
Santos Surpreendentes
Santos Surpreendentes
Série A Fé que Trabalha! – Parte 4
Tiago 2.25–26
Introdução
Se você já foi para uma emergência, então sabe muito bem o que é uma triagem. “Triagem” é uma palavra francesa que significa “separar.” Hoje ela é comumente utilizada pela comunidade médica em vários países e se refere ao processo de separação nas salas de emergência. A enfermeira-chefe determina quais pessoas estão em sérias necessidades e quais não estão. É claro que, se você já foi para a emergência, é porque se trata de uma emergência, não é? Eu fui à emergência poucas vezes em minha vida e, todas as vezes que eu fui, não estava doente o suficiente porque passei horas para ser atendido.
Eu li que, na Segunda Guerra Mundial, os aliados utilizaram o sistema de triagem em hospitais improvisados próximos às linhas de frente. Era responsabilidade do supervisor da triagem identificar os feridos com etiquetas coloridas. Essas etiquetas categorizavam os feridos em três grupos distintos. Uma cor era utilizada para pacientes considerados sem esperança, ou seja, nada poderia ser feito para salvar suas vidas. Outra cor designava pacientes que tinham esperança. Os soldados dessa categoria sobreviveriam independente de receberem ajuda ou não; eles não precisavam de tratamento de emergência; esses poderiam esperar. A terceira cor marcava pacientes duvidosos; em outras palavras, esses sobreviveriam, caso recebessem o tratamento devido. Então, grande parte da emergência, como você pode imaginar, era destinada a esse grupo.
Uma vez que as linhas de frente trabalhavam com uma equipe médica limitada, como também suprimentos e equipamentos limitados, a assistência médica era concedida primariamente a esses soldados que tinham a etiqueta de duvidosos—que poderiam sobreviver se recebessem tratamento adequado.
Um soldado chamado Lou chegou a um desses hospitais improvisados seriamente ferido. Ele havia sido atingido por uma metralhadora e uma de suas pernas foi completamente despedaçada. E ele também tinha perdido muito sangue. O supervisor da triagem o examinou e tomou sua decisão: Lou foi discretamente colocado no grupo daqueles sem esperança de sobreviver. A cor da sua etiqueta basicamente informava aos membros da equipe médica que providenciassem somente conforto a Lou, nada mais.
A enfermeira designada para prestar cuidados a Lou percebeu que ele estava consciente e começaram a conversar. Logo descobriram que ambos era da mesma região de seu país. E conhecer Lou como uma pessoa, não somente como simplesmente mais um soldado ferido, levaria essa enfermeira a fazer algo proibido. Numa noite, ela entrou naquela tenda de hospital sem que ninguém a visse, arriscou seu trabalho e sua carreira profissional e mudou a cor da etiqueta de Lou, tirando-o da categoria de sem esperança para duvidoso. Algumas horas depois, Lou foi transportado para longe da frente de batalha e conduzido a um hospital melhor. Meses depois, com uma perna a menos, Lou se recuperou e viveu uma vida longa, grato àquela enfermeira que mudou sua etiqueta, concedendo-lhe uma nova chance de vida.
Deixe-me dizer algo a você que pode soar até como previsível demais ou banalizado, mas vou dizer mesmo assim: o trabalho de Jesus Cristo é mudar etiquetas! Quando Cristo entrou na casa daquele coletor de impostos corrupto chamado Zaqueu, a multidão murmurou do lado de fora pelo fato de Jesus se hospedar com um pecador. Esta era a etiqueta—pecador! Mas quando Jesus saiu na varanda com Zaqueu, ele anunciou: Este homem é agora um filho de Abraão” (Lucas 19.9). Que tal essa mudança de nome? Ele havia recebido a etiqueta de um pecador sem esperança. Mas, pela graça de Deus, recebeu a garantia pela fé em Deus de que um dia viveria com os santos de Deus na presença da glória de Deus. Sua etiqueta foi alterada de sem esperança para cidadão do céu. Que tipo de etiqueta você possui hoje?
Agora, se você nos acompanhou em nossos estudos anteriores, lembra-se de como Tiago definiu e ilustrou três diferentes tipos de fé:
- A fé morta—palavras sem obras. Ela mexe apenas com o intelecto ao aceitar fatos;
- A fé demoníaca—reconhecimento de Cristo sem um relacionamento com Cristo. Ela mexe com o intelecto e com as emoções, mas não vai além;
- A fé dinâmica—fé que serve para alguma coisa, pois é a fé que serve outras pessoas por meio das obras. Ela mexe não somente com o intelecto e com as emoções, mas também com a vontade.
Tiago ilustra para nós a fé dinâmica ao chamar a atenção para a vida de Abraão. Na época em que Tiago escreveu essa carta, Abraão era, sem dúvidas, o patriarca mais reverenciado de todos, o pai fundador da fé, a epítome da fé em ação.
Ao chegarmos ao final da biografia de Abraão, ficamos certamente maravilhados com a graça de Deus simplesmente por causa dos testes de fé nos quais Abraão fracassou. Por outro lado, também ficamos maravilhados com os testes nos quais ele teve sucesso:
- pela fé, Abraão deixou seu pai e sua terra natal;
- pela fé, Abraão creu na promessa de Deus sobre um herdeiro;
- pela fé, Abraão se dispôs a oferecer seu filho Isaque a Deus.
Agora, somos tentados a chegar ao final de uma biografia como essa e pensar que Deus jamais irá fazer algo através de nossas vidas; então, nem vale a pena tentar viver uma fé dinâmica, já que nunca serei como Abraão. Ele andou com Deus 50 anos; é óbvio que ele se tornaria o grande exemplo da fé dinâmica.
Tiago previu essa reação por parte da congregação. Por isso, guiado pelo Espírito de Deus, ele conclui sua ilustração de fé dinâmica nos mostrando uma pessoa totalmente diferente de Abraão. Tiago já nos mostrou o melhor tipo de vida; agora, ele mostrará o pior. No versos 25 e 26 do capítulo 2, Tiago fornece uma ilustração final sobre a fé dinâmica. Note comigo:
De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.
Não existe outra pessoa com vida mais apropriada para se contrastar com Abraão que Raabe.
Contrastando O Patriarca com A Prostituta
Pense só por um momento nesses contrastes:
- Abraão era um homem; Raabe uma mulher. Pensei que seria apropriado começar com o óbvio!
- Abraão era o hebreu original, o pai da raça judaica; Raabe era uma gentia idólatra;
- Abraão era um grande líder; Raabe era uma cidadã comum.
- Abraão estava no topo de seu ambiente sociocultural; Raabe estava no fundo;
- Abraão era um cidadão respeitável e honroso; Raabe era desonrosa;
- Abraão era o tipo de homem que você diria que queria ter tudo a ver com Deus; Raabe era o tipo de mulher que você diria que não queria ter nada a ver com Deus.
Supondo que não soubesse nada sobre a biografia de Raabe, você saberia, com base nessa passagem, que ela, apesar de prostituta, demonstrou uma fé viva, genuína, dinâmica, assim como Abraão. A distância entre um patriarca e uma prostitua é enorme, e isso faz parte daquilo que Tiago tem em mente aqui.
Vemos a graça de Deus e a fé genuína operando dentro e através da vida de redimidos judeus e gentios, um homem honroso e uma mulher desonrosa que são ambos santos surpreendentes. Ambos são troféus da graça de Deus e, até ao dia de hoje, a linhagem do indivíduo não constitui defeito à sua fé. O nome de sua família não contribui nem interfere na sua demonstração de fé dinâmica no Deus vivo. Deus não diz: “Bom, se você tivesse vindo de um lote diferente, talvez eu tivesse um ministério para você. Estou buscando pessoas como Abraão.” Deus não está condicionado ao seu passado, sua raça ou currículo. Talvez você não entenda isso a partir da ilustração de Abraão, mas Tiago sabe que você ficará maravilhado com a ilustração de Raabe.
Agora, a fim de apreciarmos melhor a ilustração que Tiago faz de Raabe, precisamos voltar à apresentação que Josué faz dessa mulher Raabe. Então pegue sua Bíblia e abra-a no livro de Josué. Se você não conhece o livro de Josué, é necessário que preste atenção ao contexto.
Josué assumiu a liderança do povo de Israel, já que Moisés morrera. A peregrinação dos israelitas no deserto por 40 anos está prestes a terminar e a nação se prepara para entrar na terra prometida a Abraão em Gênesis 12.
A terra prometida já é habitada por nações idólatras, perversas e violentas que não estão muito contentes com essa ideia de promessa, nem mesmo com o julgamento de Deus sobre eles, a respeito do qual já tinham recebido alerta anos antes. Sabemos disso por meio do testemunho de Raabe.
Josué decide enviar dois espias para analisar a primeira cidade. Eles se deparam com uma cidade preparada para batalha, cercada por muralhas, chamada Jericó. Note a segunda parte do verso 1 de Josué capítulo 2, onde lemos:
...Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome era Raabe, e pousaram ali.
A palavra para prostituta é o termo hebraico zonah, traduzida como “prostituta” ou “hoteleira.” Se ela fosse uma hoteleira, a tensão que sentimos seria logo resolvida. O problema é que o Novo Testamento esclarece para nós que Raabe não era dona de nenhuma pousada. Na verdade, a palavra associada a “Raabe,” tanto no Antigo como no Novo Testamento, é o termo pornē, do qual derivamos “pornografia.” O contexto é de imoralidade sexual. Raabe não administrava um hotel nas muralhas de Jericó, mas um motel.
A pergunta que imediatamente surge é: o que esses homens estão fazendo na companhia de Raabe? Eu creio que o verso 2 nos dá a resposta:
Então, se deu notícia ao rei de Jericó, dizendo: Eis que, esta noite, vieram aqui uns homens dos filhos de Israel para espiar a terra.
Em outras palavras, os homens foram vistos quando entraram na terra. Talvez eles tenham sido vistos quando cruzavam o rio Jordão, talvez no vau já perto da cidade.
Os espias evidentemente sabiam que tinham sido vistos porque, logo que chegaram ao motel de Raabe, pediram que ela os escondesse. Se você ler o capítulo todo, verá que eles passaram a noite no telhado e não dentro do bordel.
Por que ali? Um autor sugere: “Para onde mais alguém que não queria ser importunado com perguntas iria? Para onde ir e conseguir abrigo e, ao mesmo tempo, permanecer no anonimato?” Essa sugestão é interessante, mas creio que foge do foco principal. Obviamente, eles foram conduzidos por Deus para aquela casa em específico e para aquela mulher em específico, a qual era a única pessoa em toda a cidade que estava pronta para crer no Deus de Israel. Deus conhecia o seu coração; Deus já conhecia o seu desejo.
Ouça: ela é a única pessoa em toda a Jericó que se simpatiza com a causa daqueles homens. Não é coincidência nenhuma que esses dois espias, sabendo que seriam seguidos, entram correndo no motel dessa mulher esperando o melhor.
Para o alívio deles—e talvez grande surpresa—eles encontram uma mulher não somente pronta a confessar sua fé no Deus de Israel, mas a demonstrar sua fé nele; e é isso o que Tiago acha ser incrível. E realmente é! Note os versos 3 a 5:
Mandou, pois, o rei de Jericó dizer a Raabe: Faze sair os homens que vieram a ti e entraram na tua casa, porque vieram espiar toda a terra. A mulher, porém, havia tomado e escondido os dois homens; e disse: É verdade que os dois homens vieram a mim, porém eu não sabia donde eram. Havendo-se de fechar a porta, sendo já escuro, eles saíram; não sei para onde foram; ide após eles depressa, porque os alcançareis.
Você notou que a resposta de Raabe à Polícia Militar de Jericó contém uma dúzia de mentiras? Agora, como Tiago pode falar de Raabe de forma tão gloriosa, se ela mentiu descontroladamente? Como ela foi parar na lista dos Heróis da Fé de Hebreus capítulo 11?
Estudiosos da ética cristã falam sobre a hierarquia da ética demonstrada aqui por Raabe. Em outras palavras, existem momentos em que princípios morais superiores são mantidos, mesmo quando exigem desobediência a princípios morais inferiores.
Pense nisso desta forma: suponhamos que você more na Holanda durante a década de 1940. Daí, um soldado nazista bate à porta de sua casa perguntando se você tem em sua casa algum judeu escondido no guarda-roupas. “Claro que não!” “Você tem certeza, Sr. ten Boom?”
O princípio moral que obriga a pessoa a proteger os judeus da morte é superior ao princípio que o obriga a revelar o esconderijo. Caso um estuprador entre em sua casa perguntando se tem esposa ou filhas, você provavelmente diria: “Não, sou um homem solteiro e a decoração da casa foi ideia minha.”
Estou prestes a terminar a autobiografia de dois volumes de Charles Spurgeon, o pastor mais conhecido em Londres nos anos de 1800. A partir de um determinado momento do seu ministério e até a sua morte, seu irmão James serviu como pastor auxiliar.
Numa noite, alguém bateu à porta da casa de Spurgeon. A empregada não estava por perto; Spurgeon foi e abriu a porta. Ao abri-la, um homem puxou uma faca grande e disse que iria matar Spurgeon. Ao que Spurgeon respondeu: “Ele não está aqui.” “Então quem é você?” Spurgeon conseguiu convencer esse homem de que ele estava falando com James, o irmão de Spurgeon; afinal eles se pareciam. Spurgeon foi tão convincente que o homem acabou fugindo, mas foi pego a alguns quarteirões da sua casa.
Sinceramente, esse entendimento de hierarquia da ética não resolve o problema. É possível argumentar que falar a verdade levaria à morte de Spurgeon, um homem que Deus usaria para proclamar o Evangelho poderosamente. Não sabemos.
Poderíamos argumentar que Raabe deveria ter dito aos soldados: “Sim, os espias estão no teto escondidos debaixo das canas de linho.” E Deus poderia ter realizado um milagre, fazendo com que os espias se tornassem invisíveis. Não existe nenhuma resposta fácil. Raabe, sem nunca ter feito um curso sobre hierarquia da ética, escolheu proteger aqueles homens ao negar que eles estavam em sua casa.
Quando a polícia do rei foi convencida disso e saiu, Raabe subiu ao teto e disse:
Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra, e que o pavor que infundis caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados. Porque temos ouvido que o SENHOR secou as águas do mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito; e também o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Seom e Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes. Ouvindo isto, desmaiou-nos o coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o SENHOR, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra.
Você consegue imaginar isso? Moisés devia estar se remexendo no túmulo quando ouviu isso.
Lembre-se de que, 40 anos antes, Moisés tinha enviado 12 espias—Josué era um deles—, mas eles voltaram dizendo: “Jamais sobreviveremos; o povo daquela terra é gigante e nós somos como gafanhotos. Jamais permaneceremos vivos.” Então, Deus os enviou ao deserto para uma peregrinação de 40 anos e eles não entraram na terra prometida.
Raabe agora diz que ela e seu povo têm acompanhado as proezas dos filhos de Israel desde que saíram do Egito 40 anos antes. Eles ouviram como Deus havia aberto o Mar Vermelho ao meio e afogado o exército egípcio. Agora, 40 anos depois, Raabe revela a perspectiva do seu povo: “Nós sabíamos que nunca teríamos uma chance contra o seu Deus; estamos atemorizados e nossos corações cheios de temor diante do seu Deus.”
Imagine todos aqueles israelitas que morreram no deserto e não puderam entrar na terra prometida porque lhes faltou a fé dinâmica, a fé pessoal no Senhor. Agora, 40 anos depois, existe uma mulher entre os pagãos que tem fé no Deus daqueles israelitas. E ela não somente creu, mas agiu. Ela ajudou os espias a fugir e seguiu a ordem deles ao pendurar um cordão escarlate na sua janela.
A palavra hebraica comum para cordão não é utilizada em Josué 2.12; ao invés disso a palavra tiqwa é empregada, mais frequentemente traduzida no Antigo Testamento pela palavra “esperança.” Esperança! Essa era a única esperança de Raabe e ela arriscaria tudo pela sua esperança.
Esse cordão é chamado de sinal. É a mesma palavra usada no evento da páscoa no Egito há mais de 40 anos, quando o anjo da morte veio. Aqueles que tinham o sinal (a mesma palavra), que era o sangue do cordeiro nos umbrais da porta, foram salvos da morte.
Essas palavras não são coincidências; elas são expressões de esperança e redenção da páscoa. Essa mulher é salva da morte pela sua fé em Deus; ele somente era sua esperança! Os israelitas tinham visto os milagres; eles haviam sido livrados várias vezes; eles tinham experimentado os milagres. Raabe, contudo, tinha apenas ouvido, e ela creu.
Veja bem, ela já estava pronta muito antes de esses espias chegarem lá; ela estava pronta para abandonar seus ídolos e seus clientes; ela estava cansada daquela vida; ela sabia que os israelitas estavam vindo. Ela sabia que eles seguiam o Deus vivo e verdadeiro; sem dúvidas ela fez uma oração secreta: “Eu sei que tu és o Deus do céu e da terra. Se tu me perdoares e me aceitares, alegremente te seguirei com minha fé genuína. Será que tu poderias mudar a minha etiqueta de “sem esperança” para “com esperança,” de uma prostituta sem esperança para uma seguidora perdoada, de uma pecadora para uma santa?”
Muito tempo antes de os israelitas chegarem do lado de fora dos portões da cidade, note que o capítulo 6, verso 1 diz:
Ora, Jericó estava rigorosamente fechada por causa dos filhos de Israel; ninguém saía, nem entrava.
Os amonitas são mencionados especificamente nas Escrituras como uma nação idólatra conhecida pelos seus sacrifícios de crianças. Eles eram cruéis e, acima de tudo, rejeitavam o Deus de israel.
A cidade de Jericó estava repleta de fé demoníaca: eles sabiam que as histórias eram verdadeiras; eles sabiam que o Deus de Israel existia; eles sabiam tudo que Raabe sabia, mas não quiseram abrir os portões e baixar sua guarda. Eles preferiam morrer ao invés de se render a Deus. Daí, com um simples sopro da boca de Deus, as muralhas de Jericó se tornaram ruínas. E isso significa que o pequeno setor da muralha onde ficava a casa de Raabe permaneceu de pé. Outra possibilidade é que a casa de Raabe ficava dentro da muralha ou próxima à muralha, de forma que permaneceu intacta enquanto as muralhas caíam ao redor de sua casa.
Gosto muito do resumo do verso 22:
Então, disse Josué aos dois homens que espiaram a terra: Entrai na casa da mulher prostituta e tirai-a de lá com tudo quanto tiver, como lhe jurastes.
Também lemos nos versos 23 a 25:
Então, entraram os jovens, os espias, e tiraram Raabe, e seu pai, e sua mãe, e seus irmãos, e tudo quanto tinha; tiraram também toda a sua parentela e os acamparam fora do arraial de Israel. Porém a cidade e tudo quanto havia nela, queimaram-no; tão-somente a prata, o ouro e os utensílios de bronze e de ferro deram para o tesouro da Casa do SENHOR. Mas Josué conservou com vida a prostituta Raabe, e a casa de seu pai, e tudo quanto tinha; e habitou no meio de Israel até ao dia de hoje, porquanto escondera os mensageiros que Josué enviara a espiar Jericó.
Essa cena se torna uma metáfora de julgamento e redenção. Todos os que não se entregam pessoalmente a Deus um dia serão julgados pelo fogo eterno.
A única que foi poupada foi Raabe, a meretriz. Ela tinha um cordão vermelho pendurado em sua janela; foi possível avistá-lo balançado pelo vento. O autor de Hebreus escreve:
Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias (Hebreus 11.31).
Sua fé em Deus lhe assegurou um lugar na eternidade; sua demonstração de fé lhe assegurou um lugar na história.
Nem todos nós podemos nos identificar com alguém como Abraão, mas todos podemos nos identificar com alguém como Raabe. Todos temos brincado de meretriz, adorando outros deuses, seguindo outros deuses, certamente o ídolo chefe de nosso próprio eu, pecando assim contra o Deus vivo e verdadeiro.
Até o dia de hoje, todos os que creem nele—não importa o seu passado—e colocam sua fé em Cristo somente—quando penduram seu cordão vermelho de esperança de redenção—são livrados do julgamento e Deus muda sua etiqueta. Por isso, o apóstolo Paulo pôde escrever às diversas igrejas no Novo Testamento, saudando os crentes ao chamá-los pela nova etiqueta: santos em Cristo Jesus. Então, vivam como santos!
Ao concluir sua declaração no verso 26, Tiago diz que os atos de fé de Abraão e Raabe são como o espírito para o corpo: o espírito de vida que concede fôlego ao ser humano. Essa é a fé dinâmica na vida do crente. Ela é o princípio que concede vida, conduzindo o crente a atitudes, sempre instigando-o a uma demonstração viva de fé no seu Deus vivo. Esta é a exortação de Tiago ao crente: se você crê, então viva!
Agora, gostaria de dar mais uma olhada no cenário do lado de fora da cidade de Jericó. Josué nos informa que Raabe e sua família foram colocados do lado de fora do acampamento onde eles estavam. Estavam todos reunidos, todas as crianças, sobrinhas, sobrinhos, avô, avó, suas malas, cobertores e travesseiros. Várias pessoas com lágrimas de alívio e tristeza ao verem sua cidade reduzida a cinzas.
Fico imaginando o que passou na mente de Raabe enquanto ela observava sua cidade e seu passado queimarem; sua profissão de fé a levaria a uma nova profissão na vida. Fico me perguntando se ela pensou, enquanto observava Jericó queimar: “Será que essas pessoas, esses israelitas com seus costumes estranhos, será que eles e o seu Deus realmente vão me receber e me aceitar? Será que o Deus dos céus e da terra me receberá como uma prosélita? Será que ele aceitará minha fé nele?” E como iria, e como iria.
Não demorou muito até que ela se tornou a conversa da nação, uma heroína pela fé dinâmica, salvando os espias e se convertendo ao Deus vivo e verdadeiro.
Ainda tem mais na sua biografia. Ela conhece e se casa com um judeu piedoso chamado Salmom—imagine só, ele escolheu Raabe, uma gentia convertida, para ser a sua esposa! Em breve eles tiveram um filho, a quem chamaram Boaz. Boaz cresceria e, acredite você ou não, também escolheria uma convertida gentia para ser a sua esposa—uma nova convertida chamada Rute.
Raabe a meretriz se tornaria a tataravó do rei Davi. Ela ainda apareceria de novo no capítulo 1 de Mateus, juntamente com sua nora Rute, na genealogia de Jesus Cristo. Como você vê, Jesus Cristo não somente veio para os pecadores, mas ele veio também de uma linhagem de pecadores!
Preste atenção: Jesus Cristo, o Deus-Homem, se encarnou com sangue correndo em suas veias, não somente sangue judeu, mas também havia traços de sangue gentio em suas veias. E ele escolheria uma noiva que inclui gentios. No caso de todos nós que cremos, quer judeu ou gentio, ele muda nossa etiqueta:
- de sem esperança para cheios de esperança;
- de perdidos para achados;
- de alguém com passado sujo para alguém com um futuro glorioso; e
- de pecador para santo.
Este manuscrito pertence a Stephen Davey, pregado no ano de 2010
© Copyright 2010 Stephen Davey
Todos os direitos reservados
添加評論