenas uns 900 aparecem.” Você consegue imaginar 900 crentes orando às 4 da manhã em Chicago, ou em qualquer outro lugar?
Esse pastor continua escrevendo e diz que grande parte das pessoas afirma crer em Deus, mas, evidentemente, não acredita na ideia de ir para a igreja. Pelo menos não como as reuniões de oração dos muçulmanos.
Por exemplo, se considerarmos, só nos Estados Unidos, as pessoas que dizem crer em Deus, mas que não vão à igreja, e colocarmos todas juntas e formarmos delas uma só nação, elas constituiriam a décima primeira nação mais populosa do mundo hoje.
Que tipo de mensagem estamos comunicando ao mundo? Será que o mundo nos ouve dizer “não” a coisas erradas? Será que ele nos ouve dizer “sim” às certas? Será que o mundo nos ouve conversando sobre a volta de Cristo para a igreja? Será que ele percebe em nós um senso de expectativa de que Jesus volte “talvez hoje”?
Recebi, outro dia, um artigo de jornal onde físicos escrevem uma seção. Esse artigo revela um fato que, somente agora, as pessoas estão começando a entender, mas, infelizmente, se apegam à esperança errada. O artigo dizia:
Os últimos dados dos satélites espaciais são inegáveis: o universo irá, eventualmente, morrer. Galáxias estão se distanciando umas das outras. Um dia, quando olharmos para o céu, veremos que estamos meio sozinhos, com outras galáxias distantes demais para serem observadas. Pior ainda, o frio será de morrer. À medida que o universo acelerar, as temperaturas irão despencar em todo o universo. Daqui a bilhões de anos, as estrelas terão exaurido seu combustível nuclear, os oceanos se congelarão, os céus se escurecerão e o universo será constituído de estrelas mortas, buracos negros e destroços nucleares. Será que toda a vida inteligente na terra está destinada a morrer? Parece que as imperdoáveis leis da física deram um veredito de morte. Mas possivelmente ainda existe uma estratégia de escape: deixar o universo. Será que as leis da física permitem a existência de túneis conectando a um universo mais jovem e hospitaleiro? Em 2021, uma nova sonda espacial, LISA (Laser Interferometer Space Antenna) será lançada, o que poderá provar ou reprovar essa conjectura. Será que uma saída pode ser construída conectando nosso universo a outro? Para a vida inteligente, não há saída. Ou saímos para [outro] planeta ou morremos no velho.
“Será que uma saída pode ser construída conectando nosso universo a outro?” A resposta é: sim.
Paulo escreve: “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador—que é Cristo Jesus.”
Algum dia, um dia, talvez hoje, ele virá para a sua igreja. Enquanto isso, viva na prática dessas três expressões. Aprenda a vivê-las; a graça ensinará você. “Não... sim... talvez hoje.”
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 24/06/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
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