
Aumentando O Nível
Aumentando O Nível
Tito 1.6
Introdução
Um líder da igreja antiga chamado Jerônimo escreveu uma carta a um jovem presbítero na igreja. Nessa carta, datada de 394 A.D., ele lamentou sobre a falta de liderança qualificada na igreja. Ele também incluiu alguns comentários rigorosos para sua própria geração de líderes eclesiásticos que se preocupavam mais com a beleza das catedrais do que com o caráter dos líderes. Ele escreveu:
Muitos constroem igrejas hoje; suas paredes e colunas são de mármores brilhantes; o teto reluz em ouro e os altares são adornados com pedras preciosas. Contudo, na escolha de um ministro de Cristo na igreja, nenhuma atenção é [dada].
Esse problema não é novo.
Os ofícios da igreja geralmente são dados aos mais ricos, com referências e conexões internas, e aos mais bonitos. E eles recebem as posições de liderança sobre a vida dos fiéis membros da igreja sem nem sequer analisarem seu próprio caráter.
Isso se torna ainda mais trágico quando consideramos o papel dos líderes da igreja: eles são sub-pastores do Supremo Pastor, Jesus Cristo. E Cristo confiou aos seus cuidados Sua posse mais amada e cara—Sua noiva redimida com Seu próprio sangue.
Qual é o preço disso?
Homens que lideram a igreja estão pastoreando a noiva de Cristo que está a caminho de seu casamento. Deus confiou aos presbíteros o cuidado de Seus próprios filhos para guiá-los, corrigi-los, instrui-los, amá-los, ajudá-los e encorajá-los ao longo do caminho.
Ouça, quanto mais valor depositamos no corpo de Cristo, mais valor depositamos na liderança do corpo de Cristo.
Você consegue imaginar um pai ou mãe indo a uma pessoa qualquer na rua dizendo: “Veja, se eu desse 100 reais para você, será que cuidaria de nossas crianças por um tempinho? Precisamos sair por algumas horas. Não importa quem você seja; não importa como irá se comportar próximo aos nossos filhos; não importa como vive, apenas precisamos de um descanso.”
O que você diria? Com certeza, isso nos falaria do baixo valor que esses pais dão aos seus filhos.
Você, pastor, entenda: quanto mais alto o valor, maior a preocupação por aqueles confiados aos seus cuidados.
Se você tivesse vindo cuidar de meus filhos gêmeos quanto eles tinham cinco anos—se realmente achasse que estava pronto para o desafio—,somente cuidaria deles porque eu e minha esposa confiávamos e conhecíamos você.
E você logo veria que minha esposa tinha a noite já toda organizada. Qual era a hora do banho e o que beberiam após o banho; possivelmente o copinho de suco deles já estaria na geladeira pronto. Daí, depois da hora do suco, seria a hora da história—e temos um livro de histórias bíblicas bem específico. Daí vinha a oração e a cama com os lençóis e os brinquedos ao redor deles na cama—um filho ficava com o ursinho e o outro com o macaquinho... e nem pense em confundir quem fica com o macaco e quem fica com o urso.
Enfim, a noite inteira já estaria bem organizada para quem fosse cuidar de nossos filhos. Minha esposa tinha demorado meses para conseguir fazer com que os meninos se adaptassem a uma rotina e ela não iria deixá-los sair dela com facilidade.
Mas, além disso, esses são nossos filhos preciosos e não iremos entregá-los nas mãos de qualquer pessoa para fazerem o que bem quiserem.
E você acha que Deus se importa menos com Seus filhos do que nós nos importamos com os nossos? Deus também deseja confiar Seus filhos preciosos a indivíduos que amam o rebanho e desejam guardá-lo, alimentá-lo e guiá-lo. Quem está disposto a sacrificar sua vida por essa causa?
Numa das passagens onde Cristo diz à igreja para seguir seus líderes, um detalhe interessante na liderança—que se assemelha à tarefa dos pais—vem à tona. O autor de Hebreus instrui os crentes no capítulo 13, verso 17:
Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma...
A palavra traduzida como “velam” se refere a ficar sem dormir.
Qual pai ou mãe que ama seus filhos nunca passou uma noite em claro para cuidar de seu filho pequeno ou preocupado com seu filho já adulto? Perder o sono faz parte da tarefa dos pais.
Não sei você, mas eu tenho dificuldades em dormir se os meus filhos ainda estão na rua à noite. Nossas duas filhas foram as últimas a deixar nossa casa. A filha mais nova está começando a faculdade. E ela sabe, coitada, que o horário de estar em casa no sábado à noite é o mesmo que durante outros dias da semana porque tenho dificuldades em dormir sem ela ter chegado ainda em casa. E realmente preciso dormir bem no sábado à noite, já que domingo é dia de muito trabalho.
Quantos pais, especialmente que já têm filhos mais velhos, não acordam durante a noite orando não somente pelo bem-estar físico, mas também o espiritual de seus filhos? Esse é o papel de pais amorosos, carinhosos e preocupados com a saúde espiritual dos filhos.
É como se Deus dissesse: “Também quero isso para os meus filhos! Quero confiar meus filhos à líderes dispostos a abrir mão do seu sono para cuidar do meu rebanho.”
Esse é o valor que Deus dá a você.
Então, não deveria ser nenhuma surpresa o fato de Deus fornecer uma lista longa de qualificações para os líderes da igreja. Ao menos que alguém esteja obcecado em suprimir a clara verdade da Palavra de Deus, é bem claro ao estudante da Bíblia que Deus não confia o bem-estar de Sua igreja a qualquer um para fazer o que bem quiser.
Em nosso estudo anterior, discutimos as responsabilidades bíblicas do pastor/presbítero/bispo, os três termos bíblicos usados em referência ao mesmo homem e ofício; ofício este de guardar, proteger, alimentar e liderar. É isso o que um pastor amoroso, cuidadoso e espiritualmente preocupado faz, dentre muitas outras coisas.
Além dessas coisas, não nos é dito o que o pastor deve fazer. Mas, é-nos dito muito mais sobre quem o presbítero deve ser. Existem duas listas na Bíblia que nos fornecem as qualificações desses líderes servos. A lista mais longa se encontra no capítulo 3 de 1 Timóteo e a mais curta no capítulo 1 de Tito que, basicamente, repete a lista de 1 Timóteo 3.
Abra sua Bíblia para as qualificações pastorais escritas por Paulo em Tito 1, versos 5 a 9.
Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si, apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem.
Quando chegamos ao final de uma lista como esta, o líder da igreja sente algo em sua alma que soa como: “Eu me demito!”
Se compararmos a lista de 1 Timóteo com a lista de Tito, concluímos que existem 23 qualificações. Se incluirmos a aspiração ou desejo ao pastorado, temos 24.
Mas quem pode alcançar esse padrão elevado? Especialmente quando a primeira das qualificações é “irrepreensível.” Na verdade, nem precisamos continuar lendo; podemos parar aqui mesmo, não é? Essa frase sozinha já acaba com tudo.
A palavra utilizada por Paulo aqui para “irrepreensível” não se refere a perfeição, mas a padrão. Ela fala de um homem sem alça, ou seja, sem um motivo óbvio na sua vida ou caráter que se torna empecilho à sua credibilidade.
Mas tenha sempre em mente que um presbítero, assim como qualquer outro membro do rebanho, é também um pecador caído; e o que pecadores fazem? Eles pecam.
Mas aqui está a diferença-chave: o presbítero, apesar de não ter alcançado a perfeição, se compromete a evidenciar um padrão santo de vida. Um pastor não pode dizer que é perfeito e sem falhas, mas pode demonstrar um progresso fiel em sua vida cristã. E aqui está um padrão de progresso em Tito 1.
Agora, precisamos saber que a palavra “irrepreensível” serve como um título categórico ao qual toda as demais qualificações se conectam. Ou seja, ele deve buscar ser irrepreensível ao ter um padrão fiel, bíblico e piedoso no seu casamento, na vida de seus filhos, no seu caráter e na sua vida pública.
E por que ele deve buscar esse padrão? Porque sua vida é um modelo para os que o seguem. Liderança é influência. Liderança é exemplo. A própria natureza da liderança convida a imitação. E o Novo Testamento não somente reconhece isso, mas encoraja também.
Paulo escreveu aos crentes de Filipos em Filipenses 3, verso 17:
Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.
Em Hebreus 13, verso 7, lemos:
Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram.
Pedro diz em 1 Pedro 5, verso 3:
tornando-vos modelos do rebanho.
“Modelos” é, literalmente, “padrão,” “typos.”
Paulo também escreveu em 1 Coríntios 11, verso 1:
Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.
Paulo não disse que eles deveriam imitá-lo porque ele era seus líderes; ele mandou que o imitassem ao vê-lo imitando a Cristo. Eles não podiam ver Cristo, mas podiam ver Paulo.
Tito 1 é, de fato, o padrão do caráter de Cristo colocado em forma escrita.
A razão por que o líder deve buscar esse padrão de vida é que ele determina o padrão para todos os que o seguem nesse modelo em suas vidas privadas e conduta pessoal; e seu padrão de vida deve somente conduzir pessoas a viver como Jesus Cristo.
Você vê esse tipo de imitação ao redor do mundo, não é? Está em todo lugar. Somos, por natureza, copiadores.
Lembro-me de uma reportagem que li sobre como a polícia teve que intervir numa confusão dentro de um shopping. Havia muita gente esperando ansiosa para comprar um par de tênis que era um lançamento limitado em honra ao um jogador. As pessoas lotaram a loja querendo comprar o tênis igual ao do atleta que admiravam. Quando as unidades acabassem, o fabricante não faria mais. Elas admiravam esse atleta e queriam usar o mesmo tênis que ele.
Na verdade, não existe nada de errado com isso. Os seres humanos querem ser como as pessoas que admiram. Mas aí pode estar o perigo; pessoas que admiramos podem não ser dignas de ser admiradas. Imitar não é o problema. Só tenha certeza de que você imita algo digno de ser imitado.
Por isso, o apóstolo Tiago disse: “Deixe-me aconselhá-los que não muitos de vocês busquem o papel de liderança na assembleia, sabendo que líderes receberão julgamento mais detalhado.” Por quê? Porque a vida do líder é multiplicada muitas vezes nas vidas dos que seguem seu exemplo.
Por essa razão, Paulo começa com essa qualificação; o líder deve ser irrepreensível.
Um autor escreveu que essa palavra não denota perfeição sem pecado ou passado perfeito, mas se refere à maturidade e reputação do homem. É, na verdade, uma palavra grega composta. A primeira parte significa “de cima;” a segunda “chamar.” Juntos, os termos significam “chamado de cima.” A ideia é de não somente um chamado superior, mas também de um padrão santo de vida superior.
O que veio à minha mente foi a frase: “Aumentando o nível,” assim como um atleta que precisa saltar cada vez mais alto à medida que a barra é erguida a uma altura mais elevada.
Ser chamado de cima pode se referir simplesmente a “aumentar o padrão, o nível.” E num mundo onde padrões têm desaparecido, esse tipo de exemplo bíblico é urgentemente necessário.
Eugene Peterson escreve estas palavras desafiadoras:
Existe menos a se admirar e menos a se imitar nas pessoas proeminentes em nossa cultura. Temos celebridades, não santos. Se olharmos ao nosso redor em busca do significado de maturidade, perfeição e pessoa abençoada, não encontramos muita coisa. Pessoas desse tipo estão por aí, mas não são fáceis de ser encontradas. Nenhum jornalista entrevista pessoas assim. Nenhum programa de televisão as apresenta. Elas não determinam as modas. Não existe valor de mercado nenhum nelas; nenhum Oscar é dado a pessoas baseado em sua integridade. Ao final do ano [quando a lista das dez pessoas mais bem vestidas ou mais bonitas é feita], ninguém faz uma lista das dez vidas mais bem vividas. Nossa sociedade hoje está desprovida de modelos. Nem a aventura da bondade, nem a busca pela justiça são noticiários [mais].
A questão não é onde as pessoas perfeitas estão, mas onde está o padrão de vida para as pessoas, onde está a evidência de progresso.
Amados, a igreja é a resposta para isso. Cada crente deve ser um exemplo; cada jovem crente é desafiado implicitamente quando Paulo diz ao jovem Timóteo em 1 Timóteo 4, verso 12:
...torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.
Veja bem, se os líderes devem ser piedosos porque estão sendo imitados, então, isso significa que os que os imitam têm o mesmo objetivo em mente e o mesmo chamado de Deus: viver vidas santas.
Por isso, o apóstolo Pedro escreve em 2 Pedro 1, versos 5 a 8, que cada crente precisa, diligentemente, adicionar à fé:
...a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
Aqui está o desafio, amados; chegou a hora de aumentarmos o nível. Cada crente precisa ser um exemplo a este mundo e cada líder crente precisa estabelecer o padrão para os demais crentes.
E o padrão continua com a próxima frase em Tito 1, verso 6:
alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher...
Podemos entender que essa frase significa que o presbítero precisa estabelecer o padrão santo de vida em relação ao seu compromisso com sua esposa. Ele é marido de uma mulher.
Agora, isso não significa que um homem solteiro ou viúvo não possa ser um presbítero. Paulo não diz que o presbítero deve ser casado; o que ele diz é que o pastor deve ter apenas uma esposa. Traduzido de forma literal, ele deve ser “um homem de uma só mulher.” A verdade é que nem todas as pessoas no primeiro século seguiam esse padrão de vida.
A imoralidade no primeiro século era aceita entre os homens casados. Os homens do Império Romano tinham uma esposa legal para questão de herança e filhos, e se envolviam abertamente com amantes, escravas e prostitutas do templo em suas práticas religiosas.
O divórcio também era muito comum. Um homem que viveu no primeiro século deixou para trás documentos revelando que ele havia se casado e divorciado legalmente 27 vezes. Dizia-se que as mulheres romanas marcavam o calendário com os nomes de seus maridos e se casavam tantas vezes que vestiam diariamente seus véus de noivas.
Portanto, não creio que o que Paulo diz aqui é que o presbítero deve ser casado com uma mulher de cada vez, mas com apenas uma mulher que ainda esteja viva. Ele deve ser homem de apenas uma mulher.
A propósito, a ideia de “homem de uma só mulher” foi tão radical no primeiro século como o é no século vinte e um. Vivemos numa cultura onde 24 milhões de pessoas se envolveram com outras fora do casamento; isso mesmo, na semana passada, 24 milhões de pessoas traíram seus cônjuges.
Um artigo que li recentemente destacava um site em particular criado para pessoas que desejavam “mandar seus votos para o espaço.” Pouco tempo atrás, eles criaram uma versão do site para celular que não deixava rastro algum em seu computador em casa ou no trabalho. Em apenas um mês, 679 mil homens e mulheres usaram o site para começar um caso com outra pessoa. O presidente do site, indiferente, disse: “Somos apenas uma plataforma. As pessoas traem porque suas vidas não estão dando certo para elas.” Daí, ele fez o comentário intrigante que, na verdade, eu já ouvi duas vezes no último mês: “Seres humanos não foram feitos para monogamia.”
Uma mulher disse numa entrevista que monogamia não é natural. E, de uma forma estranha, ela está certa. Amor compromissado e fiel a uma aliança vai contra a nossa natureza, corre contrário ao nosso egoísmo e orgulho. Compromisso fiel de amar seu cônjuge requer a morte do eu; e o ego não se deita e morre naturalmente.
Quando Paulo escreveu aos efésios mandando que os maridos amassem suas espoas como Cristo amou a igreja, o potencial de sucesso era zero. Amar sua esposa como Cristo ama a igreja?! Você está brincando?
- Cristo morreu pela igreja;
- Cristo sacrificou Seu conforto pessoal pela igreja;
- Cristo sofreu humilhação pela igreja;
- Ele abdicou de Seu futuro pela igreja;
- Ele tomou sobre Si os sofrimentos do pecado da igreja como se vocês Seus próprios sofrimentos;
- Ele intercede pela igreja;
- Ele ama a igreja a despeito de afeição e entendimento recíprocos;
- Ele deseja estar na presença da igreja quando ela terá satisfação e glória plenas na vinda de Cristo.
Então, nosso chamado é para:
- Morrer pelas nossas esposas;
- Nos sacrificar por elas;
- Tomar sobre nós os seus sofrimentos;
- Permanecer fiéis a despeito de afeição e entendimento recíprocos;
- A sofrer humilhação por elas;
- Entregar nosso conforto e direitos pessoais por elas;
- Interceder por elas para benefício delas acima de nossos próprios;
- Desejar sua glória e satisfação plena no reino vindouro.
E como se isso já não fosse o bastante, perceba o elemento maravilhoso no amor de Cristo pela igreja: mesmo quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós.
Você quer aumentar o nível? Amar sua esposa não é amá-la como sendo ela crente, mas amá-la como pecadora, pois foi exatamente assim que Cristo nos amou primeiro.
E isso não é natural.
Posso dizer algo a você? O presbítero deveria liderar o caminho nesse sentido; essa é uma das qualificações; na verdade, ela é listada tanto em Tito, como em 1 Timóteo.
Talvez seja por esse motivo que o casamento de pastores e presbíteros é alvo constante do inimigo. Nos Estados Unidos, pastores ocupam o terceiro lugar no índice de divórcios, precedidos apenas por médicos e policiais.
Então, mais do que nunca, esse tipo de homem qualificado dessa forma está cada vez mais difícil de encontrar, não é?
O motivo por que entendemos que essa qualificação exige que presbíteros não sejam divorciados, mas demonstrem ativamente no presente seu compromisso com sua esposa, é que seu relacionamento com ela é uma ilustração da fidelidade de Cristo para com Sua noiva, a igreja.
Cremos que Deus chama líderes na igreja para servirem de modelo na expressão da união de Cristo com Sua igreja com votos eternos de amar suas esposas, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe.
Para os que já experimentaram a agonia do divórcio—talvez você tenha sido o inocente e foi abandonado; talvez estivesse longe do Senhor e deixou sua esposa ou marido, mas já se arrependeu—se esse é o seu caso, então, dentre todas as pessoas, sabe como e por que orar pelos líderes da igreja e por suas esposas para que permaneçam fiéis aos seus votos de casamento, “até que a morte os separe.”
Tenho muitos amigos queridos na igreja que não possuem essa qualificação. Eles entendem que, apesar de não poderem ocupar posição de pastores e presbíteros, existem muitos outros ministérios onde podem servir com fidelidade e alegria. E eles sabem, talvez tão bem quanto qualquer outra pessoa, que a questão da monogamia está se tornando cada vez mais confusa nas denominações evangélicas.
Os debates tendem a modificar o que Paulo disse sobre um presbítero ser homem de apenas uma mulher. Será que Paulo realmente quis dizer isso? Será que isso não é apenas uma referência à fidelidade conjugal, de forma que pode significar “homem de um só homem” e “mulher de uma só mulher”? Você tem certeza de que, nessa qualificação, Paulo está estabelecendo os parâmetros de casamento como heterossexual? Eu creio que é exatamente isso o que Paulo faz aqui.
Até mesmo revistas seculares detectaram a ironia dentro da igreja evangélica. Uma revista apontou: “Denominações que antes não toleravam ministros divorciados, agora debatem se aceitarão ou não [ministras] lésbicas.”
Como chegamos a esse ponto? Apenas baixando o nível. Sinceramente, mais do que nunca, é hora de aumentarmos o nível.
E, a propósito, juntos, fazemos isso; um casamento aqui; um cônjuge que se sacrifica ali; uma esposa que ora; um marido compromissado com as Escrituras. Um casal de cada vez, compromissado em amar e servir um ao outro como uma demonstração viva do amor e serviço de Cristo pela igreja.
É hora de aumentar o nível.
Homens, especialmente, é hora de reinvestir no seu casamento, aumentando o nível em cada aspecto possível à medida que você segue o exemplo do caráter de Cristo.
No livro maravilhoso de Kent Hughes As Disciplinas de um Homem Piedoso, ele encoraja homens a investir tempo com suas esposas. Não ignore o tempo com elas. Ele escreveu:
Anos atrás..., um fazendeiro e sua esposa estavam deitados na cama durante uma tempestade quando o tornado arrancou o teto da casa, sugando a cama onde estavam ainda deitados e eles ficaram flutuando pelo ar num grande círculo. A esposa começou a chorar e o fazendeiro gritou dizendo que não era hora de chorar. Ela gritou de volta dizendo que não conseguia se segurar; ela estava muito feliz; essa foi a primeira vez que eles finalmente saíram juntos depois de 20 anos.
Paulo continua no verso 6 adicionando dizendo que o presbítero precisa ser um homem...
...que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.
O verbo “tenha” está, na verdade, no particípio, sendo melhor traduzido como “tendo.” Isso implica que tais filhos estão ainda debaixo da autoridade do pai. Em cada cultura, as condições dessa autoridade dos pais podem variar. Em Roma, poderia durar a vida inteira; para nós, em nosso país, essa autoridade tipicamente termina quando o filho sai de casa para trabalhar e morar sozinho ou quando se casa.
Uma característica desses filhos é que sejam “crentes” e isso tem criado uma discussão no decorrer dos séculos, como você pode bem imaginar. O problema se deve ao fato de o adjetivo “pista” poder ser traduzido tanto na forma ativa como crente, ou passiva como fiel. E ele é usado de ambas as formas nas Epístolas Pastorais.
Sem dúvidas, a palavra pode se referir a alguém crente. Na verdade, Paulo a utiliza da seguinte forma em 1 Timóteo 6, verso 2:
...os que têm senhor fiel...
Ou, “patrões crentes.”
Mas Paulo também a utiliza em 2 Timóteo 2, verso 2, para se referir a “homens fiéis.”
O evangelho de Mateus a utiliza dessa forma, bem como para se referir a um servo que obedece fielmente à ordem de seu mestre (Mateus 24.45).
Então, qual é a melhor interpretação aqui? Paulo está dizendo que os filhos precisam ser crentes ou somente que precisam estar sob controle?
Sinceramente, a única forma de determinarmos o significado desse adjetivo, seja ativo ou passivo, é pelo contexto. E eu creio que o contexto aqui é claramente sobre submissão, não salvação.
Na verdade, no decorrer de toda essa lista de qualificações, uma a cada duas está debaixo do poder do presbítero para ser alcançada. A salvação de seus filhos não está debaixo de seu controle. Apesar de cada líder da igreja desejar desesperadamente e orar pela salvação de seus filhos, tal salvação repousa, na verdade, na graça soberana de Deus. Como o piedoso Samuel no Antigo Testamento, um pastor no Novo Testamento não pode obrigar seus filhos a serem crentes, seja por ordem ou exemplo.
Então, a questão em jogo aqui relacionada às qualificações pastorais não é a fé dos filhos, mas seu comportamento; e isso se encaixa perfeitamente com 1 Timóteo 3, onde o presbítero deve governar bem a sua casa, mantendo seus filhos sob controle com toda dignidade.
Você pode até escrever na margem de sua Bíblia, como eu fiz, próximo à frase “que tenha filhos crentes:” “tendo filhos que se comportem.”
Além disso, se eles fossem crentes genuínos, se essa fosse a qualificação que Paulo tinha mente, a cláusula explicativa seguinte seria desnecessária. Paulo esclarece no verso 6:
...que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.
“Dissolução” era uma palavra utilizada a respeito de uma festa de bebedice em folias pagãs.
Se Paulo quisesse dizer aqui que os filhos de um presbítero têm que ser crentes, então, ele não precisaria ter adicionado mais nada. Poderia ter parado aí mesmo. Continuar dizendo que não podem ser acusados de se envolverem em bebedice de rituais pagãos seria desnecessário.
Seria como dizer: “Seus filhos precisam ser bons para com as pessoas e não podem ser canibais.” Bom, se eles são bondosos para com as pessoas, eles não precisarão ouvir a ordem: “Não mate nenhum colega seu hoje na escola para se alimentar dele.”
Ou seja, essa frase explicativa no final do verso 6 indica que Paulo tem em mente conduta, não salvação. O fato de eles serem salvos ou não exclui a responsabilidade do pai de manter a ordem em seu lar.
A propósito, esse texto implica que esses filhos são grandes o suficiente para ir a uma festa de bebedice. São grandes o suficiente para resistir a autoridade de seu pai e descreditar sua reputação.
Esses filhos não podem ser “acusados de dissolução.” Não vamos baixar o nível e dizer que isso não é importante. É sim. E precisamos lidar com isso.
Mais à frente, Paulo escreve que os filhos não podem ser insubordinados. A palavra que Paulo usa para “insubordinados” é em referência a alguém completamente incapaz de ser governado ou dominado. É a palavra usada em referência a alguém que se recusa a se submeter à Lei de Deus. Não é uma rebelião rápida, mas um filho com idade suficiente para abertamente se rebelar contra os padrões de moralidade e vida civil representados pelo seu pai, descreditando, portanto, sua reputação.
De novo, o contexto aponta para comportamento; e primariamente, comportamento contra a autoridade do pai exercida em casa. A conduta do filho deve estar debaixo do controle digno do pai que, por meio desse controle em casa, se torna qualificado a liderar a igreja.
Lembro-me de servir uma igreja enquanto estava no meu último ano da faculdade. Eu liderava o coral e trabalhava com os jovens. Lembro-me de que, não muito tempo depois de ter aceitado o desafio, soube que uma jovem mulher que cantava no coral estava se envolvendo com um homem casado da cidade. Para piorar ainda mais a situação, descobri que ela era filha de um dos líderes da igreja. Quando foi finalmente confrontado, ele não somente se recusou a confrontar sua filha, mas criticou os demais líderes por expor a situação.
Tudo se desmoronou quando eu saí de férias no meio do ano. Mas, nas palavras de Paulo a Tito, esse homem estaria desqualificado a servir como presbítero. Ele se recusou a usar sua autoridade e não quis nem sequer desafiar a vida de pecado de sua filha; ele se recusou a confrontá-la com arrependimento baseado em seu entendimento das Escrituras; ele não quis nem mesmo repreendê-la, o que poderia tê-la trazido à sensatez. Ao fazer isso, esse homem falhou em demonstrar um padrão de liderança para os que o seguiam.
Ele baixou o nível.
Amados, é hora de aumentarmos o nível novamente. É hora de a igreja representar bem a vida santa num mundo pecaminoso. Que todos possamos, em nossos casamento e lares, resistir ao incentivo natural de nossa carne e nossa cultura de baixar o nível; mas, ao contrário, que o aumentemos ainda mais. Cristo merece nada menos do que isso. Seu imenso amor por nos é tão maravilhoso e divino que requer nossa alma, nossa vida, nosso tudo.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no dia 26/02/2012
© Copyright 2012 Stephen Davey
Todos os direitos reservados
添加評論